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São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 2003

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TRABALHO

No mês passado, até setores da indústria paulista que vinham contratando até maio registraram mais demissões

Emprego industrial tem pior junho desde 95

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A indústria paulista fechou 4.564 postos de trabalho no mês passado, o que fez o nível de emprego do setor chegar ao pior resultado para um mês de junho nos últimos oito anos.
A queda no nível de emprego foi de 0,3% no mês passado na comparação com maio. Em 1995, a retração havia sido de 0,72% -o que, na época, significou 15.857 vagas a menos.
Pesquisa realizada pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e divulgada ontem mostra que as demissões na indústria ocorreram pelo terceiro mês consecutivo e se espalharam por setores que até maio estavam contratando -caso das metalúrgicas ligadas ao setor automotivo, das empresas químicas e das fábricas de papel e celulose.
"Até o mês de maio, o nível de emprego crescia pouco, mas mantinha certa estabilidade. Só que em junho esse quadro mudou, e para pior", diz a economista Clarice Messer, diretora do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp. De janeiro a maio, as contratações superavam as demissões em 3.141 postos de trabalho.
Nos últimos 12 meses, a indústria cortou 53.458 vagas -o que significa queda de 3,45% no nível de emprego. No acumulado do ano, entretanto, 1.423 postos foram perdidos (retração de 0,09%). Em 2002, a situação no primeiro semestre foi mais grave (queda de 1,06%).
Na avaliação de Messer, o mais preocupante é que os setores que estavam contratando até maio se "contaminaram" e passaram a demitir em junho. Foi o caso dos fabricantes de veículos. De janeiro a maio, o nível de contratação estava em 0,08%, mas a queda de 0,24% em junho foi decisiva para inverter a tendência positiva. Com isso, o resultado do primeiro semestre foi negativo em 0,16%.
Ligado à cadeia automotiva, o setor de estamparia de metais teve o mesmo comportamento. Até maio, o nível de emprego era positivo (0,37%), mas só no mês passado caiu 2,19%. Essa queda acabou refletindo no resultado do semestre todo, que ficou negativo em 1,82% no número de vagas.
O setor de papel e celulose também inverteu a tendência de contratação. A variação do nível de emprego era de 0,2% até maio. Mas, após a queda de 0,77% registrada em junho, o setor fechou o semestre negativo em 0,57%.
"É uma mudança significativa porque esses são setores que têm peso no parque industrial paulista", diz Messer. Em maio, 18 dos 47 setores pesquisados pela Fiesp tiveram desempenho positivo. No mês passado, apenas 14.
Segundo a diretora da Fiesp, a explicação para essa piora no quadro do emprego está nos juros elevados, que encarecem o crédito, e na queda do poder aquisitivo. A combinação desses fatores leva o consumidor a comprar menos, a indústria a vender menos e os estoques a se acumularem, diz.
"A situação só não é pior porque há um quadro de expectativas das pessoas em relação ao governo e à queda da inflação", afirma.
Para Messer, há espaço para o corte de juros na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). "Se o pai da criança [Sérgio Werlang, ex-diretor do BC e um dos responsáveis pelo sistema de metas da inflação no país] diz que há espaço para um corte de quatro pontos percentuais na taxa de juros básica, eu assino embaixo."
Apesar dos resultados negativos, a economista afirma que a indústria tem condições de recuperar as vagas perdidas. "Ainda acredito que dá para terminar o ano com as contratações empatando em zero a zero com as demissões. Historicamente, a partir do terceiro trimestre há mais fôlego para a indústria", diz.
Entre os setores que tiveram resultado positivo em junho no nível de emprego estão os que se relacionam a atividades exportadoras e agrícolas -caso das indústrias de forjaria (+3,29), materiais ferroviários (+2,65%), fundição (+1,03%) e trefilação (+0,52%).


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