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AL se endividou para financiar indústria
da Reportagem Local
O endividamento externo generalizado da América Latina ocorreu na década de 70. Foi quando
esses países tentaram alcançar um
processo avançado de industrialização, endividando-se para superar a restrição do financiamento.
"Em 1979, os Estados Unidos jogaram a taxa de juros a um nível
estratosférico, quebrando todos os
países devedores", diz Cano. O Japão e a Alemanha foram obrigados
a financiar o déficit comercial e o
déficit público norte-americanos.
Com o dólar hipervalorizado, os
Estados Unidos compraram equipamentos, tecnologia, alimentos e
reestruturaram a sua produção.
"De 1980 a 1985, todos se beneficiaram e aumentaram suas exportações", diz Cano. Na segunda metade dos anos 80, fluxos pesadíssimos de capital saíram do Japão e
da Ásia em direção à Europa e aos
Estados Unidos, ampliando a bola
de neve do sistema financeiro.
"Os americanos pregaram a liberalização comercial, a desregulamentação dos fluxos de capital, a
liberação do sistema financeiro, a
ruptura dos monopólios públicos,
a privatização e a flexibilização das
relações capital-trabalho", diz.
"Os Estados Unidos abriram um
pouco as portas para o Brasil exportar. E deram o receituário draconiano: corte da demanda interna, dos gastos públicos e dos investimentos privados, taxas de juros e
câmbio no céu. Com a demanda
interna comprimida, com excedentes de bens e serviços exportáveis, câmbio valorizado, nós tivemos superávits gigantescos", diz.
"A partir de 1985 e 1987, os Estados Unidos consideraram que estavam pagando a conta, com um
déficit gigantesco, e anunciaram a
decisão de desvalorizar o dólar".
A valorização do iene abalou a
competitividade do Japão, raiz da
crise japonesa atual.
"Nós ficamos exportando, gerando superávits, realimentando o
processo inflacionário", diz. Entre
1979 e 1989, a América Latina mandou para fora US$ 250 bilhões.
"A sangria foi absurda, pela saída
líquida de recursos e pelo endividamento. Como a maioria desses
países havia estatizado parte da dívida externa, para não quebrar o
setor privado, o ônus passou para
o Estado. E seus orçamentos ficaram altamente comprometidos
com uma dose cavalar de juros",
diz Cano .
(FV)
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