São Paulo, quinta-feira, 16 de agosto de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SALTO NO ESCURO

Estudantes antiprivatização invadem plenário em sessão que teve denúncia de sequestro político e infarto de deputado

Caso Copel destrói Assembléia do Paraná

Denis Ferreira Netto/"O Estado do Paraná"
Manifestante contrário à venda da Copeç agita bandeira do PSTU no plenário da Assembléia do PR


RONALDO SOARES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

A mais longa e tumultuada sessão da história da Assembléia Legislativa do Paraná terminou com o plenário ocupado por manifestantes e sem que os deputados conseguissem votar um projeto popular que tenta impedir a privatização da Copel (a companhia energética do Estado).
A sessão, aberta às 14h30 de anteontem, foi interrompida mais de 21 horas depois, às 11h40 de ontem, quando cerca de 3.000 manifestantes -em sua maioria estudantes- derrubaram as grades da Assembléia e invadiram o plenário para protestar contra a venda da Copel.
Cerca de 800 manifestantes ocuparam o local, que foi depredado -microfones roubados, cadeiras destruídas, sistema de som danificado, carpete arrancado e paredes pichadas.
A venda da Copel, prevista para outubro e citada como certa no mais recente acordo do governo federal com o FMI, divide o Estado: com lucro de R$ 430 milhões em 2000, a empresa goza de boa imagem. Tem 2,8 milhões de consumidores e 6.165 funcionários.
Entoando o Hino Nacional e gritos de torcidas de futebol, eles tomaram as galerias e subiram na mesa da presidência.
Um policial ficou ferido. Quatro estudantes foram detidos e liberados mais tarde. Aproximadamente 120 policiais cercaram o prédio da Assembléia Legislativa, mas até a conclusão desta edição o plenário continuava ocupado pelos estudantes.
Eles prometeram só deixar o local se a sessão não fosse retomada antes de segunda-feira -para que a oposição formule sua linha de ação.
No entanto, o presidente da assembléia, Hermas Brandão (PTB), após reunião à tarde com o governador Jaime Lerner (PFL), marcou para hoje de manhã o reinício da sessão, em um anexo conhecido como ""plenarinho".
Os líderes da invasão disseram que a depredação foi um "incidente". Não há estimativas sobre prejuízos, mas Brandão afirmou que o local terá de ficar interditado por 15 dias para reformas.
A invasão da Assembléia foi o desfecho de uma sessão em que aconteceu de tudo: deputado sofrendo infarto, troca de socos e pontapés, denúncia de sequestro de político e até senador saindo às pressas de Brasília para intervir na votação em Curitiba.
Quando a oposição já admitia a derrota, contabilizando 27 votos a favor do governo e 25 contra, veio a primeira surpresa da conturbada sessão. O deputado Chico Noroeste (PFL), do bloco governista, declarou que votaria contra a venda da Copel.
O alvo da oposição para virar o placar passou a ser então o deputado Luiz Fernandes Litro (PSDB), que foi imediatamente retirado do plenário por integrantes da bancada governista.
Oposicionistas classificaram o ato como "sequestro", pois não tinham acesso a Litro -ele ficou trancado com deputados governistas em uma sala por quase duas horas.
Em seguida, entrou em cena o senador Álvaro Dias (sem partido), que saiu de Brasília em vôo fretado e chegou a Curitiba de madrugada. Contrário à privatização, ele tentou em vão demover Litro da idéia de apoiar o governo.
O deputado não suportou a pressão, teve um princípio de infarto e foi internado em um hospital de Curitiba. Houve também troca de socos entre pelo menos sete parlamentares.



Texto Anterior: Lucro da Eletrobrás cresce 251%
Próximo Texto: Impasse deixa governo do PR em estado de alerta
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.