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CONTA-GOTAS
Inflação é a maior desde 2001, mas núcleo de preços fica abaixo do esperado; Greenspan não vê razão para preocupação
Agora, Fed rejeita alta agressiva dos juros
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O resultado da inflação de maio
nos EUA, divulgado ontem, afastou do cenário de curto e médio
prazos a preocupação com uma
alta agressiva das taxas de juros
norte-americanas, hoje fixadas
em 1% ao ano.
O presidente do Fed (o banco
central dos EUA), Alan Greenspan, disse que a inflação deixou
de ser uma "preocupação séria" e
afirmou que a atual onda de recuperação da economia norte-americana ganhará reforço com a expansão dos investimentos.
O Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos
EUA teve alta de 0,6% no mês passado, puxado, principalmente,
pelos reajustes nos preços dos
combustíveis e do leite. Foi a
maior taxa registrada em mais de
três anos.
Entretanto, o núcleo da inflação
americana (que não conta variações sazonais) subiu apenas 0,2%
em maio, índice abaixo das expectativas do mercado.
Anualizado, o núcleo da inflação no país caiu para 1,7% em
maio, contra 1,8% em abril.
Durante depoimento no Senado, ontem, para confirmar sua renomeação na presidência do Fed,
Greenspan deu uma série de declarações otimistas, que desanuviaram as preocupações do mercado financeiro, principalmente
no que se refere à alta dos juros.
O movimento de alta nas taxas
nos EUA é aguardado para os
próximos meses e, dependendo
de seu ritmo, pode ter forte impacto em economias de países
emergentes como o Brasil.
A próxima reunião do Fed para
decidir sobre os juros acontece
nos próximos dias 29 e 30. Analistas esperam uma elevação de 0,25
ponto percentual.
"Nossa visão geral é a de que as
pressões inflacionárias não devem ser uma preocupação séria
no período à frente. Daí, concluímos que [o movimento de alta
nos juros] deverá ser mensurado
nos quadrimestres a seguir", disse
Greenspan aos membros do Comitê de Bancos do Senado.
Nas últimas semanas, vários diretores do Fed vinham afirmando
que o órgão poderia adotar uma
política mais "agressiva" em relação à taxa de juros, caso a inflação
mostrasse força nos próximos
meses.
O próprio Greenspan dissera,
na semana passada, que o Fed estava preparado para abandonar,
se necessário, os aumentos moderados dos juros. Ao falar para investidores em Londres (via satélite), ele havia sugerido uma atuação mais agressiva da instituição,
caso os preços altos do petróleo
provocassem um aumento da inflação maior do que o esperado.
Pesquisa realizada entre 225 gerentes de fundos de investimentos
e divulgada ontem pela corretora
Merrill Lynch mostrou que 100%
deles acreditavam que a inflação
será "maior ou muito maior" nos
próximos 12 meses.
A elevação de apenas 0,2% no
núcleo da inflação conhecida ontem diminuiu a tensão e transformou a tendência de queda da Bolsa de Nova York, na parte da manhã, em uma moderada alta.
Otimismo
Demonstrando otimismo,
Greenspan disse ainda que "um
sentimento cada vez maior de
confiança na comunidade empresarial começa a colocar os investimentos em um patamar ainda
mais elevado".
"Se posso dizer dessa maneira,
esse é o sapato que falta na atual
expansão", afirmou.
O presidente do Fed disse também que os recentes aumentos
nos preços do petróleo ainda não
causam preocupação. "Pode vir a
ser um problema, mas não creio
que o seja agora."
Os preços da energia nos EUA
subiram 4,6% em maio. Os da gasolina, 8,1%. Mas, pela primeira
vez em cinco semanas, o galão
(3,8 litros) do combustível na
bomba caiu abaixo de US$ 2.
Confiança
O índice que mede a confiança
dos consumidores na economia
calculado pela Universidade de
Michigan também teve impacto
ontem ao apresentar uma inesperada taxa de 95,2 pontos, contra
os 89,9 previstos pelo mercado.
Durante sua audiência no Senado, Greenspan apresentou, no entanto, preocupação com a diminuição no ritmo de crescimento
da produtividade nos EUA combinada a uma elevação no custo
das horas extras em fábricas e empresas -dois fatores potencialmente inflacionários.
"Este talvez seja o tema que
mais nos preocupa neste momento", afirmou.
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