São Paulo, Quarta-feira, 16 de Junho de 1999
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BLOCOS COMERCIAIS
Para o presidente do Brasil, bloco de países do Cone Sul tem direitos
Bloco não vai pedir favor à União Européia, afirma FHC

Ichiro Guerra/Folha Imagem
O presidente FHC, entre Malan (esq.) e Lampreia, durante a cúpula do Mercosul, no Paraguai


ANDRÉ SOLIANI
DENISE CHRISPIM MARIN

enviados especiais a Assunção

O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem que o Mercosul não irá pedir nenhum favor à União Européia, ao longo da possível negociação de um acordo de livre comércio entre os blocos.
"Não estamos pedindo favores. Estamos dizendo que temos um direito", afirmou FHC na entrevista que encerrou a reunião de cúpula do Mercosul.
FHC deixou claro que o Mercosul não teria forças para se contrapor à manutenção da Política Agrícola Comum, que garante subsídios e proteção comercial aos produtores europeus. Mas acrescentou que esse sistema "vai contra a natureza da economia globalizada".
"Não cabe a manutenção de uma política de tarifas (de importação) elevadas para garantir a proteção a um setor", declarou o presidente.
Nas reuniões entre os principais negociadores do Mercosul ficou definida a estratégia do bloco de propor o início imediato de negociação com a UE e seu encerramento em 2005. Essa decisão deverá ser apresentada nos dias 28 e 29, quando os representantes dos dois blocos deverão decidir se haverá ou não um acordo para ser discutido.
Com a definição dos prazos, o Mercosul pretende manter uma tática de negociar com os europeus simultaneamente com os Estados Unidos, com quem polemiza nas discussões da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), que conta com o mesmo prazo.
Por enquanto, a possibilidade de acordo entre o Mercosul e a UE está em suspenso. Ficou abalada na semana passada, quando a França vetou a negociação da abertura do setor agrícola antes de 2003 -o prazo final da Rodada do Milênio da OMC (Organização Mundial do Comércio).
Entretanto, o ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia, afirmou que está confiante no lançamento das negociações ainda neste mês. Ele acrescentou que vem discutindo paralelamente com a França e que esse país estaria disposto a arcar sozinho com o peso de ter inviabilizado um acordo que é de interesse da UE.
A prioridade do Brasil não é a convergência macroeconômica do Mercosul. Segundo Lampreia, os acordos que envolvem temas comerciais devem ser acertados primeiro.
Lampreia diz que "antes de um pacto de convergência macroeconômica, vem uma política comum de defesa comercial".
Esse acordo, que está em negociação, estabelecerá as regras para os processos contra terceiros países suspeitos de práticas desleais de comércio.
Atualmente, cada membro do Mercosul tem a sua própria legislação sobre o assunto, o que enfraquece o poder de barganha do bloco.


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