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Brasil inicia venda da melhor safra de vinho
Vinícolas preparam comercialização da produção de 2005; empresas prevêem melhora de imagem da bebida nacional
Brasileiros consomem 2 litros de vinho por ano, bem menos que os 32 litros dos argentinos e que os 24 litros dos uruguaios
MAURO ZAFALON
ENVIADO ESPECIAL A BENTO GONÇALVES
Começam a chegar ao mercado os vinhos da safra 2005, os
melhores já produzidos pelo
Brasil. O clima seco do ano passado, que se caracterizou como
um desastre para a agricultura
em geral, foi uma benção para a
produção de uvas.
No linguajar dos produtores,
"a amplitude térmica foi perfeita para produzir uvas sadias":
muito sol durante o dia e temperatura fria ou amena à noite.
A ocorrência desse clima garantiu a melhor safra de todos
os tempos, de acordo com
Adriano Miolo, enólogo e diretor da Vinícola Miolo. Segundo
ele, "essa é a melhor safra desde
que a Embrapa começou a avaliar o setor, há 30 anos".
"Vou sentir ciúmes de engarrafar e colocar no mercado o vinho que produzimos. Há 30
anos vinificando, nunca vi uma
safra como essa [a de 2005]."
A avaliação é de Ademir
Brandelli, enólogo da Don Laurindo, empresa que se prepara
para a colocação de vinhos da
safra passada no mercado.
A esperança das vinícolas é
que a chegada desse vinho de
melhor padrão obtido no ano
passado melhore também a
competitividade do produto
brasileiro e incentive mais o
consumo nacional.
As empresas já vêm comercializando alguns vinhos da safra de 2005 desde o primeiro
semestre, mas os que vão para o
mercado a partir de agora exigiram um período maior de envelhecimento.
Na avaliação de algumas vinícolas, o mercado de vinho fino
brasileiro está muito complicado neste momento. Existe uma
rejeição do produto brasileiro
por parte dos consumidores,
principalmente porque o vinho
nacional perde terreno para as
importações irregulares e o
câmbio desfavorável.
Qualidade uniforme
Antônio Salton, da Vinícola
Salton, diz que o mercado hoje
é altamente competitivo e exige qualidade, preço e atendimento. "É necessário descobrir
uma estratégia para enfrentar a
globalização." Segundo ele, a
qualidade é um dos caminhos.
Mauro Zanus, enólogo da
Embrapa Vinho e Uva, diz que
houve uma uniformização da
qualidade na safra passada,
dando ao vinho uma coloração
intensa, aroma de frutas mais
maduras e sabor equilibrado.
Na avaliação de enólogos, os
vinhos da safra 2005 que vão
chegar ao mercado nos próximos meses têm, ainda, maior
doçura, acidez equilibrada e
longa persistência de sabor.
Para Dirceu Scottá, enólogo
da Dal Pizzol, empresa que começará a colocar no mercado
seus vinhos finos no início de
2007, o consumidor quer produtos de qualidade.
A Vinícola Miolo também começa a colocar a linha de vinhos finos no mercado a partir
do início de 2007. Alguns, no
entanto, que precisam envelhecer mais, só chegarão às prateleiras a partir de 2009.
Esses vinhos que chegam ao
mercado "são mais concentrados e potentes. Além disso, têm
uma expressão aromática profunda e marcante", afirma o
enólogo da empresa.
Imagem melhorada
A chegada dos vinhos da safra
passada ao mercado seguramente vai ajudar a melhorar a
imagem e a qualidade do produto brasileiro, diz o enólogo
da Miolo. Para ele, os vinhos
produzidos no ano passado no
Brasil estão acima do patamar
dos de anos anteriores.
A Casa Valduga inicia os lançamentos já no próximo mês.
Esse primeiro lançamento inclui novas variedades de uvas
que começam a ser colhidas em
Encruzilhada do Sul (RS). Em
março do próximo ano, a empresa volta a fazer outros lançamentos, principalmente os da
linha cabernet.
O produto provém de uma
uva com plena maturação, taninos maduros e um teor de álcool natural de 13,9%, mais elevado do que o normal, que fica
entre 12% e 12,5%, diz Juciane
Casagrande, diretora comercial
da Casa Valduga.
Os principais canais de comercialização das vinícolas são
os representantes de vendas e
os escritórios regionais. Muitas
delas têm bom percentual de
comercialização nas vendas diretas, inclusive as pela internet.
Consumo nacional
Os brasileiros consomem 2
litros de vinho por ano, volume
bem distante dos 32 litros consumidos pelos argentinos e dos
24 litros dos uruguaios.
Mesmo assim, a produção
brasileira de vinhos finos ainda
está bem distante do baixo consumo do país. Até agosto, a comercialização de produto nacional foi de 12,7 milhões de litros no Rio Grande do Sul. Já as
importações somaram 28 milhões no período, conforme dados da Uvibra (União Brasileira
de Vitivinicultura) e da Secex.
Apesar do esforço das vinícolas em frear as crescentes importações, os dados deste ano
não são animadores para o setor. Os 28 milhões de litros importados nos oito primeiros
meses do ano registraram crescimento de 36% em relação ao
mesmo período de 2005.
Argentina e Chile se destacam no fornecimento de vinhos
ao Brasil. Os chilenos colocaram 9,6 milhões de litros neste
ano no mercado brasileiro, segundo dados da Secex, 45% a
mais do que em idêntico período do ano passado. Já os argentinos, com 7,5 milhões de litros,
aumentaram em 20% as exportações para o Brasil.
O jornalista MAURO ZAFALON viajou a
Bento Gonçalves a convite da Associação
Brasileira de Enologia
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