São Paulo, sábado, 16 de janeiro de 1999

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CÂMBIO
Banco Central deixa de intervir no mercado de compra e venda de dólar, permitindo que ele flutue livremente
Real perde 17,4% desde terça

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
da Reportagem Local

O Banco Central não interveio ontem no mercado de câmbio, evitando dar recursos para quem queria deixar o país. Não estabeleceu um patamar para a cotação do dólar, que fechou a R$ 1,4659 na média do mercado, segundo o BC. A desvalorização contra terça-feira foi de 17,36%.
As importadoras e exportadoras ficaram fora do mercados negócios confuso e volátil mercado de câmbio ontem, que se caracterizou pelos baixos volumes negociados. Quem pôde evitou fazer negócios. O Banco Central não interveio, evitando fornecer recursos para quem queria deixar o país. Conseguiu conter a fuga de dólares: até as xxhxx, o fluxo cambial estava negativo em US$ xxx milhões, contra os US$ 1,8 bilhão de anteontem.
"Como os recursos pesados não foram a mercado, fica difícil saber qual será a cotação do real nos próximos dias", diz Marco Antônio Dias, chefe de mesa de interbancário de câmbio do BicBanco.
No fechamento do dia de ontem, o dólar ficou cotado a R$ x,xx. A desvalorização foi de xx,xx% sobre os R$ 1,32 de anteontem e de xx,xx% sobre os R$ 1,2110 de terça-feira, antes da mudança na política cambial.
Mas esse não é um patamar definitivo. As oscilações foram muito bruscas ontem. Logo pela manhã, os operadores foram comprar dólares junto ao Banco Central, mas não encontraram venda. As cotações já iniciaram a R$ 1,45. Quando o mercado se deu conta de que não haveria intervenção do BC, houve pânico inicial e as cotações do dólar subiram para R$ 1,65.
Nesse nível, ninguém mais quis comprar. No final da manhã, as cotações do dólar caíram para R$ 1,50, chegaram a bater no R$ 1,47 à tarde, para terminar o dia a R$ x,xx.
"O mercado ainda terá de buscar seu ponto de equilíbrio, um novo patamar para todos os ativos brasileiros, o que só será atingido nos próximos dias", diz Rodrigo Moraes, do Banco Rendimento.
A grande dúvida é como o Banco Central vai atuar a partir de agora. Diversos especialistas do mercado foram ontem consultados informalmente pelo BC, que buscava sugestões.
Os especialistas consideram um desastre a possibilidade de um controle da saída de recursos.
Consideram também perigoso a liberdade total para o câmbio, diante dos vencimentos de US$ 4,5 bilhões de dívida externa privada e pública em janeiro mais US$ 8,6 bilhões em fevereiro. A procura pelo dólar poderá ser muito grande, o que favoreceria uma desvalorização do real muito acima da desejada pelo Banco Central.
Os especialistas sugerem que o BC assuma a desvalorização que permitiu que o mercado realizasse e torne o teto da antiga banda cambial, o R$ 1,32 por dólar, um novo piso.
Seria o chamado "waiver", realizado no Chile. O BC, nesse caso, iria a mercado comprar dólar por essa taxa. Interviria informalmente no mercado, junto aos "dealers" dos bancos, no caso de as cotações passaram o novo teto.
Outra opção seria deixar o mercado totalmente livre, sem banda cambial, e só realizar intervenções "silenciosas" quando achar conveniente.
As linhas comerciais estão fechadas e devem continuar por mais uns cerca de 60 dias até que a situação de normalize.



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