São Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 2004

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Só pressão política da população traz desenvolvimento, diz Furtado

DA REPORTAGEM LOCAL

O desenvolvimento não é "fruto de uma evolução automática, mas de pressões políticas da população". São essas pressões "que definem o perfil de uma sociedade, e não o valor dos bens e serviços por ela consumidos ou acumulados". Foi com essa mensagem, gravada e transmitida para os participantes da Unctad, que o economista Celso Furtado agradeceu à homenagem que a ONU (Organização das Nações Unidas) fez a ele na segunda-feira.
A homenagem foi feita pelo secretário-geral da Unctad, Rubens Ricupero, em cerimônia na qual também estavam presentes o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o secretário-geral da ONU, Kofi Annan.
Furtado, 83, não pôde, por problemas de saúde, participar da homenagem e foi representando por seu filho, André Furtado. Ricupero lembrou da biografia do economista.

Cepal
Paraibano de Pombal, Celso Furtado esteve entre os primeiros membros da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe), criada em 1948. Escreveu "Formação Econômica do Brasil", uma das principais, se não a principal, análises da história econômica brasileira.
Furtado era amigo de Raul Prébisch, fundador da Cepal e economista que criou a "teoria da deterioração dos termos de troca".
A idéia por trás da teoria era simples para quem hoje acompanha as dificuldades dos países que dependem das exportações de commodities: o preço dos produtos básicos tendem sempre a cair em relação aos preços das mercadorias mais sofisticadas.
O resultado: os países que dependem a exportação de commodities sempre enfrentam crises externas por conta da queda do valor das exportações.
A saída para essa armadilha era a diversificação da estrutura produtiva, ou seja, a industrialização, tornando a economia nacional capaz de produzir e exportar bens de maior valor.
A receita de Celso Furtado: planejamento estatal. O economista sugeria, numa época em que a ortodoxia já recomendava as políticas tradicionais de ajuste fiscal e combate à inflação, uma ação mais efetiva do Estado, ao qual caberia o papel de direcionar os recursos e apoiar a diversificação econômica.
O embaixador Ricupero lembrou que, por trás do Plano de Metas, do presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961), havia os trabalhos de Furtado sobre planejamento da economia brasileira.
Ricupero lembra que, apesar de ter escrito 30 livros, que foram traduzidos para dez línguas, o economista insiste sempre em caracterizar-se como um "intelectual de ação". O secretário-geral da Unctad enfatizou a atuação política do economista.
Foi Furtado o primeiro ministro do Planejamento do Brasil (1962 a 1964), a convite do então presidente João Goulart.
O economista também foi quem criou a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), a primeira agência de desenvolvimento brasileira, cujo objetivo era o de elaborar políticas para a região mais pobre do país. (MARCELO BILLI)


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