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Setor diz que maior temor é formação de estoque
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O maior perigo para o setor
da construção civil hoje é, na
avaliação de Paulo Safady, presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), que o medo da falta de material leve os empresários a estocar produtos. Segundo ele, algumas construtoras estão antecipando compras com receio de
não encontrar materiais quando chegar o momento do acabamento das obras.
"Isso é um risco porque pode
se tornar uma profecia auto-realizável. Não há risco de falta
de produtos. Temos folga na capacidade de produção."
Ele admite, no entanto, que o
cimento se tornou um problema sério, mas diz que a situação
é diferente e que a falta do produto em algumas cidades está
relacionada ao fato de o segmento estar recompondo lucros depois de um longo período de depressão nas vendas.
"Não vejo razão para faltar o
produto em cidades como Brasília, a não ser por uma estratégia de aumento de preço."
Segundo dados da própria indústria do cimento, a produção
no Distrito Federal, por exemplo, onde houve falta do produto, é mais de três vezes o consumo: 1,584 milhão de toneladas
produzidas entre janeiro e julho deste ano, ante o consumo
de 431 mil toneladas.
O excedente também ocorre
em Minas Gerais, outro Estado
que teria registrado problemas.
No mesmo período, foram produzidos 5,586 milhões de toneladas de cimento, para um consumo de 2,795 milhões.
"Estamos longe de um desabastecimento", diz Sarkis Nabi,
presidente da Comissão de Material de Construção, ligada à
CBIC. Para ele, os empresários
não terão espaço para reajustar
preços de forma significativa
porque os setores que mais demandam o produto são justamente os ligados à construção
de moradias mais populares.
"O país precisa de habitação
de interesse social, que tem limitações de preço. Se os materiais subirem de forma acelerada, todos vamos perder mercado", afirma Nabi.
Devido à falta de cimento em
algumas localidades, executivos das empresas e entidades
representativas do setor se reuniram há duas semanas em
Brasília. O encontro foi tenso e
quase terminou em briga. Segundo a Folha apurou, na reunião ficou claro que a guerra de
preços verificada em cidades
como Brasília e Belo Horizonte
desde 2004, na competição por
uma fatia maior do mercado,
derrubou o preço do cimento.
Já em outras localidades, onde a produção é praticamente
um monopólio, os preços não
caíram. Com a retomada do setor da construção, as empresas
redirecionaram a produção para esses mercados como forma
de recomporem seus lucros.
Com isso, o cimento produzido em Brasília e Belo Horizonte, vendido respectivamente a R$ 10,99 e a R$ 10,45 o saco de 50 kg, foi desviado para cidades da região Norte e Nordeste, onde o preço pode chegar a R$ 27, em Boa Vista (RR), ou a R$ 19, em São Luís (MA).
A expectativa de alta nas
vendas da indústria de cimento
era de 8% em 2007 -de janeiro
a setembro, o crescimento já
chegou a 13%. No entanto, Alexandre Chueri, superintendente da indústria Ciplan, diz que
há pelo menos seis fábricas que
estavam paradas e estão sendo
reativadas, reforçando o abastecimento. "Além disso, a chegada da chuva vai ajudar a equilibrar a demanda e a oferta porque, nesse período, a procura
por cimento cai", afirma.
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