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UE cobra mais do Brasil para fechar Doha
País terá de ceder em áreas como serviços e bens industriais para compensar a redução dos subsídios agrícolas dos EUA
Negociações sobre acordo para tentar fechar Doha começam hoje, em Paris, e prosseguem amanhã e sexta-feira, em Bruxelas
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS
Na véspera de três dias de negociações comerciais tidas como decisivas para eventualmente fechar a Rodada Doha, o
comissário europeu do Comércio, Peter Mandelson, jogou
água fria no otimismo que o ministro brasileiro Celso Amorim
havia vertido momentos antes:
"Amorim terá que fazer um
pouco mais [de concessões], se
quiser que seu otimismo se
transforme em realidade na negociação", disse Mandelson, ao
cruzar, na avenida Kléber, com
dois jornalistas brasileiros que
saíam da residência da embaixadora brasileira em Paris, 400
metros adiante, depois de uma
conversa com Amorim.
Ele justificava o otimismo
por acreditar que há "avanços
palpáveis" nas propostas sobre
a mesa para destravar a Rodada
Doha, lançada na capital do Qatar, em 2001, e virtualmente
paralisada desde então.
O chanceler cita, por exemplo, o fato de que já se fala abertamente em reduzir o montante dos subsídios que os Estados
Unidos dão a seus produtores
agrícolas do teto atual de US$
22 bilhões para, no mínimo,
US$ 18 bilhões. O presidente do
Comitê de Negociações Agrícolas, o neozelandês Crawford
Falconer, chegou a mencionar,
em recente relatório, a redução
para o que chamou de "low
teens", o que, em tradução livre, significaria as dezenas iniciais (de bilhões de dólares).
Para mostrar o significado
dessa redução, Amorim diz
que, "se, na Conferência Ministerial de Cancún [2003], tivessem sido oferecidos os US$ 22
bilhões, de repente a gente
aceitaria".
O problema com o otimismo
de Amorim é que os Estados
Unidos ainda não formalizaram nenhuma proposta firme
para a redução de seus subsídios, um dos dois grandes nós
da negociação agrícola, que, por
sua vez, emperra todos os demais pontos.
A expectativa é a de que o façam em algum dos três momentos de negociações que começam hoje, em Paris, e prosseguem amanhã e sexta-feira,
em Bruxelas. Em Paris, haverá
uma reunião entre um grupo
maior de países, mas, em Bruxelas, será apenas o G4, formado por Estados Unidos, União
Européia, Brasil e Índia.
Amorim acredita que, até julho, esteja delineado o contorno básico da negociação, não
apenas entre os quatro grandes
atores, mas também com os demais 146 países que formam
parte da Organização Mundial
do Comércio.
Para isso, no entanto, seria
preciso que também a União
Européia entrasse com a sua
parte, aumentando a oferta de
corte nas tarifas de importação,
o segundo grande nó agrícola.
Mesmo nessa área, Amorim
vê avanço, na medida em que os
europeus começaram oferecendo redução média de 39%
nas suas tarifas e, agora, "já estão chegando perto do que pede
o G20", grupo de países em desenvolvimento que quer reduzir o protecionismo agrícola do
mundo rico e cobra o corte de
54% nas tarifas européias.
A frase de Mandelson aos jornalistas brasileiros indica que,
antes de ceder nessa área, os
europeus querem concessões,
tanto do Brasil como dos outros integrantes do G20, em
áreas como serviços e bens industriais.
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