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São Paulo, sábado, 16 de agosto de 2003

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TENSÃO PRÉ-COPOM

A cinco dias de decidir os juros, Meirelles afirma que país busca expansão sustentada, e não uma "bolha artificial"

País cansou de arrancada e freada, diz BC

DA FOLHA ONLINE

A somente cinco dias da decisão sobre o rumo da taxa básica de juros, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse ontem que o governo está empenhado em buscar o crescimento sustentado do país, e não em "bolhas artificiais" de aquecimento econômico.
Ao participar de um almoço oferecido pela Adeval (Associação das Empresas Distribuidoras de Valores), em São Paulo, Meirelles disse: "O país parece cansado do padrão de arrancadas e freadas que tem caracterizado o desempenho econômico nas últimas décadas. Não é esse tipo de aquecimento que devemos buscar. Bolhas de crescimento são fáceis de inflar e difíceis de sustentar".
Na próxima quarta-feira, o Copom (Comitê de Política Monetária), após dois dias de reuniões, vai determinar o destino da taxa básica de juros (Selic). Atualmente, está em 24,5% ao ano -a perspectiva no mercado financeiro é que possa haver um corte entre 1,5 ponto e 2 pontos percentuais. Durante o primeiro semestre, a Selic chegou a 26,5%. Foi uma das armas encontradas pelo BC para conter a inflação em alta. O remédio deu resultado: os índices de preço têm apresentado variação negativa ou próxima de zero desde junho.
Mas a política econômica é apontada por especialistas como a principal causa do quadro recessivo que o país atravessa. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a indústria enfrentou "recessão técnica" no primeiro semestre. Após encolher no primeiro trimestre, a indicação é que tenha ocorrido o mesmo com o PIB (Produto Interno Bruto) no segundo trimestre. O desemprego aumentou e a renda caiu ao longo de 2003.
Para o presidente do BC, o país já tem hoje condições para a retomada do crescimento econômico. No entanto, disse ele, o ritmo da retomada não será acelerado.
"O nível de atividade é determinado pela estrutura de taxa de juros de médio prazo", disse.
Meirelles falou para uma platéia formada por presidentes de bancos e de indústrias. Disse que suas palavras não deveriam ser utilizadas como indicadores das futuras decisões do Copom.
No entanto sinalizou que o crescimento econômico sustentável tem um tempo de alcance mais longo do que a retomada da atividade. Na semana passada, o presidente do BC já indicara que a política da instituição é a do "gradualismo" e que o mercado financeiro não deveria acreditar em "quedas abruptas da taxa de juros".

Contraponto
O presidente da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), Gabriel Jorge Ferreira, disse que a Selic deverá fechar 2003 no patamar máximo de 21% ao ano.
Sem fazer projeções para a próxima reunião do Copom, Ferreira afirmou que há sinais de que haverá um novo corte de juros.
"Não sei fazer projeções. Mas em razão da trajetória muito clara de retração da inflação e da redução do compulsório há condições de uma nova redução [da Selic]", disse Ferreira.
Ele negou que os bancos lucrem mais num cenário de juros elevados. "Bancos operam com mais segurança num ambiente de taxas de juros baixas."
Grandes emprestadoras de dinheiro ao governo (via compra de títulos públicos), algumas das maiores instituições bancárias brasileiras registraram aumento do lucro no primeiro semestre, em um ambiente de juros altos. Itaú, Banco do Brasil, Banespa/ Santander e Bradesco tiveram lucro acima de R$ 1 bilhão.


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