São Paulo, sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

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Venezuela passa EUA em saldo comercial com Brasil

Vizinho comprou US$ 5,15 bi e só vendeu US$ 538 mi em 2008

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A MARACAIBO (VENEZUELA)

No ano em que a balança comercial brasileira teve o pior resultado desde 2002, a Venezuela ultrapassou os EUA e se tornou o país responsável pelo maior superávit bilateral, com 18% do saldo comercial de 2008. O grande desequilíbrio nas relações bilaterais, o bom relacionamento diplomático, os altos preços do petróleo e a incapacidade da produção venezuelana de atender à crescente demanda interna explicam o resultado.
A Venezuela adquiriu US$ 5,15 bilhões do Brasil no ano passado, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento.
Com apenas 28 milhões de habitantes, é o sexto maior comprador, ficando atrás apenas dos EUA, da China, da Argentina, da Alemanha e do Japão.
(Formalmente, a Holanda aparece com o principal importador de produtos brasileiros, mas quase todo o volume é redistribuído pela Europa.)
O maior aumento ocorreu no setor de alimentos, com produtos como frango, carne bovina e leite em pó, que a Venezuela é obrigada a importar por causa de sua agropecuária deficiente.
Por outro lado, houve uma retração de 40% na venda de automóveis feitos no Brasil.
"O superávit mostra a importância crescente da Venezuela em termos de comércio e de geração de emprego", disse à Folha o embaixador brasileiro em Caracas, Antonio Simões.
O mercado venezuelano representou 2,6% do total das exportações brasileiras em 2008, bem menos do que os R$ 46,4 bilhões enviados aos EUA (14,7% do total). Mas o que faz o país de Chávez importante para o superávit brasileiro é a assimetria: o Brasil comprou apenas US$ 538,5 milhões do país caribenho, 0,31% do total importado em 2008.
Com uma economia centrada no petróleo e amarrada ao mercado dos EUA (apesar dos esforços de diversificação do governo Hugo Chávez), a Venezuela tem pouco a oferecer ao mercado brasileiro. Embora as exportações tenham crescido 55,8% em 2008, são menores do que há dez anos, quando venderam US$ 974 milhões.
Para José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), as crescentes exportações à Venezuela- 749% entre 2003 e 2008- se devem principalmente à concessão de financiamentos para vendas ao país de Chávez. O esquema, segundo ele, serve como uma proteção às empresas brasileiras contra os constantes atrasos no pagamento.
"Até 2008, quando o petróleo ainda estava nas alturas, a Venezuela era avaliada do ponto de vista econômico e também político-ideológico. Isso fez com que o Brasil abrisse muitos créditos à Venezuela", disse Castro. "Talvez neste ano, com a queda do preço do petróleo, a Venezuela diminua as compras por conta da diminuição do volume de crédito. Mas aí também pode ter uma manutenção política para que os créditos se mantenham." De acordo com ele, a queda brusca do preço do petróleo traz o risco de frear as vendas ao país. No ano passado, o superávit brasileiro caiu 38,2% em relação a 2007, quando foi de US$ 40 bilhões.


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