São Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 2004

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CONTA-GOTAS

Inflação é a maior desde 2001, mas núcleo de preços fica abaixo do esperado; Greenspan não vê razão para preocupação

Agora, Fed rejeita alta agressiva dos juros

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O resultado da inflação de maio nos EUA, divulgado ontem, afastou do cenário de curto e médio prazos a preocupação com uma alta agressiva das taxas de juros norte-americanas, hoje fixadas em 1% ao ano.
O presidente do Fed (o banco central dos EUA), Alan Greenspan, disse que a inflação deixou de ser uma "preocupação séria" e afirmou que a atual onda de recuperação da economia norte-americana ganhará reforço com a expansão dos investimentos.
O Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos EUA teve alta de 0,6% no mês passado, puxado, principalmente, pelos reajustes nos preços dos combustíveis e do leite. Foi a maior taxa registrada em mais de três anos.
Entretanto, o núcleo da inflação americana (que não conta variações sazonais) subiu apenas 0,2% em maio, índice abaixo das expectativas do mercado.
Anualizado, o núcleo da inflação no país caiu para 1,7% em maio, contra 1,8% em abril.
Durante depoimento no Senado, ontem, para confirmar sua renomeação na presidência do Fed, Greenspan deu uma série de declarações otimistas, que desanuviaram as preocupações do mercado financeiro, principalmente no que se refere à alta dos juros.
O movimento de alta nas taxas nos EUA é aguardado para os próximos meses e, dependendo de seu ritmo, pode ter forte impacto em economias de países emergentes como o Brasil.
A próxima reunião do Fed para decidir sobre os juros acontece nos próximos dias 29 e 30. Analistas esperam uma elevação de 0,25 ponto percentual.
"Nossa visão geral é a de que as pressões inflacionárias não devem ser uma preocupação séria no período à frente. Daí, concluímos que [o movimento de alta nos juros] deverá ser mensurado nos quadrimestres a seguir", disse Greenspan aos membros do Comitê de Bancos do Senado.
Nas últimas semanas, vários diretores do Fed vinham afirmando que o órgão poderia adotar uma política mais "agressiva" em relação à taxa de juros, caso a inflação mostrasse força nos próximos meses.
O próprio Greenspan dissera, na semana passada, que o Fed estava preparado para abandonar, se necessário, os aumentos moderados dos juros. Ao falar para investidores em Londres (via satélite), ele havia sugerido uma atuação mais agressiva da instituição, caso os preços altos do petróleo provocassem um aumento da inflação maior do que o esperado.
Pesquisa realizada entre 225 gerentes de fundos de investimentos e divulgada ontem pela corretora Merrill Lynch mostrou que 100% deles acreditavam que a inflação será "maior ou muito maior" nos próximos 12 meses.
A elevação de apenas 0,2% no núcleo da inflação conhecida ontem diminuiu a tensão e transformou a tendência de queda da Bolsa de Nova York, na parte da manhã, em uma moderada alta.

Otimismo
Demonstrando otimismo, Greenspan disse ainda que "um sentimento cada vez maior de confiança na comunidade empresarial começa a colocar os investimentos em um patamar ainda mais elevado".
"Se posso dizer dessa maneira, esse é o sapato que falta na atual expansão", afirmou.
O presidente do Fed disse também que os recentes aumentos nos preços do petróleo ainda não causam preocupação. "Pode vir a ser um problema, mas não creio que o seja agora."
Os preços da energia nos EUA subiram 4,6% em maio. Os da gasolina, 8,1%. Mas, pela primeira vez em cinco semanas, o galão (3,8 litros) do combustível na bomba caiu abaixo de US$ 2.

Confiança
O índice que mede a confiança dos consumidores na economia calculado pela Universidade de Michigan também teve impacto ontem ao apresentar uma inesperada taxa de 95,2 pontos, contra os 89,9 previstos pelo mercado.
Durante sua audiência no Senado, Greenspan apresentou, no entanto, preocupação com a diminuição no ritmo de crescimento da produtividade nos EUA combinada a uma elevação no custo das horas extras em fábricas e empresas -dois fatores potencialmente inflacionários.
"Este talvez seja o tema que mais nos preocupa neste momento", afirmou.


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