São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 2008

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EUA levarão até 7 anos para "devolver" bancos

Esse é o prazo máximo estimado por economistas para que a iniciativa privada compre ações agora adquiridas pelo governo

Por causa da possível maioria democrata no Congresso, vitória de Obama tornará mais suave transição na crise, apontam analistas

FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

O governo dos Estados Unidos levará de três a sete anos para devolver à iniciativa privada as ações que comprará agora de bancos e instituições financeiras, segundo avaliação de analistas do próprio mercado.
"Se for muito sortudo, em três anos consegue vender esses ativos. Mas eu diria que o prazo mesmo pode chegar a sete anos", diz Ken Goldstein, economista do Conference Board, uma organização independente na área de economia com sede em Nova York.
O programa anunciado ontem pelo governo dos EUA é para adquirir ações nos bancos como forma de equilibrar essas instituições e recobrar a confiança para o mercado. Serão usados US$ 250 bilhões. "O processo é longo. A base de tudo é estabilizar o mercado de financiamento imobiliário. Ciclos passados mostram que cinco anos é um tempo razoável para que as coisas voltem ao normal", afirma Maury Harris, economista chefe do banco suíço UBS em Nova York.
David Resler, economista chefe da japonesa Nomura Securities, disse acreditar que o prazo mínimo é de três anos, "mas pode passar de cinco".
"O plano anunciado determina que o prazo para o governo reter as ações que comprar agora seja de, no mínimo, três anos. Apenas em condições excepcionais os bancos poderiam adquirir esses papéis de volta antes, basicamente se tivessem recursos próprios para fazer a operação", explica Resler.
Os três economistas concederam ontem à tarde uma entrevista coletiva em Nova York, na sede do Centro de Imprensa Estrangeira, mantido pelo governo dos EUA. Apesar de acharem que o prazo para a saída do Estado do sistema financeiro se estenderá por três a sete anos, eles não acreditam numa imediata escalada de estatização ou regulação excessiva.
"É claro que teremos mais transparência nas operações, sobretudo nos chamados derivativos. Os gerentes desses fundos estarão mais obrigados a explicar para seus clientes o que são esses instrumentos", diz Goldstein.
Derivativos são contratos montados para garantir uma determinada operação de investimento. Um banco concede um empréstimo imobiliário e revende papéis baseado nos lucros -ou perdas- que possa vir a ter. O problema é que esses mecanismos foram nos últimos anos feitos de modo obscuro e arriscado, com base em preços de imóveis elevados artificialmente, por exemplo.
"Estamos diante de um divisor de águas e as pessoas se lembrarão disso por muito, muito tempo. Essa memória obrigará os investidores a terem um comportamento menos arriscado, o que terá o mesmo efeito de novas regras", afirma o economista Maury Harris, do UBS.
Os três analistas também disseram que uma eventual vitória do democrata Barack Obama para presidente pode tornar a transição durante a crise financeira mais suave. "O Congresso tenderá a ser de maioria democrata e ele terá mais facilidade para, se for necessário, aprovar alguma medida complementar ao plano de salvamento do setor financeiro", diz Resler.


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