São Paulo, sexta-feira, 16 de abril de 2010

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China investe mais em pesquisa e inovação

País supera demais integrantes do Bric em recursos aplicados nessa área, aponta estudo divulgado em evento paralelo ao encontro

Chineses enviaram 17 participantes a seminário sobre o tema em Brasília; já os russos escalaram quatro, e os indianos, seis

Sergio Lima/Folha Imagem
A partir da esq., Medvedev, Lula, Hu e Singh, em Brasília

CLAUDIA ANTUNES
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

A China avança mais rápido do que os demais países do Bric tanto nos investimentos em ciência e tecnologia quanto no envolvimento do setor produtivo nos esforços de inovação, segundo estudo apresentado ontem em seminário paralelo à cúpula do grupo, organizado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Dados compilados pelo pesquisador Luiz Ricardo Cavalcante, da Divisão de Estudos Setoriais do Ipea, mostram que os investimentos chineses em pesquisa e desenvolvimento tecnológico passaram de cerca de 0,8% do PIB em 2000 para 1,44% em 2008, último dado disponível. No período, o Brasil foi de 1% para 1,09%, recuperando-se de queda para 0,8% em 2004. Os investimentos russos subiram no início da década, mas voltaram a cair. A Índia ficou estagnada até 2006.
A vantagem da China é mais clara porque o país cresceu à média anual de 8% na década recente -os gastos absolutos também ficam maiores. "Isso não é trivial", disse Cavalcante. Porém, afirmou, a marca brasileira é superior à da maioria dos países em desenvolvimento. Argentina e México, por exemplo, investem menos em aprimoramento tecnológico.
Ele mostrou ainda que a China chegou ao padrão dos países ricos quando se mede a participação das empresas -privadas, públicas ou mistas- nos investimentos em pesquisa. Enquanto no Brasil 52% deles ainda são bancados diretamente pelo governo, entre os chineses essa proporção caiu para 25%.
No seminário, com representantes de centros de estudos dos quatro Brics, concordou-se em que é difícil medir, em curto prazo, o resultado efetivo das políticas pró-pesquisa.
Desde os anos 90, o Brasil criou fundos setoriais e incentivos fiscais e promulgou a Lei de Inovação (2004), a fim de aumentar a cooperação entre universidades e empresas. A participação brasileira em estudos chancelados pelo Instituto para a Informação Científica foi de 0,5% em 1990 para 2,5% em 2008, mas o percentual de descobertas depositadas no escritório de patentes americano não passa de 0,08%.
O indiano Rakesh Basant disse que a contabilização de patentes é instrumento "inadequado" para medir a inovação -EUA e Japão, por exemplo, exerciam proteção patentária muito antes do Trips (1994), o acordo multilateral sobre propriedade intelectual.
Basant disse que é importante ver a qualidade das inovações e a capacidade do país de avançar sozinho a partir do aperfeiçoamento de tecnologias existentes. De acordo com seus dados, China e Índia têm mais patentes registradas do que Rússia e Brasil, mas as descobertas destes últimos são mais citadas em patentes posteriores.
Ele avaliou que as capacidades tecnológicas dos três países são complementares e que a cooperação é possível. Energia foi um dos campos citados.
Zheng Bingwen, do Instituto da América Latina da China, avaliou que o desempenho de seu país ainda é "modesto". A meta é investir 2,5% do PIB em pesquisa até 2020, disse. "Toda crise é seguida de nova revolução tecnológica que será o motor da nova fase de crescimento. A inovação fica com a parte do leão nos planos do governo chinês contra a crise global."
Havia 17 chineses no seminário de dois dias do Ipea -eram 4 russos e 6 indianos. A comitiva de Hu Jintao na cúpula foi a maior dos três visitantes, ocupando dois hotéis de Brasília. Num deles, o país montou centro de informação para a imprensa, com três funcionários fluentes em português.


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