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ARTE
Tímida, Nane, mulher do secretário-geral Kofi Annan, evita flashes
Primeira-dama da ONU só quer pintar
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
Ela é a "primeira-dama do
mundo", conheceu dezenas de
países nos cinco continentes em
missões oficiais e vai conhecer
outros tantos acompanhando o
marido ou o substituindo quando a situação exige. Mas, se fosse
seguir sua vontade, Nane Annan estaria em casa pintando.
Primeiro porque essa sueca
loira de não-declarados 59 anos,
1,8 m, olhos verdes, gestos contidos e sotaque forte, casada
com o secretário-geral da ONU,
Kofi Annan, é extremamente tímida. Quão tímida?
Ela explica em conversa com a
Folha. "Hoje, conheci uma garota de dez anos num dos lugares que visitei. Todos pediam a
ela que contasse sobre a experiência de viver num lugar pobre. Depois de muita insistência, a menina falou: "Mas eu não
tenho nada para dizer!" Em 90%
das vezes, sinto-me como ela."
Nane é muito, muito reservada, reforça sua secretária particular, Sally A. Burnheim. "Mas
era pior, teve de se tornar mais
social depois de se casar com o
SG", diz. "SG" (pronuncia-se
"és djí"), no caso, é a abreviatura
em inglês do cargo de Kofi.
Imagine a agenda de dona
Marisa, mulher do presidente
Lula, e multiplique-a por 191 vezes, o número de países que a
ONU representa -eis o tamanho da vida social dela.
Nane Maria Lagergren Cronstedt nasceu em Estocolmo, na
Suécia, filha de um juiz, e sua família já gozava de relativa fama
antes mesmo de ela conhecer
Kofi. É que o irmão de sua mãe,
o diplomata Raoul Wallenberg,
virou herói ao evitar que judeus
húngaros fossem deportados
para a Alemanha nazista.
Formada em direito, conheceu Kofi em 1981, quando passou a trabalhar para a ONU em
Genebra. Ambos se divorciaram dos primeiros casamentos,
dos quais traziam três filhos:
Ama e Kojo (dele) e Nina (dela).
Casaram-se três anos depois e
mudaram-se para Nova York,
primeiro para um apartamento
funcional na Roosevelt Island,
encravada no rio Hudson, depois no sofisticado apartamento
oficial do secretário-geral da
ONU, em Sutton Place.
O casal tem o prefeito Michael
Bloomberg entre os melhores
amigos. Quando em casa, mantêm um acordo de só atender
compromissos sociais quatro
noites por semana, que nem
sempre conseguem cumprir.
Durante sua visita ao Brasil,
que terminou na noite de ontem, ela participou de uma conferência sobre indústrias de
criatividade, visitou a Casa Vida, instituição que abriga jovens
portadores do HIV, e um CEU.
Seu último compromisso foi
ontem à tarde, na Vila Madalena (zona oeste de São Paulo),
aonde foi para conhecer o Cidade Escola Aprendiz, ONG coordenada por Gilberto Dimenstein, colunista e membro do
Conselho Editorial da Folha.
Com um entourage de cerca
de dez pessoas divididas em três
carros, seis agentes da Polícia
Federal e seis motociclistas da
Polícia Militar, Nane circulou
pelas ruas e vielas do bairro paulistano. Ali, seguindo a máxima
da garota tímida de dez anos,
mais perguntou do que falou.
Impecável num tailleur creme, com bolsa e sapatos bicolores bege, brincos de pérola, colar, pulseira, relógio e aliança de
ouro, ela arriscava duas palavras
em português: "Obrrigado". Para corrigir: "Obrriga-dá!".
Entre um compromisso e outro, ela aprendeu que tudo sempre começa com dois beijos
-que ela toma a iniciativa em
dar, para espanto das autoridades masculinas mais formais-
e termina num cafezinho -que
bebe preto, com açúcar.
No final da visita da tarde de
ontem, entregou à direção da
ONG dois livros para crianças
que fez contando a história e explicando o papel da ONU. As
ilustrações foram pintadas por
ela, e Nane tapa os olhos do jornalista para que não as veja.
"Tenho vergonha", disse.
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