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São Paulo, sábado, 15 de novembro de 2003

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GRADUALISMO PETISTA

Líderes manifestam desapontamento ao ministro José Dirceu

Empresário pede ousadia ao governo

8.jul.03 - Alan Marques/Folha Imagem
Armando Monteiro, presidente da CNI, que critica o governo


EDITOR DO PAINEL S.A.

O encanto dos empresários com o governo Lula tem mostrado sinais claros de desgaste nas últimas semanas. As críticas ouvidas ontem pelo ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, à política econômica, no encontro realizado no Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), têm sido frequentes em conversas entre os empresários.
Eles se queixam essencialmente da falta de ousadia do governo no que se refere principalmente à condução da política monetária. "O governo está dando muito mais tempo para uma política monetária ortodoxa [juros altos] do que todos esperavam", diz o consultor Antoninho Marmo Trevisan, amigo e eleitor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva há quase duas décadas.
Para Trevisan, como a política monetária é sempre muito eficaz, parece que tem o poder de resolver todos os problemas. "Com isso, as autoridades ganham um poder absurdo, quase mágico."
Trevisan acha que há um desequilíbrio no governo. O poder, a seu ver, está muito concentrado na Fazenda. "É preciso dar mais voz para aqueles que estão ocupando as áreas de desenvolvimento econômico e social."
A insatisfação dos empresários não está localizada apenas no fato de o governo estar mantendo o conservadorismo na política monetária. Em conversas fechadas, eles têm manifestado certo desapontamento pelo fato de o governo não os estar ouvindo como no início do mandato.
A Folha apurou, por exemplo, que, desde que fez críticas ao governo pela proposta de reforma tributária, há cerca de dois meses, o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Horacio Lafer Piva, não falou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem era interlocutor frequente.
Outro líder empresarial que também tem criticado a posição do governo na condução da reforma tributária é o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro. "O governo está se mostrando intransigente e inflexível na questão tributária." As maiores críticas de Monteiro são dirigidas ao que ele chamou de "núcleo duro da Receita Federal", que, segundo ele, não levou em consideração seus argumentos ao definir a Cofins.
Monteiro acha também que falta coordenação e liderança dentro do governo na elaboração de uma proposta de política industrial. Há vários grupos no governo tratando do mesmo tema e os empresários não tomaram conhecimento da proposta.
Todas essas preocupações têm se tornado bastante frequentes nas reuniões do Iedi, do qual fazem parte, entre outros, os empresários Ivoncy Ioschpe, Paulo Cunha, Eugênio Staub e Josué Gomes da Silva, filho do vice-presidente da República, José Alencar.
Trevisan compara o atual momento do país ao que ocorreu na década de 80, quando foi inventado o processo de "reengenharia", um novo modelo adotado pelas empresas para aumentar a lucratividade.
"As empresas cortaram tanto naquele período que quebraram. Elas perderam a capacidade de criar e de gerar novos produtos", diz ele. "O Brasil corre esse risco."
(GUILHERME BARROS)


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