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Missão brasileira à China "desandou", afirma especialista
Para secretário do Conselho Brasil-China, Lula chegará ao país na segunda sem um plano de ação
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
A visita do presidente Lula à
China na segunda-feira "desandou", segundo o secretário-executivo do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC),
Rodrigo Tavares Maciel.
Em abril, a China ultrapassou os EUA como maior parceiro comercial do Brasil. Mas, segundo Maciel, o Itamaraty não
trata o país como prioridade.
"Os investimentos entre os
dois países são mínimos, e a
presença das empresas brasileiras lá é muito pequena."
O advogado Maciel, que trabalha com a China há oito anos
e passa dois meses por ano no
país, falou do Rio de Janeiro,
por telefone, com a Folha, antes de embarcar para Xangai.
FOLHA - O sr. diz que a visita do
presidente Lula à China desperdiça
uma oportunidade. Por quê?
RODRIGO MACIEL - Essa visita foi
prometida por Lula ao vice-presidente chinês, Xi Jinping,
em fevereiro. De lá para cá, algo
desandou. A missão empresarial está no vazio.
No cronograma inicial, essa
missão seria antecedida por
uma visita do chanceler Celso
Amorim. O presidente ficaria
cinco dias e visitaria Pequim e
Xangai. Agora fica menos de 48
horas, o chanceler não foi antes. Iriam 500 empresários,
agora não devem chegar a cem.
Lula ficará mais tempo na Turquia, para onde mal exportamos, do que na China, nosso
maior parceiro comercial hoje.
FOLHA - Há quem diga que o Itamaraty quer deixar claro à China o
descontentamento pela falta de investimentos e pela falta de apoio à
pretensão brasileira de uma vaga no
Conselho de Segurança da ONU.
MACIEL - O governo brasileiro
continua totalmente míope em
relação à China. Reduzir a missão, a viagem, parece birra do
Itamaraty. Não é assim que se
lida com os chineses.
O Itamaraty tem uma posição arrogante. A China já é a
terceira maior economia do
mundo, deve se tornar a segunda do mundo neste ano ou no
máximo em 2010. Precisamos
colocar nossa violinha no saco,
pois nós precisamos mais deles
do que os chineses de nós.
O empresariado é prejudicado. Por que os Estados Unidos
vendem carne de porco à China
e o Brasil não consegue?
FOLHA - O que precisa ser feito?
MACIEL - Olha, quando eu visito
a embaixada chinesa em Brasília ou o consulado chinês em
São Paulo ou no Rio, sou recebido por vários diplomatas chineses que falam português.
Não temos ninguém no Itamaraty, ou no governo brasileiro,
que fale chinês. Você chega à
embaixada brasileira em Pequim e é recebido por secretárias que falam espanhol ou inglês. Não tem cabimento.
FOLHA - Não é prioridade?
MACIEL - Faltam visitas de alto
nível. O governo brasileiro promove mais visitas à África do
que à Ásia. O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes,
nunca foi à China. Nem Miguel
Jorge, da Indústria e Comércio.
Erramos feio. Achamos que o
mundo está louco para investir
no Brasil e ficamos sentados esperando. Essa estratégia não
vai funcionar com a China porque o mundo inteiro está disputando a atenção deles.
FOLHA - E os empresários brasileiros? Eles têm mais medo e desconfiança que interesse na China?
MACIEL - O empresário brasileiro não entende a China como
mercado, apenas como competidor. Do que a China compra
do mundo, 70% são manufaturados, máquinas. Empresários
desconhecem a China, e o desconhecimento leva ao desinteresse. Fui a uma palestra recente e vi os organizadores recomendando a empresários brasileiros que levassem água do
Brasil. Dizem que, há 20 anos,
os americanos levavam Gatorade na mala para a China. O Brasil está como os americanos de
20 anos atrás.
FOLHA - Como vencer esse atraso?
MACIEL - A imagem do "negócio
da China" ilude nosso empresariado, que vê a China como
um mercado inexplorado, em
que você vai vender um só produto e ficar milionário em um
ano. A China é para longo prazo, é um dos mercados mais
competitivos do mundo. Mas a
ideia de que estrangeiros sempre perdem na China é errada.
FOLHA - O Brasil exporta soja, ferro
e outras poucas matérias-primas,
enquanto importa da China produtos manufaturados. Há possibilidade de diversificar as exportações?
MACIEL - Quase impossível. O
Brasil é comprado pela China,
não exportamos. Nossa pauta
de exportações para lá é de 75%
de matérias-primas. É o exato
oposto das importações da China do resto do mundo. Não é irreversível, mas não houve esforço do governo nem da iniciativa privada para mudar isso.
Fizemos um estudo no Conselho. De 600 produtos brasileiros, 147 são procurados pelo
mercado chinês, como alimentos, lácteos, carnes, cosméticos,
produtos de higiene, autopeças,
metalurgia, máquinas. Daria
para vender hoje mesmo. Esses
setores combinados respondem pelo consumo de US$ 228
bilhões na China. O Brasil poderia dobrar suas exportações,
mas estamos longe disso.
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