São Paulo, segunda-feira, 15 de setembro de 2008

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Bancos desistem de Lehman e tentam salvar Merrill Lynch

Grandes instituições fazem plano para restabelecer a confiança no sistema financeiro

Com a provável falência do Lehman Brothers, maiores bancos do mundo costuram a compra do Merrill Lynch pelo Bank of America

David Goldman - 13.set.08/Associated Press
Presidente do Merrill Lynch, John Thain, deixa reunião em NY

DA REPORTAGEM LOCAL

O Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA) reuniu os maiores bancos americanos e europeus durante todo o final de semana, em Nova York, para viabilizar o resgate do Lehman Brothers, o quarto maior banco de investimento dos EUA, e impedir a sua liquidação, que trará mais instabilidade ao conturbado mercado financeiro global.
Sem ajuda financeira do governo dos EUA e do Fed, os bancos teriam desistido do Lehman e partido para salvar o Merrill Lynch, outro banco tradicional de Wall Street, apontado como o próximo arriscado de insolvência na crise iniciada com as hipotecas "subprime" (segunda linha) nos EUA e que já abateu outras instituições, como o rival Bear Stearns.
Para isso, o Merrill Lynch deverá ser absorvido pelo Bank of America, o segundo maior banco americano, por pelo menos US$ 38,25 bilhões. Já a gigante dos seguros AIG, outra instituição em sérias dificuldades e com negócios espalhados pelo mundo, deve anunciar uma reestruturação para tentar manter as suas operações.
Na reunião, os bancos discutiram também um plano para restaurar a credibilidade do sistema financeiro. Os bancos planejam criar um colchão de US$ 50 bilhões para emprestar a financeiras em dificuldades.
O objetivo dos negociadores era conseguir um desfecho para a situação do Lehman antes da abertura dos mercados na Ásia de hoje (noite de ontem em Brasília). A tentativa foi dramática, uma corrida contra o tempo que envolveu dezenas de instituições e discussões frenéticas desde a noite da sexta-feira. Foi aventada a possibilidade de dividir as principais áreas de negócio do banco, com grandes instituições injetando dinheiro na parte ruim e a parte boa sendo negociada.
Com a dificuldade em costurar um acordo só entre os bancos privados, o Lehman parecia, até o fechamento desta edição, rumando para a falência.
O Lehman Brothers mantém negócios com os principais bancos do mundo e sua provável liquidação deverá causar prejuízos a todas essas instituições. O banco perdeu mais de 77% de seu valor de mercado apenas na semana passada. Apenas entre o início de março e o final de agosto deste ano, a instituição financeira perdeu US$ 6,7 bilhões.
Entre os participantes das reuniões ontem estavam o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, os presidentes-executivos do Morgan Stanley, John Mack, e do Citigroup, Vikram Pandit, e o presidente da divisão regional do Federal Reserve de Nova York, Timothy Geithner.
O primeiro a desistir do Lehman foi o banco britânico Barclays, que defendia um financiamento do governo, como aconteceu com o Bear Stearns, em que o JPMorgan contou, no final de março, com linha de crédito especial do banco central dos Estados Unidos.
Paulson exigia que a solução para o Lehman não implicasse na intervenção financeira do governo, que na semana passada teve que praticamente encampar a Fannie Mae e a Freddie Mac, empresas intermediadoras de títulos hipotecários.
Com a falta de acordo, alguns analistas previam mais um dia sangrento dos mercados globais. "O melhor dos cenários é que o Fed ofereça uma suspensão de 48 horas, dando suporte direto de liquidez ao Lehman, para ganhar tempo até que apareçam outras propostas. O pior caso é a falência", disse Sean Egan, presidente da Egan-Jones Ratings, empresa de rating.



Com agências internacionais



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