São Paulo, segunda-feira, 16 de março de 2009

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Crise nivela preço de ações
de NY e SP

Piora no lucro e maior risco barateia ações americanas, o que pode desestimular retorno do capital externo para o Brasil

Apesar de recuo histórico, Bolsa dos EUA não se tornou uma pechincha, diz analista; Bovespa precisa de capital de fora para se recuperar


FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise financeira barateou o mercado de ações norte-americano de uma forma inimaginável há pouco tempo. No Brasil, os papéis também perderam valor, mas de forma menos significativa. O problema é que, no momento em que o mercado financeiro estiver pronto para se recuperar, isso pode ser desvantajoso ao Brasil.
Um dos índices utilizados pelos analistas para estimar o potencial de retorno e risco das Bolsas de Valores se aproximou de forma inédita ao se comparar Brasil e EUA. É como se as ações brasileiras estivessem em um patamar próximo de expectativas de rentabilidade e de risco ao dos papéis norte-americanos. Assim, quando o pior momento do mercado for superado, o investidor internacional pode, em tese, acabar por preferir colocar seu dinheiro nas ações norte-americanas, preterindo as brasileiras.
Esse índice, chamado de P/L, é calculado a partir da divisão do preço pelo lucro de uma ação. O número encontrado indica quanto tempo o investidor vai ter de esperar para conseguir de volta o que aplicou. Quanto maior o tempo, mais caro é o investimento.
Levantamento feito pela consultoria Economática, a pedido da Folha, mostra que o índice P/L dos EUA saiu de um patamar de 25 no fim de 2003 para 12,5 nesse momento. No caso do Brasil, o índice recuou de 11,9 para 10,2 no período. O movimento estreitou de forma significativa a distância entre as duas Bolsas. Foram consideradas no estudo as 50 maiores empresas da Bolsa de cada país.
"O P/L é o resultado dos riscos e das expectativas. Quanto menor o risco, maior o P/L. Nos EUA, as expectativas de risco e de crescimento dos lucros pioraram e levaram o índice a um ponto inédito", afirma Fernando Exel, presidente da Economática. Para ele, apesar do recuo histórico, não dá para dizer que a Bolsa americana está muito barata. "Risco e expectativa ruim não é pechincha. Os preços são justos para o atual momento que vivemos."

Investidor estrangeiro
Nos últimos seis meses, quando a crise se aprofundou após a quebra do banco Lehman Brothers, a Bolsa de Nova York teve perda de 33,8%. No período, a Bovespa caiu 19,4%.
Apesar de a crise não ter afetado as empresas brasileiras como as americanas, os investidores internacionais se desfizeram dos papéis locais de forma expressiva nos últimos meses. Desde maio de 2008, o único mês em que houve entrada líquida de capital externo na Bolsa foi em fevereiro passado.
Em 2008, o balanço das operações dos estrangeiros na Bolsa ficou negativo em R$ 24,6 bilhões. Nunca antes a diferença entre as compras e vendas de ações feitas com capital externo havia sido tão grande.
Na opinião de Luiz Antonio Vaz das Neves, analista da KNA Consultores, ficou mais complicado para o estrangeiro retornar para a Bovespa em um cenário como o atual. "Para quê o investidor estrangeiro vai desembarcar por aqui se as empresas estão tão baratas nos EUA e na Europa? Relativamente, as ações estão com preços muito baixos por lá", diz.
Os estrangeiros representam cerca de 35% das operações feitas na Bovespa. Dessa forma, enquanto esses investidores não voltarem a comprar ações brasileiras com maior apetite, a Bolsa terá mais dificuldades para reencontrar seus melhores momentos. A Bovespa está com 39.015 pontos. Em seu pico, registrado em 20 de maio passado, atingiu os 73.516 pontos. A pontuação oscila com a alta (ou baixa) das ações.


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