|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Só pressão política da população traz desenvolvimento, diz Furtado
DA REPORTAGEM LOCAL
O desenvolvimento não é "fruto
de uma evolução automática, mas
de pressões políticas da população". São essas pressões "que definem o perfil de uma sociedade, e
não o valor dos bens e serviços
por ela consumidos ou acumulados". Foi com essa mensagem,
gravada e transmitida para os
participantes da Unctad, que o
economista Celso Furtado agradeceu à homenagem que a ONU
(Organização das Nações Unidas)
fez a ele na segunda-feira.
A homenagem foi feita pelo secretário-geral da Unctad, Rubens
Ricupero, em cerimônia na qual
também estavam presentes o presidente da República, Luiz Inácio
Lula da Silva, e o secretário-geral
da ONU, Kofi Annan.
Furtado, 83, não pôde, por problemas de saúde, participar da
homenagem e foi representando
por seu filho, André Furtado. Ricupero lembrou da biografia do
economista.
Cepal
Paraibano de Pombal, Celso
Furtado esteve entre os primeiros
membros da Cepal (Comissão
Econômica para a América Latina
e Caribe), criada em 1948. Escreveu "Formação Econômica do
Brasil", uma das principais, se não
a principal, análises da história
econômica brasileira.
Furtado era amigo de Raul Prébisch, fundador da Cepal e economista que criou a "teoria da deterioração dos termos de troca".
A idéia por trás da teoria era
simples para quem hoje acompanha as dificuldades dos países que
dependem das exportações de
commodities: o preço dos produtos básicos tendem sempre a cair
em relação aos preços das mercadorias mais sofisticadas.
O resultado: os países que dependem a exportação de commodities sempre enfrentam crises externas por conta da queda do valor das exportações.
A saída para essa armadilha era
a diversificação da estrutura produtiva, ou seja, a industrialização,
tornando a economia nacional
capaz de produzir e exportar bens
de maior valor.
A receita de Celso Furtado: planejamento estatal. O economista
sugeria, numa época em que a ortodoxia já recomendava as políticas tradicionais de ajuste fiscal e
combate à inflação, uma ação
mais efetiva do Estado, ao qual caberia o papel de direcionar os recursos e apoiar a diversificação
econômica.
O embaixador Ricupero lembrou que, por trás do Plano de
Metas, do presidente Juscelino
Kubitschek (1956-1961), havia os
trabalhos de Furtado sobre planejamento da economia brasileira.
Ricupero lembra que, apesar de
ter escrito 30 livros, que foram
traduzidos para dez línguas, o
economista insiste sempre em caracterizar-se como um "intelectual de ação". O secretário-geral
da Unctad enfatizou a atuação política do economista.
Foi Furtado o primeiro ministro
do Planejamento do Brasil (1962 a
1964), a convite do então presidente João Goulart.
O economista também foi
quem criou a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento
do Nordeste), a primeira agência
de desenvolvimento brasileira,
cujo objetivo era o de elaborar políticas para a região mais pobre do
país.
(MARCELO BILLI)
Texto Anterior: ONU e desenvolvimento: Lula admite importar por preço mais alto Próximo Texto: Frase Índice
|