São Paulo, terça-feira, 16 de janeiro de 2007

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Saldo comercial da indústria cai em 2006

Apesar do superávit recorde na balança comercial, o saldo do setor baixou de US$ 30,9 bi em 2005 para US$ 29,5 bi

Câmbio valorizado segura resultado da balança industrial e setores de alta tecnologia são os mais afetados, diz estudo do Iedi

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

Depois de quatro anos consecutivos de crescimento, o superávit comercial da indústria caiu em relação ao ano passado. O número baixou de US$ 30,9 bilhões em 2005 para US$ 29,5 bilhões em 2006, apesar de o superávit comercial total do país ter crescido de US$ 44,8 bilhões para US$ 46,1 bilhões, recorde histórico.
O pior resultado da indústria se concentrou nos setores de alta e média-alta tecnologia. No segmento de alta tecnologia, o déficit comercial cresceu de US$ 8,4 bilhões em 2005 para US$ 11,8 bilhões no ano passado. Já no de média-alta tecnologia, o setor voltou a registrar déficit, de US$ 1 bilhão, depois de ter alcançado um superávit de US$ 365 milhões em 2005.
Os dados constam de estudo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) sobre o desempenho da balança comercial da indústria no ano passado. Para Edgard Pereira, economista do instituto, esses números indicam o começo do fim do "boom" exportador do país.
De 1997 a 2001, a balança comercial da indústria registrou déficits em todos os anos. A virada ocorreu em 2002, quando o setor registrou um superávit de US$ 6,9 bilhões. Em 2003, o saldo mais do que dobrou, saltando para US$ 16,6 bilhões. Até que, em 2005, atingiu o recorde de US$ 30,9 bilhões.
O resultado de 2006 indica que, neste ano, a tendência é de um superávit ainda menor. Nos grandes exportadores, como China e Coréia do Sul, não ocorreu soluços como esses. Os ganhos foram permanentes.
Segundo Edgard Pereira, essa queda de crescimento do superávit da indústria se deve basicamente à valorização do câmbio, que favorece os importados e tira a competitividade das exportações.
O câmbio começou 2006 a R$ 2,3 por dólar e caiu para R$ 2,1. O mais preocupante, de acordo com o trabalho do Iedi, é a taxa de câmbio real efetiva, que vem caindo desde 2004.
O Iedi chama a atenção para o fato de o Brasil poder estar vivendo agora o mesmo dilema do início da sua industrialização, quando o país não tinha acesso aos setores mais dinâmicos tecnologicamente. O comportamento atual da balança comercial da indústria indica que começa a ocorrer o mesmo processo.
No ano passado, as exportações de bens de alta e média-alta tecnologia cresceram 6,8% e 12,1%, respectivamente, mas isso não basta. Segundo o Iedi, as exportações têm de crescer a ponto de melhorar o resultado comercial.
De acordo com o trabalho do Iedi, os cinco segmentos de alta tecnologia (indústria aeroespacial e aeronáutica; farmacêutica; áudio e vídeo, telecomunicações e componentes eletrônicos; informática e escritório; e instrumentos de precisão e médico-hospitalares) aumentaram suas exportações, mas o déficit cresceu. A exceção foi a indústria aeronáutica.
Destaca-se o resultado principalmente do segmento de áudio e vídeo, telecomunicações e componentes, que registrou um déficit de US$ 5,3 bilhões, uma alta de 36,8% em relação ao saldo negativo de 2005.
Diante desses resultados, Pereira diz que a indústria se sente desestimulada a realizar novos investimentos, já que, em razão do câmbio, não consegue competir com o resto do mundo, principalmente nos setores de mais alta tecnologia. "Essas preocupações deveriam estar na agenda do governo", disse.


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