São Paulo, segunda-feira, 15 de outubro de 2007

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Sem inovar, empresas tradicionais irão desaparecer, diz especialista

DA REPORTAGEM LOCAL

Professor da Michigan University, nos EUA, o indiano Venkat Ramaswamy é considerado pela nata do empresariado mundial o "guru da inovação".
Seu último livro, "O futuro da competição", escrito em parceria com C.K. Prahalad, transformou-o em celebridade com palestras agendadas até o fim de 2008. No dia 24, ele estará em São Paulo para uma palestra na Câmara Americana do Comércio. Em entrevista por telefone, ele explica como o comportamento dos consumidores está mudando a competição empresarial.  

FOLHA - Como as empresas podem sobreviver no mundo da inovação?
VENKAT RAMASWAMY
- Elas precisam interagir mais com os consumidores para descobrir como eles se relacionam com os produtos e serviços. Com essas informações, terão de definir novamente sua estratégia para atender a essa demanda específica. Chamo esse processo de "co-criação". Ele é extremamente importante porque, hoje, as mercadorias estão "commoditizadas". Todos vendem carro, avião, motocicleta. Mas só as companhias que ofertarem experiências inusitadas atreladas a esses produtos de sempre terão sucesso.

FOLHA - Pode dar um exemplo?
RAMASWAMY
- A Apple percebeu com antecedência como as pessoas se relacionam com músicas e imagens nessa era digital. Daí, por meio do design, criou um produto com interface que facilita essa atividade. O novo jato da Boeing, o 787, foi desenvolvido a partir da interação entre consumidores, projetistas e funcionários. A companhia criou na internet uma comunidade para que todos pudessem trocar informações.

FOLHA - A empresa pode inovar sem investimento em tecnologia?
RAMASWAMY
- A idéia da "co-criação" começou por causa da internet, que deu ao consumidor um nível de informação nunca antes vista. É fundamental que as corporações invistam em tecnologia, mas a inovação inicia dentro das empresas com a mudança de mentalidade.
Eu passo horas em um avião e ninguém da companhia me pergunta sobre a minha experiência de vôo. Os comissários só chegam, acomodam as coisas, servem refeições e pronto.
Eles têm a oportunidade de interação debaixo de seus narizes e não focam nisso. Aí está uma das chaves da inovação e ela não exige tantos recursos.

FOLHA - O Brasil é inovador?
RAMASWAMY
- A história da Casas Bahia é um exemplo de inovação. A companhia detectou uma possibilidade de mercado, investigou um modelo de negócio voltado ao crédito para classes de baixa renda e se deu bem. Como a Índia ou a China, o Brasil possui muitos casos de empresas inovadoras, mas ainda não é uma regra.
Há empresas buscando novos modelos de negócio, mas a maior parte funciona de acordo com o sistema tradicional, voltado para a linha de produtos que, em geral, é decidida pela cúpula da empresa sem a participação dos funcionários. Essas empresas precisam entender urgentemente que não há saída sem inovação. Caso se recusem a abrir os olhos para essa realidade, correrão o risco de desaparecer -extintas ou adquiridas por outras empresas.

FOLHA - Por que o senhor afirma que países em desenvolvimento são mais propícios à inovação?
RAMASWAMY
- Embora a participação de empresas inovadoras em países em desenvolvimento ainda seja pequena, elas têm um ponto favorável: não sentem a pressão do modelo de produção consagrado pelos desenvolvidos. Por isso, têm mais chance de inovar. Em países como o Brasil, os investimentos em telecomunicações estão revolucionando os serviços com o acesso à internet. O impacto disso é enorme, principalmente entre os jovens. (JULIO WIZIACK)


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