São Paulo, quarta-feira, 15 de novembro de 2006

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PF faz operação contra doleiro em SP

Doze escritórios e residências relacionados à "offshore" Agata foram alvo de ação de busca e apreensão pela polícia

Empresa é acusada de ter recebido remessas ilegais de US$ 600 milhões, segundo informações reunidas pela CPI do Banestado


MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Polícia Federal realizou ontem uma operação de busca e apreensão em 12 escritórios e residências de São Paulo e Barueri que têm algum tipo de relação com a "offshore" (empresa sediada no exterior) Agata International Holdings e com Roger Clement Haber, acusado de operar como doleiro. O alvo das operações são remessas ilegais feitas por empresários.
Numa das empresas supostamente ligadas a Haber, a Romipar Participações, localizada num prédio de escritórios de alto nível no Itaim Bibi (zona sul de São Paulo), a PF apreendeu R$ 210 mil em dinheiro vivo.

Passaporte apreendido
O passaporte de Clement Haber também foi apreendido -ele não pode deixar o Brasil enquanto não terminar o processo criminal contra ele. A polícia temia sua fuga do país.
A Agata, uma "offshore" criada nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal no Caribe, é acusada de ter recebido remessas ilegais de US$ 600 milhões, segundo dados reunidos pela CPI do Banestado. A "offshore", tipo de empresa em que é virtualmente impossível descobrir quem são seus controladores, tinha uma conta no MTB Bank de Nova York, depois comprado pelo Hudson United Bank.
A Agata ganhou notoriedade por causa de políticos, empresários e publicitários famosos que teriam usado os doleiros que controlam essa "offshore" para fazer remessas para fora do Brasil. A lista inclui a Casas Bahia, o ex-prefeito Paulo Maluf e os publicitários Duda Mendonça e João Santana, marqueteiros, respectivamente, das campanhas de eleição (2002) e reeleição (2006) do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A Casas Bahia, maior rede de varejo eletrônico do país, é acusada de ter remetido US$ 1,06 milhão para um conta no banco italiano Ambrosiano Veneto por meio da Agata. O valor teria sido creditado inicialmente na conta da Agata no MTB Bank e de lá transferido para a Itália. A Casas Bahia nega que a remessa tenha sido feita.
O marqueteiro João Santana, que comandou a campanha de reeleição de Lula neste ano, é acusado de ter recebido US$ 528,8 mil fora do Brasil entre 1999 e 2000 por meio da conta da Agata. Policias acreditam que ele possa ter recebido esses valores da campanha do argentino Eduardo Duhalde. Um assessor de Santana disse ontem que ele estava em Buenos Aires e não poderia ser localizado. Segundo o assessor, o marqueteiro não tem conta no exterior.
Duda Mendonça, que fez a campanha presidencial de Lula em 2002, também é acusado de ter recebido ao menos US$ 668,2 mil pela Agata. Ele nega.
Maluf é acusado de ter usado a Agata em duas situações. Numa delas, teria transferido US$ 1,5 milhão para Duda Mendonça, em 1997. O dinheiro teria saído de "offshore" aberta na Inglaterra pela família Maluf, a Durant Internacional. Em agosto de 2005, o doleiro Vivaldo Alves contou ao Ministério Público Estadual que transferiu US$ 200.030,00 da conta Chanani, atribuída a Maluf, para a Agata, em 16 de dezembro de 1998. Maluf nega as acusações. A conta da Agata no MTB foi aberta por Myriam Haber e Roger Clement Haber em junho de 1996. Eles forneceram um endereço na rua Pedroso Alvarenga, no Itaim Bibi. Os Haber não foram localizados pela reportagem.


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