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Fazenda fiscaliza 300 atacadistas de SP
Ação foi adotada para verificar se estabelecimentos cumprem lei estadual que determina nova forma de cobrar o ICMS
Comerciantes de material de construção, alimentos, higiene e limpeza foram visitados por 600 fiscais; Fazenda não comenta
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Cerca de 300 atacadistas e
varejistas do Estado de São
Paulo foram alvo ontem de fiscalização da Secretaria da Fazenda para verificar o cumprimento da legislação que fixa
nova forma de cobrar o ICMS,
segundo a Folha apurou com
atacadistas e associações que
representam o comércio.
Desde fevereiro deste ano, o
ICMS de produtos de 13 setores (bebidas alcoólicas, medicamentos, perfumaria, produtos de higiene pessoal e limpeza, alimentos, ração animal,
materiais de construção, autopeças, pilhas e baterias, lâmpadas e papel) passou a ser recolhido antecipadamente pelo fabricante -regime conhecido
como substituição tributária-,
e não mais em toda a cadeia de
circulação do produto.
A Fazenda alterou a forma de
cobrar o ICMS para reduzir a
sonegação no varejo e também
evitar que atacadistas e indústrias paulistas enfrentem concorrência desleal com produtos vindos de Estados que concedem benefícios fiscais.
A Folha apurou que cerca de
600 fiscais trabalharam ontem
na operação chamada "Fronteiras", feita na capital e nas
principais cidades do Estado. A
Secretaria da Fazenda não comentou os resultados da ação
até o fechamento desta edição.
A fiscalização, feita em atacadistas e varejistas de materiais
de construção, produtos de higiene, limpeza e beleza, bebidas e alimentos, teve como objetivo identificar a circulação
de produtos remetidos por fabricantes instalados em outros
Estados, principalmente de
Minas Gerais e do Paraná. Foi
identificada a falta de recolhimento antecipado de ICMS em
estabelecimentos fiscalizados.
Com a nova forma de cobrar
o ICMS, quem receber em São
Paulo mercadorias de outros
Estados, como o atacadista e o
varejista, fica obrigado a recolher antecipadamente o ICMS
para o fisco paulista. No caso
do atacadista, ele tem de recolher o imposto dele e do varejista e, no do varejista, só o dele,
mas antes da revenda dos produtos para o consumidor.
A rede de lojas C&C Casa e
Construção confirmou que foi
fiscalizada. A ação fiscal também ocorreu, segundo a Folha
apurou, na Telhanorte, outra
grande rede do ramo, que não
confirmou a ação da Fazenda.
"A C&C apóia a nova legislação do ICMS do Estado de São
Paulo, que instituiu o regime
de substituição tributária. E já
promoveu todas as alterações
necessárias nos seus sistemas
informatizados para atender a
essa nova legislação, quer seja
nas compras de fornecedores
quer seja nas vendas a seus
consumidores, estando, portanto, plenamente adaptada ao
cumprimento dessa nova sistemática", informa a rede por
meio de nota. A Telhanorte diz
desconhecer o assunto, "pois
não recebeu visita de fiscais ou
notificação de órgãos governamentais até o presente momento", segundo nota.
Consultor jurídico da Anamaco (Associação Nacional dos
Comerciantes de Material de
Construção) e vice-presidente
da Associação Comercial de
São Paulo, Roberto Ordine diz
que o comércio apóia a substituição tributária, mas que a
ação fiscal foi precipitada.
"O comércio precisa de prazo
para se adaptar, porque várias
mudanças precisam ser feitas,
como alterações no sistema de
software e logística. O que o comércio precisa é de apoio e
orientação, antes da fiscalização da Fazenda, para se adequar às mudanças." O prazo
necessário seria de seis meses.
A Adasp (Associação de Distribuidores e Atacadistas do
Estado de São Paulo) apóia a
ação de fiscalização da Fazenda
paulista e diz que a substituição tributária vai fortalecer o
setor e a indústria paulistas.
"Os atacadistas começam a
dar preferência ao produto feito no Estado", afirma João Fagundes Jr., diretor-executivo
da Adasp. "Os atacadistas paulistas estavam sofrendo muito
com a concorrência predatória
de atacadistas de fora de São
Paulo. Agora, se forem vender
em São Paulo, diretamente para o varejo, por exemplo, o varejo será o substituto tributário
e é quem terá de recolher o
ICMS para a Fazenda paulista.
O que vai acontecer é que será
melhor comprar produto aqui
do que fora", diz Fagundes Jr.
A expectativa do setor atacadista é que, com o novo regime,
os estabelecimentos paulistas
recuperem o "terreno perdido". "A substituição veio como
uma solução para um problema que enfrentamos há 20
anos. Os atacadistas paulistas
sofreram muito com a ação dos
atacadistas de fora que vendem
produtos com alíquotas do
ICMS inferiores às cobradas
em São Paulo. Eles conseguem
vender com preços inferiores
devido à guerra fiscal, e não por
causa de sua eficiência e logística", afirma Thomaz Simões de
Lima, diretor-executivo do Cerealista Maranhão, que abastece o interior.
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