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VIZINHOS EM CONFLITO
Divergência entre Argentina e Uruguai sobre instalação de fábricas de celulose na fronteira vira crise diplomática
Brasil intervém na "guerra das papeleiras"
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA A GUALEGUAYCHÚ
O recrudescimento da crise diplomática entre Uruguai e Argentina nos últimos dias fez o Brasil
procurar os sócios do Mercosul
para tratar do tema e tentar destravar a chamada "guerra das papeleiras" -o conflito entre os vizinhos pela instalação, em território uruguaio, de duas multinacionais produtoras de celulose.
Embora a diplomacia brasileira
repita que se trata de um problema bilateral, e não do Mercosul,
antes de viajar ao Japão o chanceler Celso Amorim conversou com
todos os envolvidos na questão.
Telefonou duas vezes para o colega uruguaio, Reinaldo Gargano.
Falou do assunto com o chanceler
argentino, Jorge Taiana. Também
ouviu Leila Rachid, chanceler do
Paraguai, o outro sócio do bloco
que assiste à disputa.
Amorim conversou também
com a chancelaria da Finlândia. É
que no centro do conflito está a
finlandesa Botnia, uma das indústrias em obras no Uruguai. Com
30% de suas instalações construídas na cidade uruguaia de Fray
Bentos, a Botnia anunciou investimento de US$ 1 bilhão na fábrica
-o maior investimento da história do Uruguai e o maior dos
finlandeses fora do país.
A preocupação finlandesa com
os rumos do crise também chegou ao Planalto. A presidente da
Finlândia, Tarja Halonen, falou
diretamente com Lula no encontro que tiveram no dia 6.
Estaca zero
Enquanto Halonen se reunia
com o presidente brasileiro, o
conflito entre Uruguai e Argentina dava sinais de que está longe
do fim. E foi justamente a Botnia
que colocou a última pedra na
tentativa de trégua entre os países.
Em março, os presidentes uruguaio, Tabaré Vázquez, e argentino, Néstor Kirchner, acertaram
uma trégua de 90 dias. O trato é
que as "papeleiras" paralisariam
suas obras enquanto se fazia um
estudo independente do impacto
ambiental (as fábricas estão sendo
construídas às margens do rio
Uruguai, fronteira entre Argentina e Uruguai, águas de uso compartilhado pelos vizinhos).
Em troca, os ambientalistas e os
moradores das cidades argentinas
na fronteira -Gualeguaychú e
Colón- que protestam contra as
obras liberaram as passagens terrestres com o Uruguai, bloqueadas havia mais de 40 dias.
Dias depois, ruiu a tentativa de
encontro entre Vázquez e Kirchner -e a Botnia anunciou que só
pararia as obras por dez dias. A
decisão causou reação em Gualeguaychú, que voltou a fazer os
bloqueios por tempo indeterminado. Em pleno feriado da Semana Santa, apenas uma passagem
terrestre entre os vizinhos ficou liberada (leia texto nesta página).
Com as negociações de volta à
estaca zero, e com os apelos do
Uruguai para levar a questão ao
Mercosul e a tribunais internacionais, ficou difícil para Brasília
apenas acompanhar o conflito. O
Uruguai diz que os piquetes já
causaram perdas de US$ 400 milhões. E, se continuarem, até exportações brasileiras que usam as
estradas como rota alternativa ao
Chile poderiam ser afetadas.
A intervenção de Amorim, nos
bastidores, na crise de proporções
inéditas no Mercosul acontece às
vésperas da cúpula América Latina e UE. Programada para maio, a
reunião é considerada simbólica
para as negociações com a Europa. Além de já azedar as reuniões
entre os sócios, a "guerra" entre
os vizinhos também causa problemas à imagem do Mercosul.
Simpatia pró-Uruguai
Apesar de enxergar erro nas atitudes de uruguaios e de argentinos, há uma certa simpatia pró-Uruguai na diplomacia brasileira.
A percepção é que eventual desistência dos finlandeses e dos espanhóis -donos da segunda fábrica- em pôr dinheiro no país
pode afugentar negócios e aproximar mais os uruguaios dos Estados Unidos.
Além das reiteradas defesas de
seus ministros de um acordo de livre comércio com os americanos,
Vázquez tem encontro agendado
para maio com George W. Bush.
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