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VISÃO JAPONESA
Empresário japonês nega preço alto e diz que padrão tem larga escala
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
O empresário Yasutoshi Miyoshi, representante do padrão japonês de TV digital, diz que o Japão
acredita que os demais países da
América do Sul seguirão o Brasil
na escolha da tecnologia da TV digital. Por esse motivo, a conquista
do mercado brasileiro é estratégica para os japoneses, afirma o empresário.
Enquanto as subsidiárias das indústrias européias estão numa
ofensiva para tentar reverter a decisão do governo em favor do padrão japonês -opção dada como
certa na semana passada-, os japoneses adotaram uma atitude
""low profile" e raramente vieram
a público defender suas posições.
Com a defesa do padrão ISDB
sendo feita pelas redes de televisão e pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa, as empresas
japonesas puderam fazer um
lobby discreto.
Anteontem, Miyoshi concedeu
entrevista à Folha para responder
às críticas dos europeus.
Folha - As indústrias européias
dizem que o sistema japonês foi rejeitado por todos os países que já
escolheram o padrão de TV digital
e que ele só é adotado pelo Japão.
Yasutoshi Miyoshi - Não é verdade que o ISDB tenha sido derrotado por 100% dos países. O que
houve é que ele surgiu depois dos
padrões norte-americano (ATSC)
e europeu (DVB). Quando ele
chegou ao mercado, os 78 países
citados pela ""Coalizão DVB" já tinham feito sua escolha.
Folha - Outra afirmação é que o
padrão japonês custará mais para o
consumidor que o europeu, em razão de menor escala de produção.
Miyoshi -Também isso é contestável. O ganho de escala é limitado. A partir de um certo patamar
de produção, a curva de preços
não cai mais. O Japão já possui 8,5
milhões de televisores digitais instalados. A transmissão digital já
acontece em 29 dos 47 Estados japoneses. É uma escala grande. Até
dezembro, todo o país estará coberto por redes de distribuição de
TV digital. Nenhum outro país teve crescimento tão rápido nesse
setor quanto o Japão.
Folha - Qual o preço da caixa conversora de sinais [decodificador
que permite que as TVs analógicas
recebam a programação transmitida pelas emissoras de forma digital] no mercado japonês?
Miyoshi - Ele custa entre US$ 400
e US$ 500, mas é preciso levar em
conta que a renda do japonês é superior à do brasileiro. O equipamento comercializado lá tem várias funções: recebe os sinais analógicos e digitais por via terrestre,
recebe sinal via satélite, tem memória para armazenamento de
informações. Ainda não sabemos
que tipo de equipamento será
produzido no Brasil, o que a população vai demandar.
Folha - O principal argumento
usado pelo ministro das Comunicações em favor do sistema japonês é
que ele será gratuito para o usuário. Isso acontece no Japão?
Miyoshi - A radiodifusão é gratuita, em casa, no celular ou no
notebook, mas, quando o usuário
quer mais informação sobre determinado programa (como
comprar o modelo da roupa que a
atriz usa), o canal de retorno é o
telefone fixo ou o celular. Lá, há a
sinergia entre o radiodifusor e o
operador de telefonia. O usuário
vê a TV, mas a interatividade se dá
pela rede da telefonia, o que é tarifado. O acréscimo de receita para
o radiodifusor está no ganho da
exposição da programação.
Quanto maior a exposição, maior
a receita de publicidade.
Folha - Houve conflitos entre radiodifusores e telefônicas na implantação da TV digital no Japão?
Miyoshi - No início, sim, mas
pouco depois elas entraram em
entendimento, e definiram o modelo de negócios e a participação
de cada um. Em seis meses, as
partes sentaram e se entenderam.
O governo foi mediador na definição do modelo regulatório. Lá,
as duas partes estão ganhando.
Folha - A principal crítica que os
europeus fazem ao sistema japonês é a de que ele dá monopólio às
empresas de radiodifusão sobre o
espectro e não permite que programadores independentes ofereçam
novos serviços.
Miyoshi - Até onde conheço, os
programadores independentes
vendem os programas para as
grandes redes de televisão, e cada
TV tem sua própria rede de transmissão e administra o espectro de
freqüência.
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