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LUÍS NASSIF
Analisando o analista
A análise de fatos complexos permite toda sorte de
subjetivismo. A própria análise
do "risco Brasil" é exemplo disso.
Quando o mercado está para cima, ressaltam-se apenas os pontos positivos; para baixo, os negativos. O país continua o mesmo,
mas a maneira de o analista
olhar varia de acordo com seus
interesses.
Na área política ocorre o mesmo. Há analistas com fino senso
prospectivo, que acertam quase
sempre, e outros que erram sistematicamente. Só que, como jornal do dia seguinte serve para
embrulhar carne, não há diferenciação entre ambos.
Sobre esse estilo, recebi análise
divertida de Luiz Guilherme Piva, sob o título "Manual de Análise Política - Eleições 2002".
Diz ele:
"1) Espante-se com os números
das pesquisas de intenções de voto. Com todas. Mesmo que elas
saiam uma após outra, às vezes
no mesmo dia. Esqueça a metodologia, as margens de erro, as
listagens e as comparações. (...)
2) Depois enumere os fatos e aspectos mais importantes (escolha
quatro ou cinco, quaisquer que
sejam) do quadro político, ainda
que não demonstre nenhuma relação entre eles, e mesmo que eles
sejam de impacto muito desigual.
3) Registrada uma desavença
qualquer entre membros do
PSDB e do PFL e/ou do PMDB,
corra e seja o primeiro a escrever
sobre a ruína da aliança que elegeu e sustentou FHC. (...) Havendo em seguida a reconciliação,
ou ficando evidente que era apenas um bate-boca que não atrapalhou nenhuma votação governista no Congresso, (...) afirme
que o governo liberou emendas
para sua base se manter unida.
4) Sobre os índices elevados de
Lula nas pesquisas, há dois caminhos: o primeiro, dizer que eles
representam o descrédito total da
população quanto a FHC, que está sendo rejeitado; o segundo, dizer que toda eleição é assim e que
Lula está destinado a perder. (...)
5) Sobre os índices de José Serra, escreva que eles são ridículos.
Se ele subir, diga que a subida demorou. Se ele, com índices altos,
ali se mantiver por um período,
diga que ele empacou. (...) Se ele
vencer as eleições, glorifique-se
com o vaticínio de que Lula estava destinado a perder. Se ele perder, capitalize o que dissera no
início, quando ele tinha ridículos
percentuais nas pesquisas, sobre
as dificuldades que ele teria para
crescer.
6) Dê importância sempre às
declarações de ACM. Está certo,
ele foi ameaçado de cassação no
Senado, renunciou, perdeu importância no governo, sua bancada parlamentar está muito
fraca, está escanteado no seu
partido, tentou bancar a manutenção de Roseana e perdeu, tentou a aliança com Ciro Gomes e
perdeu (...), está numa situação
muito ruim, mas escreva que
"ACM é ACM".
7) Duvide sempre de que o
PMDB fechará com Serra, apesar
de essa aliança estar em curso há
dois anos, de a ala oposicionista
do partido estar à míngua, de
Itamar Franco estar sem opção
política e de a cúpula do partido
passar os dias e as noites com Serra e FHC. Diga que é jogo de cena. (...) Se mais e mais se confirmar a aliança, fale do fisiologismo do PMDB, das benesses do
governo federal, da falta de escrúpulos dos políticos ou, por fim,
da volatilidade do quadro.
8) Creia sempre nas notinhas
dos jornais. Em todas. De qualquer jornal. Amplie-as e reproduza-as. Elas renderão análises e
conclusões fantásticas. (...) Revele
que houve reunião entre um candidato (não precisa dizer o nome) e Roberto Marinho (pode-se
também usar "reunião na mansão do Cosme Velho'). Fale de
caixa dois. Faça notas desacreditando o "noticiário superficial" e
revolvendo as "verdades ocultas".
E termine com reticências..."
A Aneel explica
A propósito da coluna de ontem, José Mário Abdo, da Aneel
(Agência Nacional de Energia
Elétrica), esclarece que a agência
não autorizava o repasse imediato do efeito da variação cambial
sobre a energia de Itaipu porque
a lei não autorizava. Tanto assim
que foi necessária uma medida
provisória para se ter a autorização. Logo, a agência atuou de
acordo com a lei, e não de forma
voluntariosa, como sustentou a
coluna.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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