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entrevista
Rogoff defende intervenção "amiga" no câmbio do país
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
No mundo pós-crise, Brasil e demais emergentes estão condenados a assistir a
suas moedas se valorizarem
indefinidamente, minando a
competitividade das exportações. Para o economista
Kenneth Rogoff, da Universidade Harvard, esses países
terão de tomar medidas para
segurar a taxa de câmbio. Segundo o economista, o problema é como fazer isso de
forma "amiga" do mercado,
sem levar à fuga de capitais,
causando um estrago maior.
"Não tenho visto medidas inteligentes", disse. Ex-economista-chefe do FMI, Rogoff
lança no Brasil "Desta Vez é
Diferente: Oito Séculos de
Delírios Financeiros" (Elsevier), um dos livros mais ácidos sobre a crise, que tem
uma única mensagem: "Nós
já estivemos aqui antes".
Leia entrevista.
FOLHA - O senhor afirma que
um grande fluxo de capital pode
dar a falsa impressão de que o governo promoveu um forte crescimento. Esse é o caso do Brasil,
que deve crescer 6% em 2010?
KENNETH ROGOFF - Não estava
me referindo especificamente ao Brasil. Mas um país que
tenha forte entrada de capital por cinco anos parecerá
que tem uma situação melhor do que tem. Muito desse
crescimento que o Brasil terá
se deve à base de comparação, com a saída da recessão.
O Brasil tem muito para ganhar em produtividade e reformas microeconômicas.
FOLHA - O Brasil e outros emergentes terão de tomar medidas
para evitar a alta de suas moedas
por conta desse capital?
ROGOFF - É sempre importante ficar de olho nas entradas de capital. Os países nessa situação podem adotar
medidas "amigas" do mercado para evitar uma entrada
excessiva de recursos, que
pode ser inconveniente. Para
evitar que o real suba, talvez
o governo tenha de adotar
medidas nesse sentido.
FOLHA - Algum país conseguiu
adotar medidas inteligentes nesse sentido? Qual a sua avaliação
sobre o imposto aos investidores
estrangeiros no Brasil?
ROGOFF - A Índia e alguns
países da Ásia estão prestando muita atenção nesse assunto; o Brasil também. E o
Brasil tem mais condições de
fazer isso porque tem um
mercado financeiro muito
mais fluído, o que é bastante
saudável. Não tenho visto
tantas medidas inteligentes
dos países emergentes para
evitar que suas moedas tenham excesso de volatilidade. O problema é como fazer.
FOLHA - O esquecimento faz
parte da natureza dos mercados?
ROGOFF - Não só dos mercados. As pessoas realmente se
esquecem. Além de esquecer, negam que algumas coisas tenham acontecido! As
crises financeiras acontecem
com uma grande regularidade. A Grécia, que todos
olham agora, passou quase
toda a sua história em default (calote). O Brasil é um
dos países que mais estiveram em moratória. O país esteve em default em um a cada
quatro anos. Na Grécia, foi
um a cada dois anos. Quantas
pessoas sabem que a Grécia
tem um histórico pior do que
o Brasil? Quase ninguém.
FOLHA - Daqui a quanto tempo
a crise atual será esquecida?
ROGOFF - Diria que demora
uns 15 anos; é o tempo em
que uma criança se torna
adolescente e acha que está
em um mundo diferente.
Imagino que hoje algumas
pessoas no Brasil não saibam
como era a inflação...
FOLHA - Qual país será a próxima Grécia?
ROGOFF - Há vários países
vulneráveis na Europa: Hungria, Espanha, Irlanda, Portugal. Não acredito que a Europa terá tanto sucesso em resolver esses problemas.
FOLHA - E fora da Europa?
ROGOFF - Há um número
grande de emergentes com
uma situação bastante boa.
Brasil e América Latina estão
melhores do que a Europa.
FOLHA - Por que poucos países
nunca entraram em default?
ROGOFF - Parte da razão é
que esses países precisavam
mais da comunidade financeira. Mas é uma amostra tão
pequena que é difícil saber.
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