São Paulo, quarta-feira, 16 de maio de 2007

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UE cobra mais do Brasil para fechar Doha

País terá de ceder em áreas como serviços e bens industriais para compensar a redução dos subsídios agrícolas dos EUA

Negociações sobre acordo para tentar fechar Doha começam hoje, em Paris, e prosseguem amanhã e sexta-feira, em Bruxelas


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Na véspera de três dias de negociações comerciais tidas como decisivas para eventualmente fechar a Rodada Doha, o comissário europeu do Comércio, Peter Mandelson, jogou água fria no otimismo que o ministro brasileiro Celso Amorim havia vertido momentos antes:
"Amorim terá que fazer um pouco mais [de concessões], se quiser que seu otimismo se transforme em realidade na negociação", disse Mandelson, ao cruzar, na avenida Kléber, com dois jornalistas brasileiros que saíam da residência da embaixadora brasileira em Paris, 400 metros adiante, depois de uma conversa com Amorim.
Ele justificava o otimismo por acreditar que há "avanços palpáveis" nas propostas sobre a mesa para destravar a Rodada Doha, lançada na capital do Qatar, em 2001, e virtualmente paralisada desde então.
O chanceler cita, por exemplo, o fato de que já se fala abertamente em reduzir o montante dos subsídios que os Estados Unidos dão a seus produtores agrícolas do teto atual de US$ 22 bilhões para, no mínimo, US$ 18 bilhões. O presidente do Comitê de Negociações Agrícolas, o neozelandês Crawford Falconer, chegou a mencionar, em recente relatório, a redução para o que chamou de "low teens", o que, em tradução livre, significaria as dezenas iniciais (de bilhões de dólares).
Para mostrar o significado dessa redução, Amorim diz que, "se, na Conferência Ministerial de Cancún [2003], tivessem sido oferecidos os US$ 22 bilhões, de repente a gente aceitaria".
O problema com o otimismo de Amorim é que os Estados Unidos ainda não formalizaram nenhuma proposta firme para a redução de seus subsídios, um dos dois grandes nós da negociação agrícola, que, por sua vez, emperra todos os demais pontos.
A expectativa é a de que o façam em algum dos três momentos de negociações que começam hoje, em Paris, e prosseguem amanhã e sexta-feira, em Bruxelas. Em Paris, haverá uma reunião entre um grupo maior de países, mas, em Bruxelas, será apenas o G4, formado por Estados Unidos, União Européia, Brasil e Índia.
Amorim acredita que, até julho, esteja delineado o contorno básico da negociação, não apenas entre os quatro grandes atores, mas também com os demais 146 países que formam parte da Organização Mundial do Comércio.
Para isso, no entanto, seria preciso que também a União Européia entrasse com a sua parte, aumentando a oferta de corte nas tarifas de importação, o segundo grande nó agrícola.
Mesmo nessa área, Amorim vê avanço, na medida em que os europeus começaram oferecendo redução média de 39% nas suas tarifas e, agora, "já estão chegando perto do que pede o G20", grupo de países em desenvolvimento que quer reduzir o protecionismo agrícola do mundo rico e cobra o corte de 54% nas tarifas européias.
A frase de Mandelson aos jornalistas brasileiros indica que, antes de ceder nessa área, os europeus querem concessões, tanto do Brasil como dos outros integrantes do G20, em áreas como serviços e bens industriais.


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