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ARTIGO
BC perde oportunidade e poderá ter de elevar juros
SILVIA DOMIT
ESPECIAL PARA A FOLHA
Havia tempos a janela de
oportunidade não era tão
grande para a redução dos juros
nominais no Brasil quanto a que
se instaurou em 2003. Essa possibilidade era vista desde o início do
ano, com os indicadores de inflação mostrando queda e o cenário
internacional amplamente favorável, graças aos baixos juros nos
EUA e ao conseqüente fluxo de
capitais para países emergentes.
A chance não foi aproveitada
em 2003, e os juros demoraram a
cair. Mesmo após o resultado desastroso do ano passado (o PIB
apresentou queda de 0,2%), as autoridades monetárias não mudaram sua posição e continuaram se
mostrando reticentes à redução
da taxa Selic.
Se por um lado a política do Copom não mudou, o cenário internacional se alterou de 2003 para
2004, com a perspectiva de elevação do juro nos EUA e, conseqüentemente, do fim da trajetória
de queda da Selic.
Assumindo que o Copom continue cortando 0,25 ponto a cada
reunião, a taxa Selic atingiria 15%
ao ano em agosto, a partir de
quando se intensificam as apostas
de elevação de juros nos EUA.
Além disso, os 15% se tornaram
um patamar psicológico. Ultrapassá-lo requer um ambiente estável e favorável interna e externamente. Não é o cenário de 2004.
Enquanto a janela de oportunidade se fecha, o BC continua imóvel em sua perseguição do centro
da meta da inflação, que estabeleceu como objetivo primordial da
política econômica. O sistema de
metas de inflação no Brasil, um
país emergente e dependente de
capital externo, combinado com
tarifas indexadas de setores semimonopolistas ou monopolistas,
requer juros mais altos.
Com o elevado grau de repasse
das oscilações do câmbio para o
IPCA (tanto pelo câmbio em si
quanto pelos preços administrados), os juros precisam ficar altos
para compensar a variação dos
preços sobre os quais a política
monetária não tem efeito com a
queda dos preços livres da economia, o que é feito com contenção
da atividade.
À medida que cresce a possibilidade de ganhos em outros mercados, os investidores passam a melhor analisar suas posições. Os
que apostaram no Brasil irão enxergar um setor público amplamente endividado, um cenário
político de pouca coesão e resultados duvidosos, reformas inacabadas e ineficazes, bem como um
ajuste externo pautado em fatores
favoráveis: preços de commodities altos e atividade interna fraca.
Nesse caso, a uma pequena desvalorização do real pode seguir
uma inversão do fluxo e, quando
a saída de capitais se instaurar, os
juros não poderão cair para poder
amenizar o movimento e seus
efeitos sobre o câmbio e a inflação. Dependendo da magnitude
desse movimento, ele pode até requerer elevação da Selic.
Em resumo, o Brasil está perdendo a chance de testar novos
pisos para os juros. Até o fim do
ano essa janela tende a se fechar
mais. O alerta fica para a intensidade do movimento de alta da Selic, caso necessário. A dose e o período de aplicação da política monetária serão preponderantes para determinar se ela irá apertar estritamente o necessário ou se irá
seguir estrangulando a economia.
Silvia Domit é analista econômica
da consultoria Global Invest
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