|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Sinais de recessão esfriam euforia nos EUA
Após alta recorde na segunda, Bolsa de NY fecha em queda de 0,8% com dados ruins de empresas como Pepsi e Microsoft
Apesar de socorro a bancos, crédito segue represado; Paulson diz que deixar empresas e consumidor sem crédito é "inaceitável"
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
A euforia de segunda-feira
em Wall Street foi substituída
ontem pelo realismo de números que mostram queda nos ganhos de empresas, anúncios de
demissões e expectativa de
uma recessão cada vez maior
nos Estados Unidos.
Depois da maior alta desde os
anos 1930 anteontem, de 11%, o
mercado teve um dia de forte
volatilidade ontem, com investidores olhando para além das
medidas de cerca de US$ 2 trilhões para socorrer bancos.
Os três principais índices da
Bolsa de Nova York abriram em
alta, subiram e caíram com força, mas acabaram fechando em
queda. O Dow Jones perdeu
0,82%, e o Nasdaq, 3,54%. A Bovespa acompanhou o ritmo,
mas, no fim do dia, se recuperou e fechou em alta de 1,81%.
Embora o Tesouro dos EUA
já tenha detalhado boa parte do
plano de US$ 250 bilhões de
compra de participações em
nove grandes bancos e de um
grupo de pequenas instituições, o mercado de crédito nos
EUA continua travado.
Há cada vez mais relatos de
clientes de bancos tendo limites de cartões de crédito cortados ou sendo obrigados a ampliar os pagamentos mínimos
mensais no crédito rotativo.
Além dos bancos, as famílias
americanas carregam hoje um
endividamento recorde, de
quase US$ 20 trilhões, o equivalente a cerca de 140% do PIB.
O mercado de "commercial
papers", em que são negociados
títulos que financiam o dia-a-dia das empresas, também continua operando, em alguns dias,
com ofertas até 20% menores
de dinheiro e cobrando juros
ainda muito elevados.
A ponto de o secretário do
Tesouro, Henry Paulson, ter
exortado, em um discurso duro, os bancos beneficiados pela
injeção de dinheiro a ampliar a
oferta de crédito no mercado.
"Nossa economia não precisa
que os bancos peguem esse novo capital para acumular, mas
para colocar imediatamente no
mercado. A idéia de deixar empresas e consumidores sem
crédito é totalmente inaceitável. Quando o crédito não está
acessível, empresas e consumidores cortam seus gastos, o que
leva ao corte de empregos e fechamento de empresas."
É exatamente isso o que está
acontecendo com cada vez
mais freqüência nos EUA. As
ações de algumas empresas diretamente ligadas ao consumo
caíram ontem diante do temor
cada vez maior de uma recessão
A Pepsico, fabricante da Pepsi-Cola, anunciou a demissão
de 3.300 funcionários como
parte de um plano para economizar US$ 1,2 bilhão em três
anos. Suas ações caíram 12% e
foram acompanhadas das da
Coca-Cola (-7,5%) e por outras
empresas do ramo. A General
Motors anunciou o fechamento de uma fábrica de picapes e a
dispensa de 1.200 funcionários.
Também lideraram as baixas
empresas como a Microsoft.
Outras, de varejo, como Target,
Eagle Outffiters, GAP e Saks já
anunciaram queda nas vendas.
O varejo já prevê contratações
menores para o final do ano.
As quedas na Bolsa afetaram
ontem a maioria das empresas
do setor não-financeiro. Já as
ações de bancos voltaram a subir, ainda com os reflexos do
pacote de ajuda.
Ecoando os comentários de
Paulson, o presidente do Fed (o
BC dos EUA), Ben Bernanke,
disse acreditar "fortemente"
que as medidas adotadas, "mais
a resistência da economia americana", serão suficientes "para
restaurar a confiança".
Até agora, pesquisas mostram o contrário. Levantamento do "USA Today"/Gallup feito
entre sexta e domingo revelou
que 73% dos americanos consideram "pobre" o atual estado
da economia e que dois terços
já foram afetados pela crise.
O economista Nouriel Roubini, que previu a crise financeira de 2006, afirmou ontem à
Bloomberg que os EUA passarão pela pior recessão em 40
anos, com uma duração de 24
meses. "As pessoas ficaram surpresas com a severidade das
perdas", disse.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Ajuda prevê ganho ao Tesouro se banco lucrar Índice
|