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Para analistas, BC só errou na dose
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Banco Central exagerou um
pouco na dose, mas usou o remédio correto. O ciclo de alta dos juros, que terminou ontem, poderia
ter acabado alguns meses antes,
na avaliação de analistas ouvidos
pela Folha. Mas todos dizem acreditar que o aperto que começou
em setembro era necessário para
segurar a inflação.
A escalada dos juros era inevitável. "Havia um ritmo de crescimento muito intenso, combinado
a um choque de custo por causa
do aumento dos preços das commodities", lembra Luis Suzigan,
analista da LCA.
Mas Suzigan está entre os analistas que avaliam, apesar de não
usar a expressão, que o BC foi
"mais realista que o rei". Ele elenca os custos do excesso de conservadorismo da política monetária:
1) os juros reais altos atraíram
capital especulativo, ajudando a
alimentar ainda mais a tendência
de queda da taxa de câmbio;
2) o câmbio reduzido afetou os
investimentos dos exportador,
engavetados ou adiados por conta
da perda de rentabilidade;
3) o BC acabou comprando
uma inflação latente, ao deixar o
câmbio cair muito, já que, quando o real se desvalorizar, a tendência é pressionar a inflação.
A inflação latente, diz Suzigan,
cria um risco para a política monetária: ter que interromper mais
cedo o processo de redução de juros que, prevê a maioria do analistas, deve começar no último trimestre deste ano.
Antonio Licha, economista do
grupo de conjuntura da UFRJ
(Universidade Federal do Rio de
Janeiro), chama a atenção para o
que ele chama de "miopia" do BC,
que "olhou demais para a inflação
corrente e pouco para a futura".
Como Suzigan, ele concorda
que o aperto foi necessário, mas
diz que ele já poderia ter acabado.
"A análise das perspectivas de inflação mostrava que a tendência
era de queda a partir de maio. O
juros poderiam ter sido mantidos
já em março", diz.
Licha ressalta que "o teto da meta de inflação não está em perigo
há alguns meses. O que interessa é
não ultrapassar o teto de 7% e tentar minimizar os efeitos colaterais
do aperto monetário no nível de
atividade e da taxa de câmbio".
Mais até do que o impacto direto na atividade econômica, reduzindo a procura por bens e serviços por meio dos juros mais altos,
o que preocupa os analistas são os
efeitos negativos das altas dos juros no câmbio e, por tabela, nos
investimentos dos exportadores.
Heron do Carmo, presidente do
Corecon-SP (Conselho Regional
de Economia de São Paulo), lembra que o repasse do câmbio para
os preços é um fenômeno assimétrico: mais rápido e forte na alta,
mais lento e fraco na queda da taxa de câmbio.
Ele diz que as altas de juros que
ocorreram a partir de janeiro foram desnecessárias. "O recuo da
inflação que está ocorrendo agora
já era favas contadas em dezembro", comenta Heron. Ele até arrisca uma interpretação para o excesso de conservadorismo do Copom. A autoridade monetária, diz
ele, poderia estar se antecipando
ao ano eleitoral, levando os juros a
níveis mais altos do que o necessário agora, para não ter que voltar a elevá-los em período eleitoral, onde as pressões e turbulências seriam maiores.
O BC foi conservador, todos
concordam, mas nem todos avaliam que essa não é a atitude que a
autoridade deveria ter tomado,
ainda que tenha pecado por um
excesso de conservadorismo. Melhor excesso que falta, dizem. "Política monetária é isso. O BC tem
que ser mais conservador que a
média", diz Alexandre Póvoa,
economista do Banco Modal.
Póvoa, apesar de avaliar que as
últimas duas altas realizadas pelo
Copom têm efeito "contestável",
faz uma avaliação positiva do desempenho do BC durante o período de aperto. Ele tem só um receio. O de que o Copom também
seja muito conservador na hora
de baixar os juros, atrasando o
início do processo de redução.
Mas, diz Póvoa, "consideradas as
imperfeições da economia brasileira e da meta relativamente
apertada", o BC está indo bem.
Carlos Fagundes, professor de
finanças do Ibmec-SP, elenca algumas das "imperfeições": a prática de indexação de preços de
serviços públicos e a pouca experiência brasileira com sistema de
metas de inflação.
Mas, diz Fagundes, "não existe
remédio melhor e menos indolor
para acabar com a inflação". A
única maneira de conter preços,
argumenta, é reduzindo o crescimento. "O governo tem sido perseverante e corajoso neste sentido", argumenta.
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