São Paulo, segunda-feira, 15 de outubro de 2007

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Setor diz que maior temor é formação de estoque

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O maior perigo para o setor da construção civil hoje é, na avaliação de Paulo Safady, presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), que o medo da falta de material leve os empresários a estocar produtos. Segundo ele, algumas construtoras estão antecipando compras com receio de não encontrar materiais quando chegar o momento do acabamento das obras.
"Isso é um risco porque pode se tornar uma profecia auto-realizável. Não há risco de falta de produtos. Temos folga na capacidade de produção."
Ele admite, no entanto, que o cimento se tornou um problema sério, mas diz que a situação é diferente e que a falta do produto em algumas cidades está relacionada ao fato de o segmento estar recompondo lucros depois de um longo período de depressão nas vendas.
"Não vejo razão para faltar o produto em cidades como Brasília, a não ser por uma estratégia de aumento de preço."
Segundo dados da própria indústria do cimento, a produção no Distrito Federal, por exemplo, onde houve falta do produto, é mais de três vezes o consumo: 1,584 milhão de toneladas produzidas entre janeiro e julho deste ano, ante o consumo de 431 mil toneladas.
O excedente também ocorre em Minas Gerais, outro Estado que teria registrado problemas. No mesmo período, foram produzidos 5,586 milhões de toneladas de cimento, para um consumo de 2,795 milhões.
"Estamos longe de um desabastecimento", diz Sarkis Nabi, presidente da Comissão de Material de Construção, ligada à CBIC. Para ele, os empresários não terão espaço para reajustar preços de forma significativa porque os setores que mais demandam o produto são justamente os ligados à construção de moradias mais populares.
"O país precisa de habitação de interesse social, que tem limitações de preço. Se os materiais subirem de forma acelerada, todos vamos perder mercado", afirma Nabi.
Devido à falta de cimento em algumas localidades, executivos das empresas e entidades representativas do setor se reuniram há duas semanas em Brasília. O encontro foi tenso e quase terminou em briga. Segundo a Folha apurou, na reunião ficou claro que a guerra de preços verificada em cidades como Brasília e Belo Horizonte desde 2004, na competição por uma fatia maior do mercado, derrubou o preço do cimento.
Já em outras localidades, onde a produção é praticamente um monopólio, os preços não caíram. Com a retomada do setor da construção, as empresas redirecionaram a produção para esses mercados como forma de recomporem seus lucros.
Com isso, o cimento produzido em Brasília e Belo Horizonte, vendido respectivamente a R$ 10,99 e a R$ 10,45 o saco de 50 kg, foi desviado para cidades da região Norte e Nordeste, onde o preço pode chegar a R$ 27, em Boa Vista (RR), ou a R$ 19, em São Luís (MA).
A expectativa de alta nas vendas da indústria de cimento era de 8% em 2007 -de janeiro a setembro, o crescimento já chegou a 13%. No entanto, Alexandre Chueri, superintendente da indústria Ciplan, diz que há pelo menos seis fábricas que estavam paradas e estão sendo reativadas, reforçando o abastecimento. "Além disso, a chegada da chuva vai ajudar a equilibrar a demanda e a oferta porque, nesse período, a procura por cimento cai", afirma.


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