São Paulo, segunda-feira, 15 de outubro de 2007

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Bancos planejam criação de fundo para conter crise

Fundo teria dotação de US$ 75 bilhões, com verba do setor privado; Tesouro dos EUA tem participado das discussões

Recursos comprarão ativos lastreados em hipotecas que têm se desvalorizado; objetivo é evitar que bancos tenham prejuízos maiores

DA REDAÇÃO

Alguns dos maiores bancos do mundo planejam a criação de um fundo de cerca de US$ 75 bilhões para comprar títulos hipotecários e outros ativos, em tentativa de evitar que a crise financeira contagie o restante da economia. A informação é dos jornais norte-americanos "The New York Times" e "The Wall Street Journal".
Entre esses bancos estão o Citigroup, maior instituição financeira do mundo, o Bank of America e o JP Morgan Chase, além de diversos outros. A criação do fundo pode ser anunciada ainda nesta semana.
Representantes dessas instituições têm se reunido nas últimas semanas para discutir a criação desse fundo, o que evitaria a venda em massa de títulos em poder de divisões de investimento desses próprios bancos. Essa venda em cadeia tem provocado a desvalorização dos ativos e, portanto, prejuízo de bilhões de dólares a instituições financeiras.
Os encontros entre bancos têm contado com a colaboração de representantes do Tesouro norte-americano, que trabalha para evitar que a crise financeira leve a maior economia do planeta a uma recessão.
À frente da secretaria do Tesouro há pouco mais de um ano está Henry Paulson, egresso de Wall Street, onde comandava o Goldman Sachs desde 1999.
Mas, segundo se comenta, embora participe das discussões, o Tesouro não entraria com recursos no fundo, o que caberia ao setor privado.
As perdas bilionárias reportadas pelos maiores bancos do mundo nas últimas semanas, por conta de ativos reavaliados para baixo, na esteira da crise no segmento imobiliário dos EUA, podem levá-los a retrair a oferta de crédito a empresas e consumidores, o que fatalmente afetaria a economia real.
Bancos de outros países podem participar. Segundo o "Wall Street Journal", a agência reguladora do mercado de capitais do Reino Unido, a FSA (Financial Services Authority), já sugeriu a participação de bancos locais no fundo.
Os esforços para a criação do fundo começaram há cerca de três semanas, segundo o "New York Times", quando o secretário do Tesouro do governo de George W. Bush, Paulson, convocou reunião em Washington com executivos de alto escalão de grandes bancos. O objetivo era encontrar soluções para o fato de derivativos e títulos lastreados em hipotecas não encontrarem mais compradores.
Nos dias seguintes, dois homens de confiança de Paulson no Tesouro se encarregaram de liderar encontros na capital norte-americana, em Nova York e em conferências telefônicas: Robert Steel, ex-executivo do Goldman Sachs e hoje subsecretário para finanças domésticas, e Anthony Ryan, atual secretário-assistente para mercados financeiros.

História se repete
Esta não é a primeira vez que grandes instituições se reúnem para discutir meios de evitar uma crise mais grave. Em 1998, bancos norte-americanos tiveram que montar uma operação de resgate de US$ 3,5 bilhões para evitar a falência de um "hedge fund", o Long-Term Capital Management, ou LTCM. Na ocasião, a intervenção dos bancos foi coordenada pelo Fed (o BC dos EUA), então presidido por Alan Greenspan.
A operação, no entanto, foi contestada por analistas e até investigada pelo Congresso norte-americano, que questionou a necessidade de bancos que têm seus depósitos garantidos pelo governo federal emprestarem dinheiro para fundos de alto risco especularem.


Com agências de notícias

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