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BC pune fraudes em venda de jogadores
De 2002 para cá, 14 times de futebol foram punidos por irregularidades com atletas transferidos para clubes do exterior
Multas somam US$ 13,2 mi na venda de 58 jogadores; clubes negociam atletas mas não prestam contas do destino do dinheiro
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Nos últimos quatro anos, 14
times de futebol foram punidos
pelo Banco Central por causa
de irregularidades na venda de
jogadores para o exterior. De
2002 para cá, esses clubes foram multados em US$ 13,2 milhões por problemas na transferência de 58 atletas, entre
eles vários com passagem pela
seleção, como o goleiro Taffarel
e o meia Leonardo.
As informações foram obtidas pela Folha nos processos
julgados nos últimos anos pelo
Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional, conhecido como "Conselhinho".
O órgão, composto por representantes do governo e do mercado financeiro, julga, em última instância, processos administrativos iniciados pelo BC.
As punições impostas se referem a negociações feitas na
década de 90, mas cujos processos só foram julgados em
definitivo nos últimos quatro
anos. A maior multa foi aplicada ao Internacional (RS): cerca
de US$ 2,3 milhões, em valores
de 2002, ano da decisão final
do "Conselhinho". O clube gaúcho foi punido por problemas
na venda de 14 jogadores, entre
eles os atacantes Christian e
Paulinho Criciúma, o zagueiro
Célio Silva e o goleiro Taffarel.
O nome de Taffarel chega a
aparecer em dois processos diferentes, relativos a duas de
suas transferências para clubes
estrangeiros. O BC encontrou
irregularidades tanto na sua
ida do Internacional para o
Parma (Itália), em 90, como na
do Atlético Mineiro para o Galatasaray (Turquia), em 98.
O Atlético teve sua multa
confirmada em 2003. A punição, de US$ 1,098 milhão, se refere a infrações na venda de sete jogadores, incluindo, além
de Taffarel, o zagueiro Cléber e
o atacante Aílton.
Depois do Internacional,
Atlético, Botafogo e São Paulo
foram os clubes com mais jogadores negociados de forma irregular -sete cada um.
Se for considerado o valor
das multas, as maiores punições foram aplicadas a Internacional, Vitória (pela negociação
irregular de quatro jogadores,
entre eles Vampeta) e Sport
(pela venda de seis atletas).
Dos 14 clubes punidos, 5 são
paulistas -entre eles, a maior
punição foi aplicada ao São
Paulo. A multa, decidida pelo
"Conselhinho" em 2005, foi de
US$ 840 mil por problemas na
negociação de jogadores como
o meia Leonardo e os atacantes
Guilherme e Cláudio Moura.
Entre janeiro e junho deste
ano nenhum processo envolvendo times de futebol foi julgado pelo "Conselhinho".
Sonegação
Em todos os casos julgados
pelo "Conselhinho", a irregularidade foi a mesma: o clube negociou jogadores com times de
outros países, mas não prestou
contas do destino do dinheiro.
A legislação atualmente em vigor exige que, nesses casos, os
recursos sejam trazidos para o
Brasil por meio de um banco.
Segundo técnicos do BC, alguns clubes optam pelo uso de
doleiros para movimentar os
dólares das transferências. Essa prática costuma estar relacionada com outras irregularidades, como sonegação fiscal e
evasão de divisas.
"Se o clube de futebol, dolosamente, não fechou contratos
de câmbio relativamente a
transações e a cessões de passes
de seus atletas ao exterior, mas
promoveu, efetivamente, o ingresso clandestino no país da
moeda estrangeira, praticou
operação ilegítima de câmbio",
diz o voto de um dos membros
do "Conselhinho" anexado ao
processo contra o São Paulo.
Em outros casos, os clubes
nem sequer trazem ao país os
dólares. Numa situação dessas,
são duas as explicações possíveis: uma, menos grave, é o uso
do dinheiro para pagar pela
contratação de outros atletas
vindos de equipes estrangeiras.
Outra possibilidade é o clube
depositar o dinheiro em paraísos fiscais, sem passar pelo Brasil, para fugir da Receita Federal, prática que é punida com
mais rigor pelo Banco Central.
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