São Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 2004

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França sugere não apoiar idéia de Lula sobre taxar armas

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Renaud Muselier, secretário de Estado para Relações Exteriores da França, sugeriu ontem que seu país não apóia a idéia do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, de criar uma taxa internacional sobre o comércio de armas para combater a pobreza.
Questionado sobre o perigo moral de ligar o combate à pobreza global à venda de armas, Muselier afirmou: "De um ponto de vista acadêmico, todas as propostas são analisáveis. Por razões políticas e humanas, contudo, algumas são abandonadas no meio do caminho", afirmou Muselier, sorridente, durante uma entrevista coletiva. Poderosa, a indústria bélica francesa é uma grande fonte de divisas do país.
O secretário salientou, ademais, que a França defende a criação de uma "taxa sobre todo o comércio internacional" para ajudar os países menos abastados. "O presidente Jacques Chirac já reiterou inúmeras vezes que a França está comprometida com a criação dessa taxa mundial", disse.
Muselier, que participou das sessões da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), apontou a proposta de criação dessa taxa sobre o comércio internacional como um exemplo das grandes contribuições de reuniões como a que ocorre atualmente em São Paulo.
"A Unctad é muito importante porque é um fórum de debates pacífico e democrático. Quem acompanha esse tipo de encontro sabe que, com o passar dos anos, certas idéias vão progredindo. Há uma evolução clara em certas áreas, como a que gira em torno das novas modalidades de financiamento ao desenvolvimento."
Vale lembrar que essa taxa sobre o comércio só seria eficaz se todos os grandes atores da cena econômica global aceitassem adotá-la. Caso contrário, por razões competitivas, as empresas transnacionais simplesmente a contornariam, utilizando países em que ela não existisse para realizar suas transações comerciais. Os EUA, a única superpotência mundial, não vêem com bons olhos a criação dessa taxa.
Muselier lembrou ainda que a França é favorável à entrada do Brasil no grupo dos países mais industrializados do planeta. "O presidente Chirac disse, na reunião do G8 [ocorrida na semana passada], que países como o Brasil e a África do Sul devem fazer parte do grupo. A França é favorável à ampliação do Conselho de Segurança da ONU. O Brasil e outros Estados deverão tornar-se seus membros permanentes."
O secretário disse que a União Européia fez uma "proposta abrangente ao Mercosul para tentar estreitar os laços comerciais" entre os dois blocos, mas os sul-americanos não responderam aos esforços europeus. "Para a UE, houve avanços em sua proposta. Porém, para o Mercosul, as expectativas não foram atendidas."


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