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Saldo comercial da indústria cai em 2006
Apesar do superávit recorde na balança comercial, o saldo do setor baixou de US$ 30,9 bi em 2005 para US$ 29,5 bi
Câmbio valorizado segura resultado da balança industrial e setores de alta tecnologia são os mais afetados, diz estudo do Iedi
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
Depois de quatro anos consecutivos de crescimento, o superávit comercial da indústria
caiu em relação ao ano passado.
O número baixou de US$ 30,9
bilhões em 2005 para US$ 29,5
bilhões em 2006, apesar de o
superávit comercial total do
país ter crescido de US$ 44,8
bilhões para US$ 46,1 bilhões,
recorde histórico.
O pior resultado da indústria
se concentrou nos setores de
alta e média-alta tecnologia. No
segmento de alta tecnologia, o
déficit comercial cresceu de
US$ 8,4 bilhões em 2005 para
US$ 11,8 bilhões no ano passado. Já no de média-alta tecnologia, o setor voltou a registrar
déficit, de US$ 1 bilhão, depois
de ter alcançado um superávit
de US$ 365 milhões em 2005.
Os dados constam de estudo
do Iedi (Instituto de Estudos
para o Desenvolvimento Industrial) sobre o desempenho
da balança comercial da indústria no ano passado. Para Edgard Pereira, economista do
instituto, esses números indicam o começo do fim do
"boom" exportador do país.
De 1997 a 2001, a balança comercial da indústria registrou
déficits em todos os anos. A virada ocorreu em 2002, quando
o setor registrou um superávit
de US$ 6,9 bilhões. Em 2003, o
saldo mais do que dobrou, saltando para US$ 16,6 bilhões.
Até que, em 2005, atingiu o recorde de US$ 30,9 bilhões.
O resultado de 2006 indica
que, neste ano, a tendência é de
um superávit ainda menor. Nos
grandes exportadores, como
China e Coréia do Sul, não
ocorreu soluços como esses. Os
ganhos foram permanentes.
Segundo Edgard Pereira, essa queda de crescimento do superávit da indústria se deve basicamente à valorização do
câmbio, que favorece os importados e tira a competitividade
das exportações.
O câmbio começou 2006 a
R$ 2,3 por dólar e caiu para R$
2,1. O mais preocupante, de
acordo com o trabalho do Iedi,
é a taxa de câmbio real efetiva,
que vem caindo desde 2004.
O Iedi chama a atenção para
o fato de o Brasil poder estar vivendo agora o mesmo dilema
do início da sua industrialização, quando o país não tinha
acesso aos setores mais dinâmicos tecnologicamente. O
comportamento atual da balança comercial da indústria indica que começa a ocorrer o
mesmo processo.
No ano passado, as exportações de bens de alta e média-alta tecnologia cresceram 6,8% e
12,1%, respectivamente, mas isso não basta. Segundo o Iedi, as
exportações têm de crescer a
ponto de melhorar o resultado
comercial.
De acordo com o trabalho do
Iedi, os cinco segmentos de alta
tecnologia (indústria aeroespacial e aeronáutica; farmacêutica; áudio e vídeo, telecomunicações e componentes eletrônicos; informática e escritório;
e instrumentos de precisão e
médico-hospitalares) aumentaram suas exportações, mas o
déficit cresceu. A exceção foi a
indústria aeronáutica.
Destaca-se o resultado principalmente do segmento de áudio e vídeo, telecomunicações e
componentes, que registrou
um déficit de US$ 5,3 bilhões,
uma alta de 36,8% em relação
ao saldo negativo de 2005.
Diante desses resultados, Pereira diz que a indústria se sente desestimulada a realizar novos investimentos, já que, em
razão do câmbio, não consegue
competir com o resto do mundo, principalmente nos setores
de mais alta tecnologia. "Essas
preocupações deveriam estar
na agenda do governo", disse.
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