São Paulo, quinta-feira, 16 de março de 2006

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VISÃO JAPONESA

Empresário japonês nega preço alto e diz que padrão tem larga escala

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

O empresário Yasutoshi Miyoshi, representante do padrão japonês de TV digital, diz que o Japão acredita que os demais países da América do Sul seguirão o Brasil na escolha da tecnologia da TV digital. Por esse motivo, a conquista do mercado brasileiro é estratégica para os japoneses, afirma o empresário.
Enquanto as subsidiárias das indústrias européias estão numa ofensiva para tentar reverter a decisão do governo em favor do padrão japonês -opção dada como certa na semana passada-, os japoneses adotaram uma atitude ""low profile" e raramente vieram a público defender suas posições.
Com a defesa do padrão ISDB sendo feita pelas redes de televisão e pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa, as empresas japonesas puderam fazer um lobby discreto.
Anteontem, Miyoshi concedeu entrevista à Folha para responder às críticas dos europeus.

 

Folha - As indústrias européias dizem que o sistema japonês foi rejeitado por todos os países que já escolheram o padrão de TV digital e que ele só é adotado pelo Japão.
Yasutoshi Miyoshi -
Não é verdade que o ISDB tenha sido derrotado por 100% dos países. O que houve é que ele surgiu depois dos padrões norte-americano (ATSC) e europeu (DVB). Quando ele chegou ao mercado, os 78 países citados pela ""Coalizão DVB" já tinham feito sua escolha.

Folha - Outra afirmação é que o padrão japonês custará mais para o consumidor que o europeu, em razão de menor escala de produção.
Miyoshi -
Também isso é contestável. O ganho de escala é limitado. A partir de um certo patamar de produção, a curva de preços não cai mais. O Japão já possui 8,5 milhões de televisores digitais instalados. A transmissão digital já acontece em 29 dos 47 Estados japoneses. É uma escala grande. Até dezembro, todo o país estará coberto por redes de distribuição de TV digital. Nenhum outro país teve crescimento tão rápido nesse setor quanto o Japão.

Folha - Qual o preço da caixa conversora de sinais [decodificador que permite que as TVs analógicas recebam a programação transmitida pelas emissoras de forma digital] no mercado japonês?
Miyoshi -
Ele custa entre US$ 400 e US$ 500, mas é preciso levar em conta que a renda do japonês é superior à do brasileiro. O equipamento comercializado lá tem várias funções: recebe os sinais analógicos e digitais por via terrestre, recebe sinal via satélite, tem memória para armazenamento de informações. Ainda não sabemos que tipo de equipamento será produzido no Brasil, o que a população vai demandar.

Folha - O principal argumento usado pelo ministro das Comunicações em favor do sistema japonês é que ele será gratuito para o usuário. Isso acontece no Japão?
Miyoshi -
A radiodifusão é gratuita, em casa, no celular ou no notebook, mas, quando o usuário quer mais informação sobre determinado programa (como comprar o modelo da roupa que a atriz usa), o canal de retorno é o telefone fixo ou o celular. Lá, há a sinergia entre o radiodifusor e o operador de telefonia. O usuário vê a TV, mas a interatividade se dá pela rede da telefonia, o que é tarifado. O acréscimo de receita para o radiodifusor está no ganho da exposição da programação. Quanto maior a exposição, maior a receita de publicidade.

Folha - Houve conflitos entre radiodifusores e telefônicas na implantação da TV digital no Japão?
Miyoshi -
No início, sim, mas pouco depois elas entraram em entendimento, e definiram o modelo de negócios e a participação de cada um. Em seis meses, as partes sentaram e se entenderam. O governo foi mediador na definição do modelo regulatório. Lá, as duas partes estão ganhando.

Folha - A principal crítica que os europeus fazem ao sistema japonês é a de que ele dá monopólio às empresas de radiodifusão sobre o espectro e não permite que programadores independentes ofereçam novos serviços.
Miyoshi -
Até onde conheço, os programadores independentes vendem os programas para as grandes redes de televisão, e cada TV tem sua própria rede de transmissão e administra o espectro de freqüência.


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