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Wal-Mart não vê crise no país e contrata
Presidente de gigante varejista no país diz que rede existe "para momentos como este" e que Brasil vive só turbulência
Nuñez prevê que consumo dobre no país de 5 a 10 anos e diz que empresa vai contratar mais funcionários e crescer neste ano
Eduardo Knapp/Folha Imagem
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O presidente do Wal-Mart Brasil, Héctor Núñez, que prevê crescimento da rede no Brasil muito acima de 2% e novas contratações
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Héctor Núñez, presidente do
Wal-Mart Brasil, é categórico: o
Brasil não vive uma crise.
"Quem está em crise é o mundo", diz Núñez, de origem cubana. "O Brasil enfrenta apenas
mais um momento turbulento."
Sem sentir redução nas vendas em nenhum mês do ano
passado e com janeiro e fevereiro superando as metas, o
Wal-Mart manteve investimentos, que serão direcionados principalmente para o público de menor poder aquisitivo. Núñez espera que o consumo dobre no Brasil nos próximos cinco anos, como afirma
na entrevista a seguir.
FOLHA - Como foram os últimos
meses do Wal-Mart no Brasil?
HÉCTOR NÚÑEZ - Antes de mais
nada, é preciso ressaltar que
quem está em crise é o mundo.
O Brasil vive apenas um momento turbulento, e isso é um
fato, mostrado pelo consumo.
Eventualmente, o consumo de
alguns bens duráveis de alto valor pode estar sofrendo. Mas, os
últimos meses para nós têm sido acima das expectativas do
que tínhamos planejado em
2007 para 2008. O Wal-Mart
foi concebido para momentos
como este. Todo o varejo nos
Estados Unidos tem tido declínio ao longo dos últimos seis,
sete meses de duplo dígito. Enquanto isso, o Wal-Mart cresce.
Nossa proposta é vender por
menos, para as pessoas viverem
melhor e elas reconhecem isso.
FOLHA - Como essa estratégia tem
funcionado na prática?
NÚÑEZ - Fazemos muita pesquisa de preço para assegurar
que de fato entregamos a proposta de ser mais baratos que o
concorrente. E nossos tíquetes
são de 8% a 10% mais baratos
que os principais concorrentes
de cada praça. [Para chegar lá]
temos negociações muito claras e transparentes com os fornecedores. Eliminamos custos
na cadeia de valor, como ineficiências logísticas, merchandising e tudo o que não é vital.
Também somos uma operação
de custo baixo. Além disso, oferecemos acesso ao crédito para
o cliente, com nossa parceria
com o Hipercard, do Unibanco.
Temos 10 milhões de cartões,
para clientes de todos os níveis
sociais e com várias taxas. A
junção disso tudo nos permite
manter a rentabilidade e os
custos mais baixos.
FOLHA - Quais práticas se acentuaram na crise?
NÚÑEZ - Focamos ainda mais
em reduzir custos internos,
bem como no objetivo de crescer. Cresceremos bem mais do
que o PIB em 2009, que acreditamos será de 2%. Ninguém
aqui fala de cortes. Tem racionalização de despesas, mas não
haverá demissões, ao contrário.
Vamos contratar 10 mil pessoas, como parte do plano de
expansão de 90 lojas. Investiremos entre R$ 1,6 a R$ 1,8 bilhão
em 2009. Estamos aqui para o
longo prazo e a crise mundial
não é a primeira e nem será a
última.
FOLHA - Dá para investir mesmo
sem saber se o consumidor terá emprego e capacidade de pagar?
NÚÑEZ - Sem dúvida. O salário
mínimo está aumentando, o
Bolsa Família no Nordeste está
ganhando velocidade, o consumo per capita no país é mais
baixo que em outros países
grandes e o nível de acesso a
crédito é o menor do mundo.
Este é um momento turbulento, mas é apenas um momento.
Uma hora ele acaba e, depois
disso, vamos continuar.
FOLHA - Vocês inauguraram uma
loja para a comunidade no Nordeste, voltada para o público de menor
poder aquisitivo. A empresa vai
priorizar esse consumidor?
NÚÑEZ - As lojas para a comunidade estão indo muito bem, e
os indicadores mostram que
estamos falando bem com essas comunidades. O número de
pessoas que busca os serviços
do centro comunitário supera o
que esperávamos de tráfego,
que gera fluxo para a loja. Já
abrimos três lojas e temos mais
duas na fila. Vamos fazer alguns
ajustes e devemos trazê-las para o Sul e o Sudeste. Nosso foco
dos investimentos está muito
voltado à classe de menor renda com a marca atacadista
Maxxi e o supermercado de
bairro Todo Dia.
Estamos bem focados na
classe de menor renda e trazemos uma proposta de valor de
acesso que as pessoas precisam
e é imbatível. Essa classe média
emergente é 70% da população
brasileira. Fazemos uma pesquisa interna para medir a confiança do consumidor, e algumas regiões mais do que outras
têm preocupações mas, todas,
sem exceção, mostram confiança no país no médio e longo
prazos. No curto prazo, todos
entendem que há uma incerteza, mas vamos continuar com
nossa vida. O brasileiro já passou por tantas crises. Essa é só
mais uma.
FOLHA - Como está o Wal-Mart
Brasil dentro do grupo?
NÚÑEZ - Está muito bem, nos
quesitos de crescimento e investimento. Algumas regiões
estão sofrendo mais com a crise
global do que outras. [Mesmo
nos] nos Estados Unidos crescemos 2% [em janeiro]. Haverá
ajuste de quadros, mas são 2
milhões de pessoas trabalhando no Wal-Mart nos Estados
Unidos. O ajuste, para se preparar para um momento de crise,
é de zero vírgula zero zero alguma coisa. É mínimo. O crescimento nos Estados Unidos se
dá em todas as categorias e não
só na básica. Para o tamanho da
crise, estamos indo bem.
FOLHA - O Pão de Açúcar anunciou
recentemente a criação de um grupo de fusões e aquisições para estudar oportunidades que surjam com
a crise. O Wal-Mart pensa em crescer por aquisições?
NÚÑEZ - Estamos abertos a
qualquer oportunidade que
possa existir. Mas não há 40 varejistas batendo na nossa porta
para serem comprados.
FOLHA - Janeiro foi um bom mês?
NÚÑEZ - Foi um bom mês, mas
não houve surpresa, entregamos um pouco acima de nossa
meta. Fizemos o plano em
agosto e setembro e atingimos
o objetivo porque há consumo,
e não há crise. As pessoas precisam continuar comendo e tomando banho. Quantos momentos difíceis não passou o
Brasil nos últimos 20 anos?
FOLHA - E os próximos meses?
NÚÑEZ - Eles pintam bem. Vai
ser um bom Carnaval. Nos piores momentos do Brasil, que foram infinitamente piores do
que o que vivemos hoje, as pessoas saíam para o Carnaval,
saíam de férias e o continuam
fazendo agora. O consumo hoje, no Brasil, é muito baixo. Ele
deve duplicar nos próximos
cinco a dez anos. Há muito espaço para crescer. Este é o momento de investir para, quando
a economia voltar, estarmos
mais fortes.
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