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TRABALHO
No mês passado, até setores da indústria paulista que vinham contratando até maio registraram mais demissões
Emprego industrial tem pior junho desde 95
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A indústria paulista fechou
4.564 postos de trabalho no mês
passado, o que fez o nível de emprego do setor chegar ao pior resultado para um mês de junho
nos últimos oito anos.
A queda no nível de emprego foi
de 0,3% no mês passado na comparação com maio. Em 1995, a retração havia sido de 0,72% -o
que, na época, significou 15.857
vagas a menos.
Pesquisa realizada pela Fiesp
(Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e divulgada
ontem mostra que as demissões
na indústria ocorreram pelo terceiro mês consecutivo e se espalharam por setores que até maio
estavam contratando -caso das
metalúrgicas ligadas ao setor automotivo, das empresas químicas
e das fábricas de papel e celulose.
"Até o mês de maio, o nível de
emprego crescia pouco, mas
mantinha certa estabilidade. Só
que em junho esse quadro mudou, e para pior", diz a economista Clarice Messer, diretora do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp. De janeiro a maio, as contratações superavam as demissões em 3.141
postos de trabalho.
Nos últimos 12 meses, a indústria cortou 53.458 vagas -o que
significa queda de 3,45% no nível
de emprego. No acumulado do
ano, entretanto, 1.423 postos foram perdidos (retração de
0,09%). Em 2002, a situação no
primeiro semestre foi mais grave
(queda de 1,06%).
Na avaliação de Messer, o mais
preocupante é que os setores que
estavam contratando até maio se
"contaminaram" e passaram a
demitir em junho. Foi o caso dos
fabricantes de veículos. De janeiro
a maio, o nível de contratação estava em 0,08%, mas a queda de
0,24% em junho foi decisiva para
inverter a tendência positiva.
Com isso, o resultado do primeiro
semestre foi negativo em 0,16%.
Ligado à cadeia automotiva, o
setor de estamparia de metais teve
o mesmo comportamento. Até
maio, o nível de emprego era positivo (0,37%), mas só no mês passado caiu 2,19%. Essa queda acabou refletindo no resultado do semestre todo, que ficou negativo
em 1,82% no número de vagas.
O setor de papel e celulose também inverteu a tendência de contratação. A variação do nível de
emprego era de 0,2% até maio.
Mas, após a queda de 0,77% registrada em junho, o setor fechou o
semestre negativo em 0,57%.
"É uma mudança significativa
porque esses são setores que têm
peso no parque industrial paulista", diz Messer. Em maio, 18 dos
47 setores pesquisados pela Fiesp
tiveram desempenho positivo. No
mês passado, apenas 14.
Segundo a diretora da Fiesp, a
explicação para essa piora no
quadro do emprego está nos juros
elevados, que encarecem o crédito, e na queda do poder aquisitivo. A combinação desses fatores
leva o consumidor a comprar menos, a indústria a vender menos e
os estoques a se acumularem, diz.
"A situação só não é pior porque há um quadro de expectativas
das pessoas em relação ao governo e à queda da inflação", afirma.
Para Messer, há espaço para o
corte de juros na próxima reunião
do Copom (Comitê de Política
Monetária). "Se o pai da criança
[Sérgio Werlang, ex-diretor do
BC e um dos responsáveis pelo
sistema de metas da inflação no
país] diz que há espaço para um
corte de quatro pontos percentuais na taxa de juros básica, eu
assino embaixo."
Apesar dos resultados negativos, a economista afirma que a indústria tem condições de recuperar as vagas perdidas. "Ainda
acredito que dá para terminar o
ano com as contratações empatando em zero a zero com as demissões. Historicamente, a partir
do terceiro trimestre há mais fôlego para a indústria", diz.
Entre os setores que tiveram resultado positivo em junho no nível de emprego estão os que se relacionam a atividades exportadoras e agrícolas -caso das indústrias de forjaria (+3,29), materiais
ferroviários (+2,65%), fundição
(+1,03%) e trefilação (+0,52%).
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