São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 2008

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Sinais de recessão esfriam euforia nos EUA

Após alta recorde na segunda, Bolsa de NY fecha em queda de 0,8% com dados ruins de empresas como Pepsi e Microsoft

Apesar de socorro a bancos, crédito segue represado; Paulson diz que deixar empresas e consumidor sem crédito é "inaceitável"

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

A euforia de segunda-feira em Wall Street foi substituída ontem pelo realismo de números que mostram queda nos ganhos de empresas, anúncios de demissões e expectativa de uma recessão cada vez maior nos Estados Unidos.
Depois da maior alta desde os anos 1930 anteontem, de 11%, o mercado teve um dia de forte volatilidade ontem, com investidores olhando para além das medidas de cerca de US$ 2 trilhões para socorrer bancos.
Os três principais índices da Bolsa de Nova York abriram em alta, subiram e caíram com força, mas acabaram fechando em queda. O Dow Jones perdeu 0,82%, e o Nasdaq, 3,54%. A Bovespa acompanhou o ritmo, mas, no fim do dia, se recuperou e fechou em alta de 1,81%.
Embora o Tesouro dos EUA já tenha detalhado boa parte do plano de US$ 250 bilhões de compra de participações em nove grandes bancos e de um grupo de pequenas instituições, o mercado de crédito nos EUA continua travado.
Há cada vez mais relatos de clientes de bancos tendo limites de cartões de crédito cortados ou sendo obrigados a ampliar os pagamentos mínimos mensais no crédito rotativo.
Além dos bancos, as famílias americanas carregam hoje um endividamento recorde, de quase US$ 20 trilhões, o equivalente a cerca de 140% do PIB.
O mercado de "commercial papers", em que são negociados títulos que financiam o dia-a-dia das empresas, também continua operando, em alguns dias, com ofertas até 20% menores de dinheiro e cobrando juros ainda muito elevados.
A ponto de o secretário do Tesouro, Henry Paulson, ter exortado, em um discurso duro, os bancos beneficiados pela injeção de dinheiro a ampliar a oferta de crédito no mercado.
"Nossa economia não precisa que os bancos peguem esse novo capital para acumular, mas para colocar imediatamente no mercado. A idéia de deixar empresas e consumidores sem crédito é totalmente inaceitável. Quando o crédito não está acessível, empresas e consumidores cortam seus gastos, o que leva ao corte de empregos e fechamento de empresas."
É exatamente isso o que está acontecendo com cada vez mais freqüência nos EUA. As ações de algumas empresas diretamente ligadas ao consumo caíram ontem diante do temor cada vez maior de uma recessão
A Pepsico, fabricante da Pepsi-Cola, anunciou a demissão de 3.300 funcionários como parte de um plano para economizar US$ 1,2 bilhão em três anos. Suas ações caíram 12% e foram acompanhadas das da Coca-Cola (-7,5%) e por outras empresas do ramo. A General Motors anunciou o fechamento de uma fábrica de picapes e a dispensa de 1.200 funcionários.
Também lideraram as baixas empresas como a Microsoft. Outras, de varejo, como Target, Eagle Outffiters, GAP e Saks já anunciaram queda nas vendas. O varejo já prevê contratações menores para o final do ano.
As quedas na Bolsa afetaram ontem a maioria das empresas do setor não-financeiro. Já as ações de bancos voltaram a subir, ainda com os reflexos do pacote de ajuda.
Ecoando os comentários de Paulson, o presidente do Fed (o BC dos EUA), Ben Bernanke, disse acreditar "fortemente" que as medidas adotadas, "mais a resistência da economia americana", serão suficientes "para restaurar a confiança".
Até agora, pesquisas mostram o contrário. Levantamento do "USA Today"/Gallup feito entre sexta e domingo revelou que 73% dos americanos consideram "pobre" o atual estado da economia e que dois terços já foram afetados pela crise.
O economista Nouriel Roubini, que previu a crise financeira de 2006, afirmou ontem à Bloomberg que os EUA passarão pela pior recessão em 40 anos, com uma duração de 24 meses. "As pessoas ficaram surpresas com a severidade das perdas", disse.


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