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China usa crédito como moeda de troca para vender mais à AL
Chineses aplicam fórmula implementada na África, com oferta de linhas de financiamento em troca de suas mercadorias
Há uma década, os chineses
movimentavam US$ 10 bi
anuais em negócios com
países latino-americanos;
em 2009, foram US$ 201,5 bi
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo chinês nega que
pretenda ser a maior potência
do mundo, mas suas transações
comerciais e seus investimentos e financiamentos no exterior mostram que o discurso está distante da realidade, principalmente na América Latina.
Há uma década, os chineses
movimentavam US$ 10 bilhões
por ano em negócios com os
países latino-americanos. Em
2009, foram US$ 201,5 bilhões,
cifra que vem crescendo 40%
ao ano desde 2006.
Resultado: a China já desbancou os EUA como principal
parceiro comercial no continente, aplicando na região a
fórmula implementada na África: oferta de linhas de financiamento e investimentos diretos
em troca de suas mercadorias.
A Folha apurou que há pelo
menos US$ 45 bilhões em linhas de crédito disponíveis nos
bancos chineses para servirem
de moeda de troca nas negociações com a América Latina.
A Huawei, gigante chinesa
dos equipamentos de telecomunicações, é uma das empresas que oferecem esses "benefícios". Apenas a Oi tomou
US$ 1,3 bilhão com bancos chineses desde 2008.
"Servimos somente de facilitadores entre os bancos chineses e os nossos clientes", afirma
Marcelo Mattos, diretor de
marketing da Huawei.
Empresas de outros setores
também usam esses artifícios.
Evidentemente, não há nada
de errado, afinal, crédito extra
no mercado é sempre bom.
O problema é que essa relação comercial atrelada aos "benefícios" cria dúvidas sobre o
que é público e o que é privado
nessas negociações e gera desequilíbrio em favor da China.
Em 2008, dado mais recente
consolidado pela Organização
Mundial do Comércio, o deficit
da América Latina com a China
chegou a US$ 10,9 bilhões, dos
quais US$ 3,6 bilhões do Brasil.
Na ponta do lápis
A China já é o segundo parceiro comercial da Costa Rica,
ao movimentar US$ 3 bilhões
no ano passado. Em troca, comprou US$ 300 milhões em títulos da dívida do país.
Para a Venezuela, foram liberados US$ 12 bilhões em linhas
de crédito sob a condição de um
aumento de 380 mil barris diários de petróleo exportados para a China.
No Brasil, a quantia foi de
US$ 10 bilhões para que a Petrobras aumentasse em 200
mil barris por dia suas exportações nos próximos oito anos.
A Argentina também teve
US$ 10 bilhões em crédito, mas
os dois países entraram em
choque porque os argentinos
denunciaram fabricantes chineses por práticas antidumping, no início deste ano.
Segundo Xu Yingzhen, subdiretora do Ministério da China para a América Latina, 64%
de todas as reclamações da região foram feitas pelos vizinhos
argentinos.
"Não é normal. Caso não cheguemos a um acordo, a China
vai retirar seus investimentos
na Argentina", disse.
Nesse ritmo, os especialistas
acreditam que há risco de que
as empresas latino-americanas
se transformem em fornecedoras de matéria-prima, sustentando o crescimento chinês,
sem conseguir promover a venda de seus manufaturados.
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