São Paulo, terça-feira, 16 de junho de 2009

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Agrofolha

Confinamento de gado tem queda no país

Com falta de crédito e baixa rentabilidade, produtores estimam recuo de 15% na quantidade de cabeças destinadas a regime de engorda

Segundo associação de criadores, produtor se sente inseguro sobre rentabilidade ao comparar custos com os valores futuros do boi

Silva Junior - 31.out.08/Folha Imagem
Bois confinados em fazenda no interior de São Paulo; preço e falta de crédito devem reduzir número de animais em confinamento

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

Os pecuaristas estão mais cautelosos no confinamento de gado neste ano. A previsão de falta de rentabilidade e as dificuldades na obtenção de crédito fizeram os produtores pisar no freio. Na avaliação da Assocon (Associação Nacional dos Confinadores), o recuo deve ficar próximo de 15% no país. Já o Imea (Instituto de Economia Agropecuária), de Mato Grosso, avalia que a redução deve ser de 11% no Estado, o maior produtor nacional de gado.
Luciano Vacari, superintendente da Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso), diz que os pecuaristas estão fazendo as contas e muitos não veem rentabilidade no final do processo. Os "confinamentos caseiros", como ele chama os pequenos e médios confinadores do Estado, olham para os custos do gado, do milho e da soja, comparando-os com os valores futuros do boi na BM&F, e não se sentem seguros de rentabilidade.
Já Juan Lebrón, diretor da Assocon, entidade que reúne grandes confinadores, diz que um dos principais problemas do setor continua sendo a falta de crédito. Mesmo assim, ele acredita que os associados da Assocon, que representam o confinamento de 600 mil animais por ano, vão elevar em 6% a atividade neste ano.
Essa alta ocorre porque esses confinadores estão mais capitalizados, já estão com o gado para engorda no pasto e, por serem tradicionais confinadores, têm estrutura adequada. Como estão na atividade há mais tempo, esses grandes confinadores trabalham com a média de ganho entre um ano e outro, diz.
Na avaliação do diretor da Assocon, a arroba de boi gordo pode atingir R$ 90 em São Paulo neste ano, o que deve auxiliar a fechar as contas.
O confinamento nacional deve somar 2,5 milhões de cabeças neste ano, com a liderança de Goiás, onde a previsão é de 1 milhão de cabeças. Mato Grosso deve reunir 400 mil, vindo a seguir São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.
Vacari diz que os grandes criadores sofrem com a falta de crédito. No caso dos menores, o maior problema é a ausência de rentabilidade.

Primeiros passos
Enquanto alguns reavaliam a continuidade no confinamento, outros dão os primeiros passos para entrar na atividade. É o caso de Ademar Antônio Marçal, do oeste da Bahia.
Com uma fazenda de 45 mil hectares, produzindo algodão e soja em 23 mil deles, Marçal diz que vai iniciar a atividade de confinamento neste ano. Na avaliação dele, os produtores de grãos serão também grandes pecuaristas nos próximos anos, uma vez que podem reduzir os custos da engorda do gado utilizando a própria safra de grãos.
Marçal quer fazer um consórcio com outros produtores. Além do gado próprio, ele vai oferecer estrutura e alimentação para o gado de terceiros, interessados nessa parceria.
O primeiro passo é melhorar a genética do gado. Marçal pretende usar 600 hectares na cria e recria do gado, formar parceria com grupo de pequenos pecuaristas e, melhorando a genética, produzir gado para a terminação de carcaça.
Essa parceria vai ser um jogo de "ganha e ganha" para as duas partes, segundo Marçal. Apesar de eventuais dificuldades na atividade, ele diz que não se pode pensar apenas em um ano, mas fazer um planejamento de pelo menos cinco. Mesmo que se perca em um ou em outro ano, na média do período é possível obter lucros, diz ele.
Marçal acredita que o oeste baiano, hoje com 2 milhões de cabeças, deva atingir 5 milhões rapidamente. O Estado do Tocantins, que é mais fraco de lavoura, deve fornecer o animal para ser "terminado" no oeste da Bahia.
Com uma indústria de descaroçamento de algodão na fazenda, Marçal pretende utilizar subprodutos de algodão e de soja na alimentação do gado.
Vacari e Lebrón concordam com Marçal num ponto: os produtores de grãos devem se tornar grandes pecuaristas. É mais fácil mandar bois e carcaças para longas distâncias do que enviar soja e milho, diz Vacari. Há agregação de valor, acrescenta.
O confinamento é muito interessante para o produtor de grãos, diz Vacari. Ele adverte, no entanto, que esse produtor tem de ter know-how, do contrário pode ter sérios problemas. "Já ocorreu com muitos."


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