São Paulo, quarta-feira, 15 de outubro de 2008

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Juros entre bancos recuam na Europa; investidor teme risco de calote argentino

DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI

Enquanto o cenário catástrofe não se materializa na economia real, os mercados de ações se mantiveram em território positivo na Europa, com exceção da Islândia, em estado falimentar, cuja Bolsa caiu ontem espetaculares 76%.
Nas demais Bolsas importantes, os resultados foram essencialmente os de dias normais, sem o espetáculo das últimas semanas: ganhos de algo menos de 3% em cada uma, exceto Londres, que subiu 3,23%.
Mas mais importante que os números da Bolsa é o Euribor, a taxa em euros que os bancos cobram para empréstimos entre eles. Mede a confiança no setor financeiro, que havia se evaporado completamente antes dos pacotes da semana passada e desta. Por isso, o Euribor chegara a patamares recordes, mas recuou nos dois últimos dias. Pouco, mas recuou: foi ontem de 5,425% para 5,358%.
Posto de outra forma: não há entre os bancos a euforia que houve na Bolsa. Tanto não há que Jean-Claude Juncker, presidente do Eurogrupo, formado pelos governantes dos países que usam o euro, diz que "não há nenhuma razão para crer no fim da crise financeira".
Com a dupla experiência de quem já esteve na ponta de emprestador de recursos -como presidente do Banco Central e agora dono de banco de investimentos-, Armínio Fraga concorda: "A desconfiança foi muito longe, não vejo os bancos se animando muito tão cedo".

Desânimo
Aliás, os investidores estão é desanimando em relação a alguns países emergentes, antes vistos como a salvação do planeta, informa o jornal britânico "Financial Times", influenciados pelo derretimento da Islândia, que não é emergente, mas também nunca entrou na lista dos ricos: o risco de calote para países como Paquistão, Ucrânia e Argentina, além da Islândia, passa de 80% aos olhos dos investidores.
Aí é que mora o perigo para o Brasil, onde a Bolsa também moderou sua subida e fechou com alta de 1,81%: num mundo em transe, qualquer abalo na vizinhança afeta duramente todos os países próximos.
Talvez por isso o respeitado Iedi (Instituto de Estudos de Desenvolvimento Industrial) afirma em seu mais recente boletim: "Diante de um quadro como esse, tudo o que foi construído pelo Brasil nos últimos anos em termos de constituição de reservas internacionais e fortalecimento de instituições financeiras pode se revelar pouco para enfrentar a crise. Medidas talvez muito mais graves e de alcance muito maior tenham de ser adotadas".
Reforça José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator: "A crise de crédito cria o risco -nada desprezível- de a desaceleração não seguir o rumo de uma trajetória suave. Falta de capital de giro faz a economia bater na parede em vez de apenas desacelerar". (CR)



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