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Moradores bloqueiam estrada há 67 dias
DA ENVIADA A GUALEGUAYCHÚ
"Qualquer estudo ambiental sério vai demonstrar que as indústrias contaminam. Queremos as
papeleiras longe daqui", disse Estela de Lanterna, aposentada da
cidade argentina de Gualeguaychú, enquanto passava a caneca
de mate aos companheiros.
Na última quinta-feira, o grupo
da assembléia de moradores fazia
plantão no bloqueio na principal
passagem terrestre entre Uruguai
e Argentina, que já dura 67 dias. A
última interrupção total começou
no dia 3, sem data para terminar
-embora com cada vez mais
pressão contrária.
Do outro lado da ponte sobre o
rio Uruguai, a cerca de 50 km, está
a uruguaia Fray Bentos, onde se
erguem duas fábricas de pasta de
celulose. Só os poucos moradores
que vivem lá e trabalham na Argentina e pequenos fazendeiros
da região podem passar. Os demais têm que desviar cerca de 300
km para encontrar a única passagem hoje liberada entre os vizinhos.
As empresas de transporte uruguaias ameaçam parar de levar
cargas e pessoas à Argentina se os
piquetes continuarem depois da
Semana Santa.
Apesar das críticas recentes da
Casa Rosada aos bloqueios, os assembleístas seguem com o protesto, sem ameaças de desalojamento e com infra-estrutura da
prefeitura de Gualeguaychú.
A prefeitura cedeu um carro de
apoio e provê policiamento na
área, onde há barracas e banheiros. Os manifestantes explicam o
apoio oficial que irrita os uruguaios: a cidade acredita que, com
as fábricas, vai perder seu apelo
turístico. Além do Carnaval mais
tradicional do país, com direito a
sambódromo, há parques e praias
ao longo do rio.
Nenhum estudo completo do
impacto ambiental das fábricas,
aceito por argentinos e uruguaios,
foi feito até agora. Um relatório
do Banco Mundial, um dos potenciais financiadores das obras,
recomenda que as indústrias forneçam maiores informações de
seus métodos de produção.
O que é sabido é que, se instaladas, as fábricas de pasta de celulose terão ao menos um inconveniente para o turismo: o cheiro característico -semelhante ao de
ovo podre- que liberam.
Mas para os moradores de Fray
Bentos, também cidade turística
da região, a relação custo/benefício vale a pena. "Toda fábrica contamina alguma coisa, mas não é
como eles dizem. Agora temos
emprego", diz Rodolfo Soñora,
52, vigilante de uma das indústrias, a Botnia.
Ele fazia parte da "Comissão de
Apoio a Fonte de Trabalho", entidade criada há cinco anos, quando piorou a situação econômica
de Fray Bentos, que tem 22 mil
habitantes e hoje é um pólo decadente de exportação de carne. Soñora ganhava 6.000 pesos uruguaios, quando arranjava emprego na construção civil, e agora ganha 16 mil (R$ 1.400).
As duas fábricas juntas -Ence
e Botnia- vão gerar cerca de
8.000 empregos diretos e indiretos, num dos maiores complexos
da indústria de papel do mundo.
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