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EUA apóiam nova regulação mundial
Na reunião do G20, hoje, país deve apoiar regras para supervisionar grandes instituições financeiras
Bush afirmou que a crise financeira não surgiu da noite para a dia, mas que será resolvida, com "cooperação constante e determinação"
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
O governo dos Estados Unidos vai apoiar, na cúpula do
G20, a criação de um grupo para supervisionar as atividades
das maiores instituições financeiras do mundo e para eventualmente rediscutir e ampliar
seus níveis de regulamentação.
Ao lado da promessa conjunta dos países-membros, de reforçar medidas de estímulo fiscal em cada economia individualmente, esse deve ser o
principal ponto acordado pelos
chefes de Estado na reunião do
G20, em Washington.
Comunicado a ser emitido na
tarde de hoje não trará nada
bombástico ou definitivo. Deve
apresentar apenas as concordâncias gerais. Os detalhes do
que for acertado devem ser discutidos depois, por ao menos
cinco diferentes grupos de trabalho a serem criados.
Os grupos devem discutir assuntos como uma possível nova
regulamentação para o mercado financeiro internacional; a
coordenação de medidas fiscais
conjuntas; mecanismos para
garantir linhas de crédito para
o comércio exterior dos países
em desenvolvimento; e a institucionalização de reuniões periódicas do G20 para monitorar
a crise.
Uma das ambições do encontro é também ressuscitar, até o
final do ano, a chamada Rodada
Doha, de liberalização do comércio mundial. O tema empacou com as resistências de UE e
EUA em reduzirem subsídios
no setor agrícola e, no caso dos
emergentes, em abrir mais seus
mercados à importação e à
atuação estrangeira nas áreas
financeira e de serviços.
Ontem à noite, o presidente
dos EUA, George W. Bush, recebeu em "jantar de trabalho"
na Casa Branca os líderes do
G20, além dos chefes de instituições multilaterais como o
FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial.
O jantar, que parou o centro
de Washington e levou mais de
300 limusines para a região da
Casa Branca, foi o pontapé inicial do encontro do G20, que
deve acabar por volta das 15h30
de hoje (18h30 em Brasília).
Durante o brinde no jantar, o
presidente norte-americano
afirmou que "o problema [no
sistema financeiro internacional] não foi criado da noite para
o dia e não será resolvido da
noite para o dia. Mas, com cooperação constante e determinação, ele será resolvido".
Uma das idéias é que os grupos de trabalho já apresentem
propostas mais fechadas em cada área logo no início de 2009.
É possível que os líderes concordem hoje em realizar um
novo encontro para discutir essas recomendações no Reino
Unido, que assumirá a presidência rotativa do G20 no ano
que vem, no lugar do Brasil.
Em entrevista ontem, o ministro Guido Mantega (Fazenda) afirmou que medidas como
as perseguidas pelo G20 não
são tomadas "da noite para o
dia". "Mas também não podemos sair daqui com as mãos
abanando, pois há uma grande
expectativa de que haja decisões. Se não tomarmos medidas rápidas, o risco não é de recessão, mas de depressão."
O ponto mais espinhoso entre as discussões deve ser o da
nova regulamentação para o setor financeiro internacional, e
qual a posição dos EUA em relação ao assunto.
Nesse sentido, a Casa Branca
fez questão ontem de antecipar
para a imprensa o teor do discurso (semanal) que Bush fará
hoje pela manhã no rádio.
"Ao discutirmos a atual crise,
precisamos fazer reformas
abrangentes para adaptar nosso sistema financeiro ao século
21. Durante a cúpula, trabalharei com outros líderes para estabelecer os princípios dessas
reformas. Elas devem tornar os
mercados mais transparentes e
regular mais efetivamente seus
produtos financeiros", diria
Bush no pronunciamento.
Em entrevista ontem, a porta-voz da Casa Branca, Dana
Perino, também adiantou que
os EUA "apóiam a idéia" da
criação de um "colegiado de supervisores" para rediscutir e
eventualmente averiguar a
aplicação de uma nova regulamentação dos mercados em níveis mais amplos.
Em comunicado, o FMI e o
Fórum para a Estabilidade Financeira ressaltaram que os
dois organismos devem "participar ativamente" na criação de
uma eventual nova regulação.
Os EUA também vêm se
mostrando muito propensos a
criar um sistema de "câmara de
compensação", como já existe
em outros países (no Brasil, caso da BM&F), para limitar os
riscos e padronizar operações
em mercados de derivativos e
outras operações consideradas
hoje como "exóticas". A falta de
controle desses mercados está
na raiz da atual crise financeira.
Embora Bush vá deixar a Casa Branca em 20 de janeiro, os
membros do G20 acreditam
que seu sucessor, Barack Obama, tenderá a ser até menos
avesso que o atual presidente a
eventuais medidas que possam
minimizar o risco de descontroles no mercado e que possam vir a gestar uma nova crise.
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