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Crise nivela preço de ações
de NY e SP
Piora no lucro e maior risco barateia ações americanas, o que pode desestimular retorno do capital externo para o Brasil
Apesar de recuo histórico,
Bolsa dos EUA não se tornou
uma pechincha, diz analista;
Bovespa precisa de capital
de fora para se recuperar
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise financeira barateou o
mercado de ações norte-americano de uma forma inimaginável há pouco tempo. No Brasil,
os papéis também perderam
valor, mas de forma menos significativa. O problema é que, no
momento em que o mercado financeiro estiver pronto para se
recuperar, isso pode ser desvantajoso ao Brasil.
Um dos índices utilizados pelos analistas para estimar o potencial de retorno e risco das
Bolsas de Valores se aproximou
de forma inédita ao se comparar Brasil e EUA. É como se as
ações brasileiras estivessem
em um patamar próximo de expectativas de rentabilidade e de
risco ao dos papéis norte-americanos. Assim, quando o pior
momento do mercado for superado, o investidor internacional pode, em tese, acabar por
preferir colocar seu dinheiro
nas ações norte-americanas,
preterindo as brasileiras.
Esse índice, chamado de P/L,
é calculado a partir da divisão
do preço pelo lucro de uma
ação. O número encontrado indica quanto tempo o investidor
vai ter de esperar para conseguir de volta o que aplicou.
Quanto maior o tempo, mais
caro é o investimento.
Levantamento feito pela
consultoria Economática, a pedido da Folha, mostra que o índice P/L dos EUA saiu de um
patamar de 25 no fim de 2003
para 12,5 nesse momento. No
caso do Brasil, o índice recuou
de 11,9 para 10,2 no período. O
movimento estreitou de forma
significativa a distância entre
as duas Bolsas. Foram consideradas no estudo as 50 maiores
empresas da Bolsa de cada país.
"O P/L é o resultado dos riscos e das expectativas. Quanto
menor o risco, maior o P/L.
Nos EUA, as expectativas de
risco e de crescimento dos lucros pioraram e levaram o índice a um ponto inédito", afirma
Fernando Exel, presidente da
Economática. Para ele, apesar
do recuo histórico, não dá para
dizer que a Bolsa americana está muito barata. "Risco e expectativa ruim não é pechincha. Os preços são justos para o
atual momento que vivemos."
Investidor estrangeiro
Nos últimos seis meses,
quando a crise se aprofundou
após a quebra do banco Lehman Brothers, a Bolsa de Nova
York teve perda de 33,8%. No
período, a Bovespa caiu 19,4%.
Apesar de a crise não ter afetado as empresas brasileiras
como as americanas, os investidores internacionais se desfizeram dos papéis locais de forma
expressiva nos últimos meses.
Desde maio de 2008, o único
mês em que houve entrada líquida de capital externo na Bolsa foi em fevereiro passado.
Em 2008, o balanço das operações dos estrangeiros na Bolsa ficou negativo em R$ 24,6 bilhões. Nunca antes a diferença
entre as compras e vendas de
ações feitas com capital externo havia sido tão grande.
Na opinião de Luiz Antonio
Vaz das Neves, analista da KNA
Consultores, ficou mais complicado para o estrangeiro retornar para a Bovespa em um
cenário como o atual. "Para quê
o investidor estrangeiro vai desembarcar por aqui se as empresas estão tão baratas nos
EUA e na Europa? Relativamente, as ações estão com preços muito baixos por lá", diz.
Os estrangeiros representam
cerca de 35% das operações feitas na Bovespa. Dessa forma,
enquanto esses investidores
não voltarem a comprar ações
brasileiras com maior apetite, a
Bolsa terá mais dificuldades
para reencontrar seus melhores momentos. A Bovespa está
com 39.015 pontos. Em seu pico, registrado em 20 de maio
passado, atingiu os 73.516 pontos. A pontuação oscila com a
alta (ou baixa) das ações.
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