São Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 2004

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ARTE

Tímida, Nane, mulher do secretário-geral Kofi Annan, evita flashes

Primeira-dama da ONU só quer pintar

SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ela é a "primeira-dama do mundo", conheceu dezenas de países nos cinco continentes em missões oficiais e vai conhecer outros tantos acompanhando o marido ou o substituindo quando a situação exige. Mas, se fosse seguir sua vontade, Nane Annan estaria em casa pintando.
Primeiro porque essa sueca loira de não-declarados 59 anos, 1,8 m, olhos verdes, gestos contidos e sotaque forte, casada com o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, é extremamente tímida. Quão tímida?
Ela explica em conversa com a Folha. "Hoje, conheci uma garota de dez anos num dos lugares que visitei. Todos pediam a ela que contasse sobre a experiência de viver num lugar pobre. Depois de muita insistência, a menina falou: "Mas eu não tenho nada para dizer!" Em 90% das vezes, sinto-me como ela."
Nane é muito, muito reservada, reforça sua secretária particular, Sally A. Burnheim. "Mas era pior, teve de se tornar mais social depois de se casar com o SG", diz. "SG" (pronuncia-se "és djí"), no caso, é a abreviatura em inglês do cargo de Kofi.
Imagine a agenda de dona Marisa, mulher do presidente Lula, e multiplique-a por 191 vezes, o número de países que a ONU representa -eis o tamanho da vida social dela.
Nane Maria Lagergren Cronstedt nasceu em Estocolmo, na Suécia, filha de um juiz, e sua família já gozava de relativa fama antes mesmo de ela conhecer Kofi. É que o irmão de sua mãe, o diplomata Raoul Wallenberg, virou herói ao evitar que judeus húngaros fossem deportados para a Alemanha nazista.
Formada em direito, conheceu Kofi em 1981, quando passou a trabalhar para a ONU em Genebra. Ambos se divorciaram dos primeiros casamentos, dos quais traziam três filhos: Ama e Kojo (dele) e Nina (dela).
Casaram-se três anos depois e mudaram-se para Nova York, primeiro para um apartamento funcional na Roosevelt Island, encravada no rio Hudson, depois no sofisticado apartamento oficial do secretário-geral da ONU, em Sutton Place.
O casal tem o prefeito Michael Bloomberg entre os melhores amigos. Quando em casa, mantêm um acordo de só atender compromissos sociais quatro noites por semana, que nem sempre conseguem cumprir.
Durante sua visita ao Brasil, que terminou na noite de ontem, ela participou de uma conferência sobre indústrias de criatividade, visitou a Casa Vida, instituição que abriga jovens portadores do HIV, e um CEU.
Seu último compromisso foi ontem à tarde, na Vila Madalena (zona oeste de São Paulo), aonde foi para conhecer o Cidade Escola Aprendiz, ONG coordenada por Gilberto Dimenstein, colunista e membro do Conselho Editorial da Folha.
Com um entourage de cerca de dez pessoas divididas em três carros, seis agentes da Polícia Federal e seis motociclistas da Polícia Militar, Nane circulou pelas ruas e vielas do bairro paulistano. Ali, seguindo a máxima da garota tímida de dez anos, mais perguntou do que falou.
Impecável num tailleur creme, com bolsa e sapatos bicolores bege, brincos de pérola, colar, pulseira, relógio e aliança de ouro, ela arriscava duas palavras em português: "Obrrigado". Para corrigir: "Obrriga-dá!".
Entre um compromisso e outro, ela aprendeu que tudo sempre começa com dois beijos -que ela toma a iniciativa em dar, para espanto das autoridades masculinas mais formais- e termina num cafezinho -que bebe preto, com açúcar.
No final da visita da tarde de ontem, entregou à direção da ONG dois livros para crianças que fez contando a história e explicando o papel da ONU. As ilustrações foram pintadas por ela, e Nane tapa os olhos do jornalista para que não as veja. "Tenho vergonha", disse.


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