São Paulo, quarta-feira, 15 de novembro de 2006

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ANÁLISE

Medidas poderiam ter saído há mais tempo

Boa parte do pacote sugerido a Lula sempre fez parte de receituário prescrito por especialistas de dentro e fora do governo

Falta de consenso no Planalto sobre desoneração e apoio político insuficiente estão entre as razões que têm impedido as mudanças


VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pelo conteúdo do pacote de medidas entregue a Luiz Inácio Lula da Silva, visando viabilizar crescimento da economia de 5% do PIB, a pergunta que se faz é: por que o presidente não fez a encomenda à equipe econômica há mais tempo?
A princípio, são medidas necessárias, como corte de impostos e melhoria da gestão do gasto público, mas nenhuma é totalmente nova. Fazem parte de um receituário há muito prescrito por economistas de dentro e de fora do governo.
Fica a sensação de que o governo Lula perdeu tempo durante seu primeiro mandato, deixando escapar a oportunidade de fazer o país crescer a taxas mais alentadoras.
A desculpa oficial dos governistas é conhecida -o país não cresceu mais porque Lula recebeu um governo quebrado e foi preciso recuperá-lo. Discurso apenas em parte verdadeiro.
Se o pacote apresentado a Lula está correto em sua essência, boa parte das medidas poderia ter sido colocada em prática antes. Mas não foi porque faltou uma série de coisas.
Faltou consenso dentro do governo sobre a desoneração de impostos. Faltou gerenciamento para tocar obras que ficaram empacadas. Faltou apoio político no Congresso para um governo que viveu os dois últimos anos em crise.
Além disso, em vez de ajustes, Lula trilhou outra direção, ao afrouxar o controle dos gastos públicos em busca da reeleição. Foi generoso nas altas do salário mínimo, da remuneração do funcionalismo e do Bolsa Família. Subiu os gastos com despesas permanentes e não colheu o prometido crescimento de 4% do PIB neste ano. A taxa não deve passar de 3%.
Agora, Lula corre contra o tempo. Deseja anunciar as medidas até o final deste ano, antes mesmo do início do segundo mandato. Sinaliza, com isso, que deve manter sua equipe econômica atual.
Na reunião de ontem, estavam os ministros Guido Mantega (Fazenda), Paulo Bernardo (Planejamento), o secretário-executivo de Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, além de Dilma Rousseff (Casa Civil).
Exceto a última, todos os demais não eram vistos como nomes certos no segundo mandato logo após Lula ganhar a eleição. Hoje, porém, pouca gente aposta na saída de algum deles.
Afinal, não faria muito sentido pedir à atual equipe um plano que não seria tocado por ela. Certo? Praticamente sim. Nunca é bom lembrar, no entanto, como dito acima, que são medidas hoje quase que consensuais. A dúvida fica na dose. Daí que um outro ministro poderia muito bem herdá-las.


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