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São Paulo, quinta-feira, 16 de janeiro de 2003

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MERCADO TENSO

Declarações do presidente do STF contra a reforma da Previdência ajudam a azedar humor dos investidores

Dólar tem a maior alta desde novembro

GEORGIA CARAPETKOV
DA REPORTAGEM LOCAL

As incertezas com a reforma da Previdência Social e o resultado negativo dos mercados internacionais fizeram com que o dólar fechasse em alta de 2,2%, cotado a R$ 3,33. Foi a maior valorização percentual da moeda desde 12 de novembro.
O C-Bond, principal título da dívida externa brasileira, se desvalorizou em 1,83% e elevou o risco-país para 1.265 pontos, alta de 3,51% em relação ao fechamento anterior.
As declarações do ministro Marco Aurélio de Mello, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), dadas ao jornal "O Estado de S. Paulo" foram mal recebidas pelo mercado. Segundo ele, as mudanças no sistema previdenciário serão barradas no STF se retirarem "direitos adquiridos" dos servidores públicos.
Além disso, a notícia de que as aposentadorias dos militares e dos integrantes do Poder Judiciário poderão fazer parte de um regime especial trouxe para alguns a perspectiva de que a medida abra precedente para que outros segmentos da sociedade também peçam o mesmo direito.
"Essa foi a justificativa que o mercado precisava para ajustar o preço do dólar em relação às quedas dos últimos dias", disse Helio Osaki, analista da Finambras.
"A defesa de princípios, a defesa dos direitos adquiridos e a defesa da segurança jurídica não podem ser distorcidas visando a custa inconsequente do lucro", disse Marco Aurélio de Mello sobre os efeitos de suas críticas à proposta de reforma previdenciária do governo Lula no mercado.
Para João Medeiros, diretor da corretora Pioneer, os conflitos internacionais também ajudam a piorar o cenário interno.
"Esses fatores, mais a iminência de uma guerra contra o Iraque, fizeram com que alguns bancos passassem a comprar dólares, acreditando que o preço atual está baixo", afirmou.
Segundo analistas a moeda norte-americana, que acumulava até anteontem queda de 8,1% no mês, vinha caindo em razão das captações externas feitas por empresas e bancos e também devido ao otimismo do mercado com o novo governo.
"Mas somente esses movimentos não são suficientes. Não estamos vendo agora uma corrida pelo dólar, mas enquanto não forem anunciadas medidas concretas o mercado permanecerá defensivo", afirmou Osaki.
Adicionalmente, o anúncio de que a Argentina não pagou ontem uma dívida de US$ 681 milhões com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) ajudou para que o mercado não encontrasse um motivo para que a alta do dólar fosse menor.

Bolsa
Na Bolsa de Valores de São Paulo, o dia também foi negativo. O Ibovespa operou em baixa durante todo o pregão e fechou com desvalorização de 1,67%, em 11.971 pontos. O volume total negociado foi de R$ 652,6 milhões.
Além dos motivos que fizeram o dólar subir, a queda das Bolsas internacionais também contribuiu para que as ações da Bovespa sofressem desvalorização.
"O Brasil não mudou de 2002 para 2003 nem de ontem para hoje. O mercado caiu [dólar em alta e Bolsa em baixa" porque está mais aquecido por expectativas do que por fatos", disse Gustavo Alcântara, do banco Prosper.


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