|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
COMENTÁRIO
Legado de Greenspan no Fed continua em questão
DO "FINANCIAL TIMES"
Parece um tanto indigno que
Alan Greenspan tivesse de
depor perante um comitê do
Congresso norte-americano ontem para ser confirmado uma vez
mais como presidente do Federal
Reserve (Fed, o banco central dos
EUA). Seu novo mandato, o quinto que ele cumprirá à frente da
instituição desde que substituiu
Paul Volcker em 1987, não estava
em dúvida. Mas, com o final de
seu período à frente do Fed se
aproximando -o prazo expira
em 2006, quando termina seu
mandato de 14 anos como membro do conselho do banco central-, o legado de Greenspan
continua em questão.
As recentes altas nos preços ao
consumidor causaram preocupação quanto à possibilidade de que
Greenspan esteja desperdiçando
a obra em progresso que herdou
de Volcker e ampliou durante todos esses anos: uma vitória secular sobre a inflação elevada.
Os temores de que esse estado
de graça do Fed seja perdido, agora, devido à demora em elevar os
juros, parecem exagerados. O surto de inflação registrado nos primeiros meses do ano tende a se
moderar. A alta deve muito a elementos específicos como um aumento nos preços dos aluguéis
imputado aos proprietários de
imóveis. Com o mercado de trabalho e a economia exibindo ainda um grau considerável de elasticidade, o custo da unidade de
mão-de-obra se mantendo baixo
e as taxas de juros de longo prazo
recuando de forma considerável,
o risco de que crescimento e inflação escapem ao controle não é
grande o bastante para justificar
aumentos grandes ou preventivos
nas taxas de juros. Os dados reconfortantes sobre os preços ao
consumidor divulgados ontem,
mostrando alta próxima às expectativas do mercado e abaixo dos
temores dos pessimistas, justificam alta de 0,25 ponto percentual,
e não de 0,5 ponto percentual, na
taxa de juros básica, quando o
conselho do Fed se reunir para
discutir a política monetária.
Na verdade, uma ameaça mais
séria ao legado de Greenspan deriva dos desequilíbrios que continuam a existir depois do boom do
final dos anos 90 e da política fiscal frouxa que suas intervenções
públicas no debate sobre cortes de
impostos e déficits orçamentários
tiveram o efeito de encorajar no
começo do governo Bush.
Os prognósticos mais desfavoráveis de seus críticos ferrenhos,
indicando que os EUA afundariam em um mar de dívidas pessoais e empresariais, não se concretizaram. Manter taxas baixas
de juros por diversos anos permitiu que os domicílios e as companhias consertassem os estragos
em seus balanços.
Mas nenhuma economia com
déficit em conta corrente da ordem de 5% do PIB (Produto Interno Bruto), avaliações elevadas
e pouco realistas no mercado de
ações e um índice de poupança
insustentavelmente baixo pode
alegar ter atingido um equilíbrio
seguro. Algumas das piores acusações talvez tenham sido rechaçadas, mas o júri ainda não chegou a um veredicto sobre os anos
de Greenspan no comando da política monetária.
Tradução de Paulo Migliacci
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Clube do milhão: Sob Lula, cresce total de milionários Índice
|