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Sem inovar, empresas tradicionais irão desaparecer, diz especialista
DA REPORTAGEM LOCAL
Professor da Michigan University, nos EUA, o indiano
Venkat Ramaswamy é considerado pela nata do empresariado
mundial o "guru da inovação".
Seu último livro, "O futuro da
competição", escrito em parceria com C.K. Prahalad, transformou-o em celebridade com
palestras agendadas até o fim
de 2008. No dia 24, ele estará
em São Paulo para uma palestra na Câmara Americana do
Comércio. Em entrevista por
telefone, ele explica como o
comportamento dos consumidores está mudando a competição empresarial.
FOLHA - Como as empresas podem
sobreviver no mundo da inovação?
VENKAT RAMASWAMY - Elas precisam interagir mais com os
consumidores para descobrir
como eles se relacionam com
os produtos e serviços. Com essas informações, terão de definir novamente sua estratégia
para atender a essa demanda
específica. Chamo esse processo de "co-criação". Ele é extremamente importante porque,
hoje, as mercadorias estão
"commoditizadas". Todos vendem carro, avião, motocicleta.
Mas só as companhias que
ofertarem experiências inusitadas atreladas a esses produtos de sempre terão sucesso.
FOLHA - Pode dar um exemplo?
RAMASWAMY - A Apple percebeu com antecedência como as
pessoas se relacionam com músicas e imagens nessa era digital. Daí, por meio do design,
criou um produto com interface que facilita essa atividade. O
novo jato da Boeing, o 787, foi
desenvolvido a partir da interação entre consumidores, projetistas e funcionários. A companhia criou na internet uma comunidade para que todos pudessem trocar informações.
FOLHA - A empresa pode inovar
sem investimento em tecnologia?
RAMASWAMY - A idéia da "co-criação" começou por causa da
internet, que deu ao consumidor um nível de informação
nunca antes vista. É fundamental que as corporações invistam
em tecnologia, mas a inovação
inicia dentro das empresas com
a mudança de mentalidade.
Eu passo horas em um avião
e ninguém da companhia me
pergunta sobre a minha experiência de vôo. Os comissários
só chegam, acomodam as coisas, servem refeições e pronto.
Eles têm a oportunidade de interação debaixo de seus narizes
e não focam nisso. Aí está uma
das chaves da inovação e ela
não exige tantos recursos.
FOLHA - O Brasil é inovador?
RAMASWAMY - A história da Casas Bahia é um exemplo de inovação. A companhia detectou
uma possibilidade de mercado,
investigou um modelo de negócio voltado ao crédito para classes de baixa renda e se deu bem.
Como a Índia ou a China, o Brasil possui muitos casos de empresas inovadoras, mas ainda
não é uma regra.
Há empresas buscando novos modelos de negócio, mas a
maior parte funciona de acordo
com o sistema tradicional, voltado para a linha de produtos
que, em geral, é decidida pela
cúpula da empresa sem a participação dos funcionários. Essas
empresas precisam entender
urgentemente que não há saída
sem inovação. Caso se recusem
a abrir os olhos para essa realidade, correrão o risco de desaparecer -extintas ou adquiridas por outras empresas.
FOLHA - Por que o senhor afirma
que países em desenvolvimento são
mais propícios à inovação?
RAMASWAMY - Embora a participação de empresas inovadoras em países em desenvolvimento ainda seja pequena, elas
têm um ponto favorável: não
sentem a pressão do modelo de
produção consagrado pelos desenvolvidos. Por isso, têm mais
chance de inovar. Em países como o Brasil, os investimentos
em telecomunicações estão revolucionando os serviços com o
acesso à internet. O impacto
disso é enorme, principalmente entre os jovens.
(JULIO WIZIACK)
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