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EUA levarão até 7 anos para "devolver" bancos
Esse é o prazo máximo estimado por economistas para que a iniciativa privada compre ações agora adquiridas pelo governo
Por causa da possível maioria democrata no Congresso, vitória de Obama tornará mais suave transição na crise, apontam analistas
FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
O governo dos Estados Unidos levará de três a sete anos
para devolver à iniciativa privada as ações que comprará agora
de bancos e instituições financeiras, segundo avaliação de
analistas do próprio mercado.
"Se for muito sortudo, em
três anos consegue vender esses ativos. Mas eu diria que o
prazo mesmo pode chegar a sete anos", diz Ken Goldstein,
economista do Conference
Board, uma organização independente na área de economia
com sede em Nova York.
O programa anunciado ontem pelo governo dos EUA é
para adquirir ações nos bancos
como forma de equilibrar essas
instituições e recobrar a confiança para o mercado. Serão
usados US$ 250 bilhões. "O
processo é longo. A base de tudo é estabilizar o mercado de financiamento imobiliário. Ciclos passados mostram que cinco anos é um tempo razoável
para que as coisas voltem ao
normal", afirma Maury Harris,
economista chefe do banco suíço UBS em Nova York.
David Resler, economista
chefe da japonesa Nomura Securities, disse acreditar que o
prazo mínimo é de três anos,
"mas pode passar de cinco".
"O plano anunciado determina que o prazo para o governo
reter as ações que comprar agora seja de, no mínimo, três
anos. Apenas em condições excepcionais os bancos poderiam
adquirir esses papéis de volta
antes, basicamente se tivessem
recursos próprios para fazer a
operação", explica Resler.
Os três economistas concederam ontem à tarde uma entrevista coletiva em Nova York,
na sede do Centro de Imprensa
Estrangeira, mantido pelo governo dos EUA. Apesar de
acharem que o prazo para a saída do Estado do sistema financeiro se estenderá por três a sete anos, eles não acreditam numa imediata escalada de estatização ou regulação excessiva.
"É claro que teremos mais
transparência nas operações,
sobretudo nos chamados derivativos. Os gerentes desses fundos estarão mais obrigados a
explicar para seus clientes o
que são esses instrumentos",
diz Goldstein.
Derivativos são contratos
montados para garantir uma
determinada operação de investimento. Um banco concede
um empréstimo imobiliário e
revende papéis baseado nos lucros -ou perdas- que possa vir
a ter. O problema é que esses
mecanismos foram nos últimos
anos feitos de modo obscuro e
arriscado, com base em preços
de imóveis elevados artificialmente, por exemplo.
"Estamos diante de um divisor de águas e as pessoas se
lembrarão disso por muito,
muito tempo. Essa memória
obrigará os investidores a terem um comportamento menos arriscado, o que terá o mesmo efeito de novas regras", afirma o economista Maury Harris, do UBS.
Os três analistas também disseram que uma eventual vitória
do democrata Barack Obama
para presidente pode tornar a
transição durante a crise financeira mais suave. "O Congresso
tenderá a ser de maioria democrata e ele terá mais facilidade
para, se for necessário, aprovar
alguma medida complementar
ao plano de salvamento do setor financeiro", diz Resler.
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