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Venezuela passa EUA em saldo comercial com Brasil
Vizinho comprou US$ 5,15 bi e só vendeu US$ 538 mi em 2008
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A MARACAIBO (VENEZUELA)
No ano em que a balança comercial brasileira teve o pior
resultado desde 2002, a Venezuela ultrapassou os EUA e se
tornou o país responsável pelo
maior superávit bilateral, com
18% do saldo comercial de
2008. O grande desequilíbrio
nas relações bilaterais, o bom
relacionamento diplomático,
os altos preços do petróleo e a
incapacidade da produção venezuelana de atender à crescente demanda interna explicam o resultado.
A Venezuela adquiriu US$
5,15 bilhões do Brasil no ano
passado, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento.
Com apenas 28 milhões de habitantes, é o sexto maior comprador, ficando atrás apenas
dos EUA, da China, da Argentina, da Alemanha e do Japão.
(Formalmente, a Holanda aparece com o principal importador de produtos brasileiros,
mas quase todo o volume é redistribuído pela Europa.)
O maior aumento ocorreu no
setor de alimentos, com produtos como frango, carne bovina e
leite em pó, que a Venezuela é
obrigada a importar por causa
de sua agropecuária deficiente.
Por outro lado, houve uma retração de 40% na venda de automóveis feitos no Brasil.
"O superávit mostra a importância crescente da Venezuela
em termos de comércio e de geração de emprego", disse à Folha o embaixador brasileiro em
Caracas, Antonio Simões.
O mercado venezuelano representou 2,6% do total das exportações brasileiras em 2008,
bem menos do que os R$ 46,4
bilhões enviados aos EUA
(14,7% do total). Mas o que faz o
país de Chávez importante para o superávit brasileiro é a assimetria: o Brasil comprou apenas US$ 538,5 milhões do país
caribenho, 0,31% do total importado em 2008.
Com uma economia centrada no petróleo e amarrada ao
mercado dos EUA (apesar dos
esforços de diversificação do
governo Hugo Chávez), a Venezuela tem pouco a oferecer ao
mercado brasileiro. Embora as
exportações tenham crescido
55,8% em 2008, são menores
do que há dez anos, quando
venderam US$ 974 milhões.
Para José Augusto de Castro,
vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do
Brasil), as crescentes exportações à Venezuela- 749% entre
2003 e 2008- se devem principalmente à concessão de financiamentos para vendas ao país
de Chávez. O esquema, segundo ele, serve como uma proteção às empresas brasileiras
contra os constantes atrasos no
pagamento.
"Até 2008, quando o petróleo
ainda estava nas alturas, a Venezuela era avaliada do ponto
de vista econômico e também
político-ideológico. Isso fez
com que o Brasil abrisse muitos
créditos à Venezuela", disse
Castro. "Talvez neste ano, com
a queda do preço do petróleo, a
Venezuela diminua as compras
por conta da diminuição do volume de crédito. Mas aí também pode ter uma manutenção
política para que os créditos se
mantenham." De acordo com
ele, a queda brusca do preço do
petróleo traz o risco de frear as
vendas ao país. No ano passado,
o superávit brasileiro caiu
38,2% em relação a 2007, quando foi de US$ 40 bilhões.
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