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Brasil avança na retaliação aos EUA, que fazem ameaça
EUA veem "preocupações sobre um potencial impacto no clima para investimentos no Brasil"
Governo Obama se diz "decepcionado" com anúncio de retaliação do Brasil,
que deve se concentrar em remédios e produtos culturais
EDUARDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
A proposta do governo brasileiro para a retaliação cruzada
contra propriedade intelectual
dos EUA, que se concentrou na
quebra de monopólios sobre
medicamentos, produtos químicos e biotecnologia, além da
suspensão de direitos autorais
de produtos culturais do país,
foi duramente criticada ontem
em Washington.
Além de fazer uma ameaça
velada a investimentos no Brasil, os EUA reagiram afirmando
que o comércio bilateral poderá
ser prejudicado caso as medidas anunciadas na semana passada sejam implementadas.
"Algumas propostas levantam preocupações sobre um
potencial impacto no clima para investimentos no Brasil",
afirmou, em nota, uma porta-voz do representante americano para o Comércio, Ron Kirk.
No Brasil, o aumento da concorrência nos setores eleitos
para retaliação de propriedade
intelectual deve baratear medicamentos, livros, filmes, séries
e músicas produzidos nos EUA.
O efeito é oposto ao causado
pela retaliação de bens, na qual
as 102 mercadorias norte-americanas já listadas podem ficar
mais caras a partir de abril.
A relação de medidas -que
por 20 dias estarão sob consulta pública- revela que o Brasil
pretende atingir os EUA nos
quatro privilégios dos titulares
de propriedade intelectual:
produção, comercialização, importação e licenciamento. O
impacto em 2010 pode chegar a
US$ 238 milhões.
O primeiro rol de medidas
trata da suspensão por tempo
determinado da proteção dos
direitos de patentes e sobre a
execução de obras musicais. Ou
seja, as informações sobre fórmulas e processos de fabricação de medicamentos, produtos químicos agrícolas e cultivares estarão durante esse período sob domínio público, assim como a execução de músicas de artistas americanos.
"Provavelmente essa medida
não será aplicada a produtos
cuja patente ainda tem prazo
longo de validade", afirmou o
diretor do Departamento Econômico do Itamaraty, Carlos
Márcio Cozendey. Segundo ele,
não valeria a pena para a indústria adaptar o parque instalado
para produzir produtos que teriam suas patentes novamente
protegidas ao fim da retaliação.
Outro tipo de aplicação poderá ser a liberação do licenciamento de produtos sem a autorização ou remuneração aos titulares. No entanto, a liberação
para a quebra de monopólios
nessa modalidade, que inclui a
edição de livros e a veiculação
de séries de TV e filmes, precisará de autorização do governo.
Além disso, o governo poderá
confiscar sob o título de direito
comercial parte dos royalties
devidos por empresas brasileiras às matrizes americanas.
A lista publicada ontem também inclui a possibilidade de
aumento dos custos para que
empresas e pessoas norte-americanas registrem ou renovem a
proteção a patentes.
O Brasil ganhou na OMC o
direito de retaliar em US$ 829
milhões neste ano os EUA por
subsídios ilegais ao algodão.
"Decepção"
"Estamos decepcionados por
o Brasil ter dado esses passos.
Vamos continuar a trabalhar
com o Brasil e com o Congresso
dos EUA para encontrar uma
solução para os temas nessa
disputa sem que sejam necessárias as medidas anunciadas",
diz nota do governo dos EUA.
Fontes do governo americano afirmaram à Folha que já
está na mesa uma proposta
preliminar para acordo que
evite a aplicação da retaliação
por parte do Brasil. Segundo
negociadores brasileiros, porém, não há proposta concreta.
Membros do governo e empresários brasileiros afirmam
que veriam com bons olhos
uma proposta para facilitar a
importação pelos EUA de itens
como carne, álcool ou suco de
laranja, antes de discutir o subsídio ao algodão diretamente.
Alguns empresários sugeriram
ainda que a compensação seja
feita por meio de investimentos americanos na pesquisa sobre o algodão.
FOLHA ONLINE
Veja a relação de medidas
que podem ser aplicadas
www.folha.com.br/100744
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