São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2010

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Brics podem ter rede de financiamento conjunto

Focos serão infraestrutura, energia, sustentabilidade ambiental, agronegócio e inovação

Segundo o presidente do BNDES, ideia de criar banco comum para os quatro países "é muito prematura e nem sequer foi discutida"

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

SIMONE IGLESIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os bancos de desenvolvimento dos quatro países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) assinaram ontem um acordo de cooperação para possibilitar financiamentos conjuntos de projetos no próprio bloco e, de acordo com o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho, gerar futuramente "uma rede" para atuar também junto a outros países em desenvolvimento.
O acordo foi firmado pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dmitri Medvedev (Rússia), pelo dirigente Hu Jintao (China) e pelo primeiro-ministro Manmohan Singh (Índia) e terá como foco as áreas de infraestrutura, energia e eficiência energética, sustentabilidade ambiental, agronegócio e inovação tecnológica.
Eles também defenderam que as reformas dos organismos financeiros ocorram ainda neste ano. A do Banco Mundial, na reunião da semana que vem, e a do FMI (Fundo Monetário Internacional), na reunião do G20, em novembro.
Segundo Coutinho, a questão dos financiamentos dos bancos de desenvolvimento também deverá voltar a ser discutida rapidamente, já numa reunião em junho, porque o grupo "quer velocidade".
Ele explicou didaticamente como o processo poderá funcionar na prática: um investimento da Índia no Brasil poderá ter financiamento tanto do BNDES quanto do Eximbank indiano e um cofinanciamento de um terceiro país.
Coutinho disse que a ideia de criar um banco comum para os quatro países "é muito prematura e nem sequer foi discutida", mas ele admitiu que há a intenção de acelerar estudos para que os negócios entre os Brics possam ser em moedas nacionais, dispensando o dólar ou o euro. É o que o Brasil e a Argentina tentam fazer, ainda de forma incipiente.

Moeda comum
A ideia chinesa de uma moeda comum dos Brics, porém, "está ainda muito distante", conforme Coutinho, explicando que as trocas em moedas nacionais podem ser em forma de um crédito para um país e um crédito recíproco do outro, "para, assim, dar liquidez, sem a necessidade de uma terceira moeda".
A declaração final do encontro afirma que os quatro países "entendem e dão suporte às aspirações do Brasil e da Índia" de ter maior peso na ONU (Organização das Nações Unidas). Entretanto, não especifica apoio direto à pretensão de ambos de virem a ocupar cadeiras permanentes no Conselho de Segurança. Rússia e China já fazem parte desse conselho.

Ibas
Depois de receber Hu Jintao, que antecipou sua partida para a China por causa do terremoto que matou mais de 600 pessoas e feriu outras 10 mil, Lula se reuniu com o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, e com o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh.
Os três presidentes assinaram acordo trilateral para o lançamento de dois satélites, um de estudos climáticos e outro de observação da Terra.
Lula afirmou que a criação do Ibas (fórum político formado em 2003 para fortalecer o grupo no diálogo com os países ricos) é a resposta "a uma ordem internacional desigual e injusta". Uma ordem, segundo ele, "incapaz de resolver antigos problemas, como a pobreza extrema e a fome de milhões".


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