São Paulo, segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

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Folhainvest

Bovespa sobe, mas ações de bancos caem

Enquanto a Bolsa brasileira comemora alta de 11% neste início de ano, papéis de grandes instituições estão no vermelho

Apesar dos lucros, instituições mostram preocupação com aumento da inadimplência e elevam suas reservas contra calotes


FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto a Bolsa de São Paulo se destaca com elevados ganhos neste ano, as ações do setor bancário não atravessam um momento muito animador. Os papéis das maiores instituições financeiras do país estão no vermelho no ano.
Com o início da divulgação da safra de balanços dos bancos, o que tem ficado claro é que as próprias instituições estão preocupadas com 2009, como demonstra o aumento das provisões para crédito duvidoso -decorrência do temor de aprofundamento da inadimplência nos próximos meses.
Apoiada principalmente nos papéis dos setores ligados ao desempenho das commodities, a Bovespa acumula valorização de 10,98% no ano.
Mesmo com o pregão favorável de sexta-feira, as ações units do Unibanco sofrem com queda de 3,34% no ano; Banco do Brasil ON tem baixa de 3,07%; e Itaú PN perde 1,91% no período. Quem está menos pior são os papéis preferenciais do Bradesco, que, após subirem 3,35% na sexta, passaram a ter leve baixa de 0,05% no ano. A ação preferencial do Santander, que atualmente quase não é negociada nos pregões, registra a queda mais forte, de 7,14%.
"O setor bancário foi bastante castigado na Bolsa de Valores nos últimos meses. Com os estragos que a crise econômica causou nos bancos pelo mundo, o setor não conseguiu se isolar no mercado local", afirma Fausto Gouveia, economista da Infra Asset Management.
O setor financeiro representa cerca de 13% do Ibovespa -o principal índice da Bolsa. Dessa forma, se o segmento estivesse com um desempenho melhor, a Bovespa estaria com um resultado mais forte no ano.
O Bradesco foi o primeiro dos grandes bancos a divulgar seu resultado de 2008. Apesar de haver desacelerado, o lucro líquido do Bradesco no último trimestre de 2008 alcançou R$ 1,806 bilhão. No quarto trimestre, marcado pelo agravamento da crise, a carteira de crédito do Bradesco se expandiu em 9,2%.
Para William Eid Júnior, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da FGV, os bancos vão enfrentar neste ano o problema de terem ampliado de forma indiscriminada a oferta de crédito.
"Houve uma ampliação muito grande do crédito e, paralelamente, uma queda na qualidade. Surgiram nos últimos anos muitas financeiras que ofereciam dinheiro sem exigir muitas garantias em troca. Agora temos um cenário de aumento do desemprego e queda na renda, o que faz com que se espere que os níveis de inadimplência se elevem. Com isso, o lucro dos bancos tende a diminuir", afirma Eid Júnior.
Para o acionista, lucro menor sempre é uma notícia desagradável. Os dividendos a que os acionistas têm direito periodicamente diminuem com o encolhimento do lucro. Isso porque os dividendos são uma parcela do ganho que as empresas têm de repassar para os acionistas -pela lei, ao menos 25% do lucro líquido deve ser transformado em dividendos.
Todavia, apesar de o cenário de 2009 para o setor bancário ser menos otimista do que o dos últimos anos, é cedo para afirmar que as ações não terão forças para se recuperar. Os papéis dos bancos já carregaram perdas elevadas no ano passado, o que pode favorecer uma melhora em suas cotações.
Em 2008, as ações ordinárias do BB perderam 49,05% de seu valor. Para as ações preferenciais do Bradesco, a depreciação em 2008 foi de 37,05%; Unibanco UNT perdeu 36,72%; e Itaú PN recuou 24,86%.
"Desde que o cenário não piore ainda mais lá fora, as ações dos bancos brasileiros podem ser uma boa aposta para o ano", afirma Gouveia, da Infra Asset Management.
Os bancos brasileiros não enfrentam os mesmos problemas que abalaram as grandes instituições financeiras americanas e europeias. A forte depreciação sofrida por títulos lastreados em créditos imobiliários "subprime" (de segunda linha), que tinham forte presença nas carteiras de bancos dos Estados Unidos e da Europa, fez instituições sofrerem perdas bilionárias lá fora.
"O que vai prejudicar os bancos é a desaceleração do crédito, que terá impacto em uma importante fonte de receita deles. E isso sinaliza uma queda no lucro neste ano", diz Luis Miguel Santacreu, analista financeiro da Austin Rating.


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