São Paulo, sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

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Auto-suficiência em petróleo fica para 2007

Petrobras diz que marca foi atingida em outubro, mas meta de obter média anual acima do consumo só virá em fevereiro


Nível de auto-suficiência terá atraso de dois meses e só virá com a produção de 1,850 milhão de barris por dia na média de 12 meses

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, reconheceu que a meta de atingir a auto-suficiência sustentável na produção de petróleo sofreu atraso de dois meses. Só a partir de fevereiro do próximo ano é que tal marca será alcançada, diz o executivo.
Ao analisar o comportamento dos preços do petróleo, Gabrielli afirmou que eles "tendem a uma estabilidade até 2010", o que terá reflexo no custo da gasolina no país. "Como os preços da gasolina seguem os preços do petróleo no longo prazo, a tendência é de estabilidade." Hoje, a cotação do óleo está na faixa de US$ 60 o barril, depois de encostar nos US$ 70 neste ano.
Apesar de representar vantagem comparativa num momento de preços altos, a "auto-suficiência sustentável" ainda não é uma realidade no país. Virá apenas em fevereiro, quando a produção ficar em 1,850 milhão de barris/dia na média de 12 meses, segundo Gabrielli.
Tal volume médio de produção de óleo bruto é maior do que o consumo médio de derivados do país ao longo de um ano. Em abril deste ano, quando lançou ao mar a plataforma P-50, a estatal prometera bater tal marca neste ano, o que não acontecerá.
Pontualmente, o Brasil já obteve a auto-suficiência em outubro deste ano, quando, pela primeira vez, a produção cobriu toda a demanda por combustíveis. Naquele mês, alcançou 1,821 milhão de barris diários, volume superior ao consumo de combustíveis (1,8 milhão de barris/dia).
Acontece que é necessário ter uma folga para garantir a auto-suficiência, pois sempre ocorrem paradas de plataformas para manutenção ou causadas por problemas técnicos.
Bandeira usada na campanha do presidente Lula, a auto-suficiência foi anunciada pela Petrobras em abril deste ano. A estatal investiu R$ 37 milhões numa campanha publicitária veiculada na mídia ao longo de quase três meses.
Gabrielli disse que a P-50 teve problemas para expandir sua produção rapidamente, o que acarretou atraso na meta de auto-suficiência. Inaugurada em abril, a unidade, mesmo antes de atingir seu pico de produção (180 mil barris/dia), foi batizada de "plataforma da auto-suficiência".
Segundo Giuseppe Bacoccoli, pesquisador da Coppe (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia) da UFRJ, os atrasos no início de produção das plataformas e a demora das unidades em atingir seu pico de produção decorrem do fato de a Petrobras ter optado por fazer apenas encomendas a estaleiros nacionais.
"Do ponto de vista da geração de empregos e riqueza no país, foi uma decisão acertada, mas tem esse ônus de aumentar o custo das plataformas e de a indústria nacional não conseguir cumprir os prazos por conta da falta de capacidade", disse.
Além disso, diz o especialista, o mundo vive um momento de forte aquecimento do setor de bens e serviços da indústria petrolífera, puxado pelos altos preços do petróleo.
Tal fenômeno, avalia, também provoca demora na entrega das plataformas, já que leva a uma escassez de determinados equipamentos.
Bacoccoli criticou, porém, a posição da Petrobras de anunciar a auto-suficiência com base "apenas numa previsão". "Sem dúvida, a campanha teve um objetivo eleitoral. A notícia foi dada não em cima de um fato, mas sim baseada numa estimativa", disse.
"Claramente, houve o uso político da companhia. Quando foi anunciada, a auto-suficiência não existia", disse Adriano Pires, especialista do CBIE.

Investimentos
Segundo Gabrielli, a empresa tem em caixa R$ 47 bilhões para novos projetos em 2007.
Os recursos irão para as quatro novas plataformas previstas para 2007, com capacidade para a produção de 480 mil barris por dia. Também serão destinados a 4.700 km de novos gasodutos e à renovação da frota de navios, com a construção prevista de 26 petroleiros.


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