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Brics podem ter rede de financiamento conjunto
Focos serão infraestrutura, energia, sustentabilidade ambiental, agronegócio e inovação
Segundo o presidente do
BNDES, ideia de criar banco
comum para os quatro
países "é muito prematura e
nem sequer foi discutida"
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
SIMONE IGLESIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os bancos de desenvolvimento dos quatro países do
Bric (Brasil, Rússia, Índia e
China) assinaram ontem um
acordo de cooperação para possibilitar financiamentos conjuntos de projetos no próprio
bloco e, de acordo com o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social), Luciano
Coutinho, gerar futuramente
"uma rede" para atuar também
junto a outros países em desenvolvimento.
O acordo foi firmado pelos
presidentes Luiz Inácio Lula da
Silva e Dmitri Medvedev (Rússia), pelo dirigente Hu Jintao
(China) e pelo primeiro-ministro Manmohan Singh (Índia) e
terá como foco as áreas de infraestrutura, energia e eficiência energética, sustentabilidade ambiental, agronegócio e
inovação tecnológica.
Eles também defenderam
que as reformas dos organismos financeiros ocorram ainda
neste ano. A do Banco Mundial,
na reunião da semana que vem,
e a do FMI (Fundo Monetário
Internacional), na reunião do
G20, em novembro.
Segundo Coutinho, a questão
dos financiamentos dos bancos
de desenvolvimento também
deverá voltar a ser discutida rapidamente, já numa reunião
em junho, porque o grupo
"quer velocidade".
Ele explicou didaticamente
como o processo poderá funcionar na prática: um investimento da Índia no Brasil poderá ter financiamento tanto do
BNDES quanto do Eximbank
indiano e um cofinanciamento
de um terceiro país.
Coutinho disse que a ideia de
criar um banco comum para os
quatro países "é muito prematura e nem sequer foi discutida", mas ele admitiu que há a
intenção de acelerar estudos
para que os negócios entre os
Brics possam ser em moedas
nacionais, dispensando o dólar
ou o euro. É o que o Brasil e a
Argentina tentam fazer, ainda
de forma incipiente.
Moeda comum
A ideia chinesa de uma moeda comum dos Brics, porém,
"está ainda muito distante",
conforme Coutinho, explicando que as trocas em moedas nacionais podem ser em forma de
um crédito para um país e um
crédito recíproco do outro, "para, assim, dar liquidez, sem a
necessidade de uma terceira
moeda".
A declaração final do encontro afirma que os quatro países
"entendem e dão suporte às aspirações do Brasil e da Índia"
de ter maior peso na ONU (Organização das Nações Unidas).
Entretanto, não especifica
apoio direto à pretensão de ambos de virem a ocupar cadeiras
permanentes no Conselho de
Segurança. Rússia e China já fazem parte desse conselho.
Ibas
Depois de receber Hu Jintao,
que antecipou sua partida para
a China por causa do terremoto
que matou mais de 600 pessoas
e feriu outras 10 mil, Lula se
reuniu com o presidente da
África do Sul, Jacob Zuma, e
com o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh.
Os três presidentes assinaram acordo trilateral para o
lançamento de dois satélites,
um de estudos climáticos e outro de observação da Terra.
Lula afirmou que a criação do
Ibas (fórum político formado
em 2003 para fortalecer o grupo no diálogo com os países ricos) é a resposta "a uma ordem
internacional desigual e injusta". Uma ordem, segundo ele,
"incapaz de resolver antigos
problemas, como a pobreza extrema e a fome de milhões".
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