São Paulo, segunda-feira, 16 de abril de 2007

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Álcool centraliza cúpula energética

Hugo Chávez vai insistir na criação do Gasoduto do Sul, megaempreendimento que ligaria Venezuela a Argentina

Lula deve formalizar ingresso do Brasil como sócio-fundador do Banco do Sul, proposta venezuelana de alternativa ao FMI

Reuters
Trabalhadores fixam cartaz do encontro sobre energia, em Isla Margarita (Venezuela)


FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A ISLA DE MARGARITA

Confirmada em dezembro, a 1ª Cúpula Energética da Comunidade Sul-Americana de Nações tem início hoje na Venezuela movida pelas controvérsias em torno do álcool, um tema apenas lateral na época.
Quatro meses depois, a recente aproximação do Brasil e dos EUA para o desenvolvimento desse combustível, seguida das críticas do anfitrião, Hugo Chávez, levaram o assunto para o centro do encontro.
O álcool se transformou numa espécie de guerra fria entre os governos Lula e Chávez, que evitam ataques diretos, mas têm deixado claro divergências quanto ao uso do combustível.
Na semana passada, Chávez afirmou que "já derrotamos a Alca, agora derrotemos o álcool", mas ressalvou que "nunca brigaremos com Lula. Nosso inimigo é o império norte-americano". Na cúpula, deve defender que o gás natural, e não o álcool, é o melhor substituto para a gasolina.
"A mesma quantidade de álcool que o presidente dos EUA quer para substituir a gasolina, a Venezuela está em condições de produzir em gás", afirmou Chávez, na semana passada.
Para a cúpula, o presidente venezuelano voltará a propor a integração baseada no gás natural, insistindo na criação do chamado Gasoduto do Sul, um megaempreendimento que ligaria a Venezuela à Argentina.
Ontem, durante o "Alô, Presidente", Chávez defendeu ainda a criação de uma rede de pólos petroquímicos pela região.
O ministro de Energia e Petróleo da Venezuela, Rafael Ramírez, procurou minimizar a discussão em torno do álcool, afirmando ontem que "será apenas um dos temas". Segundo ele, serão discutidos ainda a criação da Opegasur (Organização dos Países Exportadores de Gás da América do Sul), o Gasoduto do Sul, o Banco do Sul e outros temas de integração energética regional.
Já o Brasil está preparado para defender e vender o álcool. A ofensiva começou na sexta-feira, quando o assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia, publicou em dez países latino-americanos, entre os quais a Venezuela e a Argentina, um artigo defendendo o combustível de críticas de "Fidel Castro e outros presidentes amigos" e enumerando as supostas vantagens.
Segundo a Folha apurou, as divergências fizeram com que o documento preliminar, elaborado por representantes técnicos dos 12 países da Casa (Comunidade Sul-Americana de Nações), tivesse teor vago.
O texto ainda deverá ser modificado pelos chanceleres (hoje) e na reunião final entre os presidentes (amanhã).
A pedido da Argentina, o documento deve incluir menção às ilhas Malvinas. O arquipélago, de domínio britânico, é reclamado por Buenos Aires e provocou guerra entre os dois países, encerrada há 25 anos.

Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve chegar hoje de manhã à Venezuela. Antes de ir à Isla de Margarita, a comitiva descerá em Barcelona (300 km de Caracas), onde encontra Chávez. Ali será assinado um documento para a criação de uma joint venture entre a Braskem, do grupo Odebrecht, e a estatal venezuelana Pequiven.
O acordo dará início aos estudos para a criação de um pólo petroquímico, com investimentos previstos de US$ 4 bilhões a US$ 4,5 bilhões.
Em Isla de Margarita, Lula deve formalizar o ingresso do Brasil como sócio-fundador do Banco do Sul, uma proposta de Chávez para servir de alternativa regional ao FMI. Também participam do projeto Argentina, Bolívia, Paraguai e Equador.
Lula deve voltar ao Brasil amanhã, após o encerramento.


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