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Estabilidade e liquidez ampliam fusões
Neste ano, foram protocolados no Cade até a semana passada 199 pedidos, quase a metade de todo o ano passado -423
País registra "boom" de
aquisições semelhante ao que ocorreu nos anos 90, fruto das privatizações desencadeadas por FHC
VALDO CRUZ
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O cenário de estabilidade da
economia brasileira associado
à alta disponibilidade de dinheiro no mercado internacional acelerou os processos de fusão e incorporação de empresas no Brasil, criando uma nova
onda de aquisições similar à registrada no final dos anos 90. É
o que mostra os registros do
Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), responsável pela autorização dessas operações.
Neste ano, foram protocolados no Cade até a semana passada 199 pedidos do que é classificado no órgão de atos de
concentração, quase a metade
de todo o ano passado -423.
"A liquidez vai às compras",
define a presidente do Cade,
Elizabeth Farina, sobre o movimento de fusões e incorporações de empresas aqui e no exterior. Ela destaca que parte
dos pedidos encaminhados ao
órgão é reflexo de operações
envolvendo empresas de outros países com filial no Brasil.
Farina lembra que o "boom"
de aquisições de empresas dos
anos 90 foi fruto do processo de
privatização desencadeado durante o governo Fernando
Henrique Cardoso. Tanto que,
em 2000, foram protocolados
nada menos do que 668 atos de
concentração de mercado.
Logo depois, houve um arrefecimento desse processo
quando as empresas passaram
então a reacomodar-se no mercado. Agora, acredita Farina, a
melhora do quadro econômico
num momento de excesso de liquidez internacional está acelerando as operações de fusão e
incorporação de empresas.
"O que se assiste agora é que,
com uma liquidez alta, queda
no risco Brasil, estabilidade
econômica, o panorama para
negócios aqui é muito atrativo e
gera esse processo. Trata-se de
um fenômeno internacional
que tem reflexos aqui", diz.
Gigantes
Nos últimos meses, foram divulgadas operações de vulto no
Brasil. A cervejaria portuguesa
Cintra foi comprada pela AmBev. A Coca-Cola comprou a
Mate Leão, a Petrobras, associada com a Braskem e Ultra,
incorporou a Ipiranga. E, mais
recentemente, numa operação
ainda não protocolada no Cade,
a Gol comprou a Varig.
Além desses negócios, outros
tiveram destaque. O Bradesco
adquiriu os negócios da American Express no Brasil. As Lojas
Americanas compraram a rede
Submarino.
Duas operações externas que
tiveram reflexos no Brasil, protocoladas no Cade, envolveram
os setores de alimentos e medicamentos. A Nestlé comprou a
marca de alimentos para bebê
Gerber da Novartis. A Johnson
& Johnson incorporou a divisão da Pfizer que fabrica produtos para cuidados de saúde livres de prescrição médica.
Pela legislação atual, os atos
de concentração precisam ser
notificados ao Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência
até 15 dias depois da efetivação
do negócio. A obrigatoriedade
vale para operações em que
uma das empresas tenha concentração de mercado acima de
20% ou quando uma das envolvidas apresente no Brasil faturamento bruto de, no mínimo,
R$ 400 milhões anual.
Antes de serem julgadas no
Cade, as aquisições são analisadas pela Seae (Secretaria de
Acompanhamento Econômico) e pela SDE (Secretaria de
Direito Econômico), que apresentam pareceres ao conselho.
Os negócios que comprometem o funcionamento do mercado podem ser barrados pelos
conselheiros.
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