São Paulo, domingo, 15 de novembro de 1998

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AL se endividou para financiar indústria

da Reportagem Local

O endividamento externo generalizado da América Latina ocorreu na década de 70. Foi quando esses países tentaram alcançar um processo avançado de industrialização, endividando-se para superar a restrição do financiamento.
"Em 1979, os Estados Unidos jogaram a taxa de juros a um nível estratosférico, quebrando todos os países devedores", diz Cano. O Japão e a Alemanha foram obrigados a financiar o déficit comercial e o déficit público norte-americanos.
Com o dólar hipervalorizado, os Estados Unidos compraram equipamentos, tecnologia, alimentos e reestruturaram a sua produção.
"De 1980 a 1985, todos se beneficiaram e aumentaram suas exportações", diz Cano. Na segunda metade dos anos 80, fluxos pesadíssimos de capital saíram do Japão e da Ásia em direção à Europa e aos Estados Unidos, ampliando a bola de neve do sistema financeiro.
"Os americanos pregaram a liberalização comercial, a desregulamentação dos fluxos de capital, a liberação do sistema financeiro, a ruptura dos monopólios públicos, a privatização e a flexibilização das relações capital-trabalho", diz.
"Os Estados Unidos abriram um pouco as portas para o Brasil exportar. E deram o receituário draconiano: corte da demanda interna, dos gastos públicos e dos investimentos privados, taxas de juros e câmbio no céu. Com a demanda interna comprimida, com excedentes de bens e serviços exportáveis, câmbio valorizado, nós tivemos superávits gigantescos", diz.
"A partir de 1985 e 1987, os Estados Unidos consideraram que estavam pagando a conta, com um déficit gigantesco, e anunciaram a decisão de desvalorizar o dólar".
A valorização do iene abalou a competitividade do Japão, raiz da crise japonesa atual.
"Nós ficamos exportando, gerando superávits, realimentando o processo inflacionário", diz. Entre 1979 e 1989, a América Latina mandou para fora US$ 250 bilhões.
"A sangria foi absurda, pela saída líquida de recursos e pelo endividamento. Como a maioria desses países havia estatizado parte da dívida externa, para não quebrar o setor privado, o ônus passou para o Estado. E seus orçamentos ficaram altamente comprometidos com uma dose cavalar de juros", diz Cano . (FV)



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