São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

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Pessoa física ajuda a segurar a Bovespa

Enquanto estrangeiros fogem do mercado acionário local, investidor individual compra ações e evita quedas maiores

Em novembro, saldo com capital externo foi negativo em R$ 1,15 bi; pessoa física registra balanço positivo de R$ 572,4 milhões no mês

DA REPORTAGEM LOCAL

O aumento da participação do investidor de varejo tem sido fundamental para evitar uma queda ainda mais expressiva da Bolsa de Valores. Isso porque, com o agravamento da crise internacional, os investidores estrangeiros, que costumam ser a categoria que mais negocia na Bovespa, fugiram do mercado acionário local.
As operações dos investidores individuais no mês passado na Bolsa tiveram saldo positivo de R$ 572,4 milhões -ou seja, mais compraram que venderam ações nesse montante.
Desde junho, os investidores estrangeiros têm mais vendido que adquirido ações brasileiras. No mês passado, o saldo das operações dos estrangeiros ficou negativo em R$ 1,15 bilhão.
"A pessoa física tem ajudado a segurar a Bolsa, que tem visto uma saída muito grande de investimento estrangeiro", diz Mauro Calil, professor e educador financeiro.
Os estrangeiros tiraram R$ 26 bilhões da Bolsa em 2008 -o pior ano nessa categoria.
"Há tempos os profissionais vêm falando que Bolsa é investimento de longo prazo. E o investidor brasileiro demonstra que começa a compreender isso. Ao longo do tempo, as pessoas vêm melhorando sua percepção em relação ao mercado acionário", diz William Eid Júnior, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da FGV (Fundação Getulio Vargas).
Além do aumento de investidores nas aplicações diretas na Bolsa, os fundos de ações se destacam como uma das poucas categorias que captaram recursos em 2008.
Em meio a um dos piores anos já enfrentados pela indústria de fundos brasileira, a captação líquida (diferença entre aplicações e resgates) dos fundos de ações está positiva em R$ 5,65 bilhões no ano. Para aplicar em um fundo, o investidor procura normalmente um banco ou uma gestora e realiza a aplicação. O fundo é uma comunhão de recursos de diferentes investidores usada para comprar ativos, como as ações.
Já os investidores individuais cadastrados na Bolsa são aqueles que aplicam diretamente nas ações. Uma forma que tem se tornado muito comum para comprar ações diretamente é o "home broker" -sistema de negociação de ações pela internet. Quase 169 mil investidores operaram via "home broker" em novembro.
Os clubes de investimento também têm se mantido ativos mesmo durante a crise. Em novembro, surgiram 33 novos clubes, sendo 774 o número de novos registros em 2008. Há atualmente 2.765 clubes de investimento com registro na Bolsa, com patrimônio de R$ 8,44 bilhões e 149 mil cotistas.
Os clubes de investimento são formados por um grupo de pessoas físicas, com o objetivo de agrupar recursos para investir no mercado de ações. A administração costuma ser feita por uma instituição financeira (corretora ou banco) autorizada a operar no mercado.

Mais investidores
O crescimento do interesse da pessoa física pela Bolsa apenas se acelerou nos últimos anos. De sua parte, a Bolsa de Valores de São Paulo tem feito diversos trabalhos na tentativa de popularizar o mercado acionário. Em 2002, iniciou o seu programa de popularização e passou a levar palestras para empresas, clubes e mesmo à praia.
Na onda dos IPOs (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) que houve nos últimos anos, as pessoas também passaram a estar atentas aos papéis estreantes em pregão. No ano passado, houve recorde com a estréia de 64 novas companhias na Bolsa.
Apenas no IPO da BM&F, realizado em novembro de 2007, houve a participação de 253,7 mil pessoas físicas. No IPO da Bovespa, foram 63,9 mil investidores individuais que participaram.
"A Bolsa é para o longo prazo, para se formar uma poupança para o futuro", diz Calil.
Neste momento, ninguém prevê quando a Bolsa vai retomar seus melhores momentos. O pico do Ibovespa foram os 73.516 pontos registrados em 20 de maio. Na sexta-feira, a Bolsa fechou a 39.373 pontos.
(FABRICIO VIEIRA)

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