São Paulo, sexta-feira, 15 de novembro de 2002

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SECA INTERNACIONAL

Nos primeiros 15 dias de outubro, os recursos superavam em US$ 125 mi o financiamento de setembro

Crédito para exportação retorna, mas em conta-gotas

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

O estoque de linhas de crédito internacionais para o país encolheu US$ 6,3 bilhões desde junho do ano passado, pico dos financiamentos externos, até o dia 15 de outubro, último dado disponível no Banco Central.
Os primeiros dias de outubro, porém, trouxeram sinais de alívio para a secura de crédito. Até o dia 15 daquele mês os recursos disponíveis superavam em US$ 125 milhões o total de financiamentos de setembro.
O dinheiro para financiar exportadores, importadores e outros tomadores internos de recursos andou tão curto que desde o final de agosto o BC colocou US$ 1,48 bilhão de suas reservas para financiar a exportação e mais US$ 2,8 bilhões nos chamados leilões de linha, para suprir os bancos locais de moeda estrangeira.
Segundo Emílio Garófalo, ex-diretor da área externa do BC, as linhas de crédito internacional diminuíram muito neste ano, mas não faltaria dinheiro para financiar o comércio exterior se parte dos recursos não fosse desviada para outros fins.
Segundo operadores do mercado, é prática corrente empresas obterem financiamentos à exportação e usarem o dinheiro para aplicar no mercado financeiro local, ganhando com a diferença entre as taxas de juro.
A operação é simples: o "exportador" obtém a linha de crédito em um banco local, por meio de uma operação de ACC (Antecipação de Contrato de Câmbio).
O banco repassa ao exportador recursos que capta no exterior a uma taxa que, há dois meses, estava em torno de 5% ao ano. "Esses contratos têm de estar vinculados a um pedido firme de um importador ou a um projeto de exportação, o banco é responsável pelos seus clientes", diz Garófalo.
O crédito é concedido em reais e aplicado em operações no mercado financeiro local que oferecem taxas superiores às cobradas nas linhas de comércio exterior.
Nos últimos meses, segundo analistas ouvidos pela Folha, as operações de swap (proteção) cambial ou de cupom cambial eram as mais procuradas por serem as mais lucrativas. No auge da crise cambial, o cupom chegou a 50% ao ano. Segundo esses analistas, trata-se de uma operação lucrativa, mas de alto risco, devido à volatilidade do mercado.
José Maria Carvalho, diretor do departamento de capitais estrangeiros e câmbio do BC, explica que a empresa que antecipa receitas de exportação, mediante um ACC, tem até 540 dias para embarcar as mercadorias.
"Nesse período, ela pode aplicar o dinheiro levantado junto ao banco como quiser; isso é legal. Mas, se não houver o embarque, o contrato de câmbio é cancelado e o exportador terá de pagar ao BC a taxa de juros Selic sobre o total do financiamento contratado", diz ele. Além disso, terá de reembolsar o banco em dólar e mais as taxas contratadas.
Carvalho afirma que o BC acompanha contrato a contrato de exportação, bem como o embarque das mercadorias. Isso vale para todas as operações acima de US$ 10 mil, segundo ele.

Oxigênio
Em outubro, as linha de comércio exterior começaram a receber um pouco de oxigênio. "Houve um leve aumento nas linhas de financiamento à exportação", diz Fernando Honorato Barbosa, economista do BBV Banco.
Segundo ele, "os prazos de financiamento também esticaram um pouco, antes das eleições as linhas estavam muito curtas, com vencimentos até dezembro".
Mas há poucos negócios sendo fechados, pois as taxas estão muito altas, segundo Garófalo. "A volta das linhas externas depende de uma negociação com os bancos internacionais para reduzir as taxas de juros e da garantia de destinação dos recursos para o financiamento ao comércio exterior, sem desvios", diz Garófalo.


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